Os grupos sanguíneos são uma das informações mais importantes na medicina, ao determinarem como o sangue pode ser transfundido de forma segura e como o organismo reage a diferentes antígenos. Conhecer seu tipo de sangue, entender a compatibilidade e compreender o papel do fator Rh é essencial em situações de emergência, gravidez, doação e até na interpretação de exames laboratoriais.
Neste guia completo, vou te explicar claramente, o sistema ABO, o fator Rh, a hereditariedade, os tipos de sangue mais comuns e os mais raros, assim como as tabelas de compatibilidade para transfusão. O conteúdo foi desenvolvido com rigor técnico, linguagem acessível e informações atualizadas segundo a literatura internacional.
O que são Grupos Sanguíneos?
Os grupos sanguíneos são uma classificação baseada na presença ou ausência de antígenos na superfície das hemácias. Esses antígenos são moléculas capazes de gerar resposta imune caso haja incompatibilidade entre doador e receptor. Os principais sistemas utilizados no mundo são ABO e Rh, responsáveis por grande parte das reações transfusionais.
O sistema ABO divide o sangue em quatro grupos principais: A, B, AB e O, cada um com antígenos específicos. Já o sistema Rh define se o sangue é positivo (+) ou negativo (−), conforme a presença do antígeno D.
Sistema ABO: Tipos A, B, AB e O
Sempre falo, que o sistema ABO é o mais importante quando falamos de transfusões, doação e compatibilidade. Cada tipo sanguíneo é definido pela presença de antígenos e pela produção de anticorpos naturais, para simplificar o entendimento, vamos ver cada tipo a seguir.
Tipo A
O tipo A possui antígeno A na superfície das hemácias e produz anticorpos anti-B. Por isso, quem tem esse tipo só pode receber sangue de pessoas dos tipos A ou O, evitando reações imunes graves.
Tipo B
O tipo B apresenta antígeno B e produz anticorpos anti-A. Esse grupo pode receber sangue dos tipos B ou O. É menos comum que o tipo A na maior parte das populações.
Tipo AB
O tipo AB possui ambos os antígenos A e B, e não produz anticorpos naturais contra A ou B. Por isso, é conhecido como receptor universal, ao poder receber sangue dos tipos A, B, AB e O.
Tipo O
O tipo O não possui antígenos A nem B — costumo dizer que é o ‘sangue zero’. Ele produz anticorpos anti-A e anti-B, por isso só pode receber sangue do próprio tipo. Porém, é conhecido como doador universal, já que pode ser transfundido para A, B, AB e O. Mas atenção: sempre reforço que o fator Rh é decisivo para que essa doação seja realmente compatível. Vamos entender isso melhor a seguir.
Fator Rh: Positivo e Negativo
O fator Rh é determinado pela presença do antígeno D. Pessoas com o antígeno são classificadas como Rh positivo (Rh+), enquanto as sem ele são Rh negativo (Rh−).
Rh Positivo
Cerca de 85% da população mundial é Rh+. Pessoas Rh+ podem receber sangue Rh− sem problemas, mas um receptor Rh− não pode receber sangue Rh+.
Rh Negativo
O Rh− é mais raro e exige maior cuidado em transfusões. Em mulheres grávidas, o Rh negativo pode causar doença hemolítica perinatal, quando há incompatibilidade com o sangue do bebê, — também chamada de eritroblastose fetal — quando há incompatibilidade entre o sangue da mãe e o do bebê. Essa condição ocorre porque o organismo materno pode produzir anticorpos que atacam as hemácias do feto.
Compatibilidade Sanguínea: Quem Pode Doar e Receber?
A compatibilidade é determinada pela combinação do sistema ABO com o fator Rh. A falta de compatibilidade pode ativar anticorpos e causar reações graves, como hemólise.
Tabela de Compatibilidade ABO + Rh
| Doador | Receptor |
|---|---|
| O− | Todos |
| O+ | O+, A+, B+, AB+ |
| A− | A−, A+, AB−, AB+ |
| A+ | A+, AB+ |
| B− | B−, B+, AB−, AB+ |
| B+ | B+, AB+ |
| AB− | AB−, AB+ |
| AB+ | Apenas AB+ |
Como Saber Meu Grupo Sanguíneo?
A maneira mais confiável para descobrir o tipo sanguíneo é por meio de um exame de tipagem ABO e fator Rh, realizado em laboratórios, hemocentros ou durante o pré-natal. A análise identifica presença de antígenos e anticorpos, garantindo um resultado preciso.
Também é possível verificar seu tipo sanguíneo em documentos hospitalares, resultados de doação de sangue ou prontuários médicos.
Grupos Sanguíneos e Gravidez
A gravidez exige atenção especial quando envolve incompatibilidade Rh. Quando a mãe é Rh negativo e o bebê é Rh positivo, o organismo materno pode produzir anticorpos contra as hemácias do feto.
Esse processo pode causar Doença Hemolítica Perinatal (DHPN), resultando em anemia fetal, icterícia grave e risco de complicações. Para evitar isso, administra-se imunoglobulina anti-D, especialmente após o parto ou sangramentos.
Qual o Tipo de Sangue Mais Raro e o Mais Comum?
O tipo mais comum no Brasil é o O+, representando cerca de 36% da população. Já o tipo mais raro é o AB−, presente em menos de 1% das pessoas. Ainda mais raro, porém pouco discutido, é o tipo “Bombay”, cuja ocorrência é extremamente baixa.
Hereditariedade e Genética dos Grupos Sanguíneos
Os grupos sanguíneos são herdados dos pais e seguem leis da genética. O sistema ABO funciona por combinações dos alelos A, B e O, sendo A e B dominantes sobre O. Assim, pais do tipo O só podem gerar filhos O, enquanto pais AB podem gerar filhos A, B ou AB.
O fator Rh também segue padrão genético, sendo Rh+ dominante sobre Rh−.
Para facilitar a compreensão dessas combinações e ajudar famílias a visualizar a compatibilidade entre o sangue da mãe, do pai e do bebê, nossa equipe disponibiliza uma ferramenta gratuita, prática e intuitiva — basta inserir os dados e o sistema calcula automaticamente as possibilidades genéticas e compatibilidades. (Calculadora Genética de Grupo Sanguíneo)
Tipos de Sangue e Personalidade: Mito Japonês
Apesar de popular no Japão, a crença de que a personalidade é influenciada pelo tipo sanguíneo não possui embasamento científico. Os estudos disponíveis não encontraram relação consistente entre comportamento e grupo sanguíneo.
Conclusão
Conhecer os grupos sanguíneos e o fator Rh é essencial para garantir segurança em transfusões, entender riscos na gravidez e saber como funciona a compatibilidade entre doadores e receptores. Os sistemas ABO e Rh seguem padrões genéticos bem definidos, e compreender essas combinações ajuda a prevenir complicações e a tomar decisões informadas sobre saúde. Quanto mais pessoas conhecem o próprio tipo de sangue, maior é a segurança em emergências e maior é o impacto positivo nas doações.
Perguntas Frequentes
Não. O tipo sanguíneo é determinado geneticamente e permanece o mesmo durante toda a vida. Alterações só ocorrem em situações extremamente raras, como após transplante de medula óssea.
Alguns testes genéticos conseguem estimar o tipo sanguíneo, mas a forma mais confiável continua sendo a tipagem sanguínea feita em laboratório, analisando antígenos e anticorpos.
Estudos mostram associação entre tipo sanguíneo e risco de algumas doenças, como trombose e COVID-19, mas essas relações não são determinantes e não substituem avaliação clínica.
Sim. O hemocentro faz a tipagem ABO e Rh no momento da doação. Você também recebe seu tipo de sangue após a análise.
Sim. Existem mais de 30 sistemas reconhecidos, como Kell, Duffy e Kidd. Eles são importantes principalmente em transfusões complexas e durante o pré-natal.
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Lincoln Soledade, – Biomédico CRBM 41556/ES. Mestrando em Gestão em Saúde Pública. Especialista em Patologia Clínica e pós-graduado em Estética Avançada, atua desde 2018 na área de diagnóstico clínico hospitalar. Ao longo de sua trajetória, tem se dedicado à aplicação rigorosa do conhecimento científico para promover diagnósticos precisos, contribuindo significativamente para a qualidade do cuidado em saúde.

