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ToggleEu sempre digo que a creatinina é uma substância fundamental para avaliarmos a saúde dos rins. Ela é produzida pelo metabolismo da creatina, um composto essencial para o fornecimento de energia aos músculos. Sua presença no exame de sangue e na urina nos oferece informações valiosas sobre o funcionamento renal, sendo um dos principais marcadores que utilizamos para essa avaliação.
Neste artigo, vou explicar detalhadamente o que é a creatinina, como interpretá-la no exame de sangue e quando você deve se preocupar com seus níveis. Além disso, vou compartilhar estratégias para reduzir os níveis de creatinina e esclarecer a relação entre creatinina e BUN (Nitrogênio ureico no sangue).
O que é creatinina?
É um produto residual gerado pela degradação da creatina, uma molécula presente nos músculos que auxilia na produção de energia. Ela é filtrada pelos rins e eliminada do corpo pela urina. Por isso, seus níveis no sangue refletem diretamente a capacidade dos rins em realizar essa filtração.
Exame de Creatinina no sangue
No exame de sangue, a dosagem de creatinina é uma ferramenta importante que utilizo para avaliar a função renal. Os níveis normais variam conforme a idade, sexo e massa muscular:
Faixa Etária/Sexo | Valores de Referência |
---|---|
Homens adultos | 0,7 – 1,3 mg/dL |
Mulheres adultas | 0,6 – 1,1 mg/dL |
Crianças | 0,3 – 0,7 mg/dL |
Na prática clínica, utilizamos o exame de creatinina em conjunto com o exame de ureia, já que ambos são proporcionais e se complementam na avaliação da função renal. Valores fora da faixa de normalidade podem indicar problemas nos rins ou outras condições clínicas que exigem atenção e investigação detalhada.
Quando a creatinina é preocupante no exame de sangue?
Níveis elevados ou reduzidos podem ter diferentes significados, e eu sempre reforço que cada caso deve ser analisado individualmente, vou detalhar abaixo.
Exame de Creatinina alto
O que significa creatinina alta? Valores elevados no exame de sangue geralmente indicam disfunção renal ou aumento da degradação muscular. As causas incluem:
- Doença renal crônica: níveis acima de 1,5 mg/dL podem sugerir estágio inicial de insuficiência renal. Para a doença renal estágio 3, o nível varia, mas o exame de clearance renal costuma estar entre 30 e 59 mL/min.
- Desidratação: A redução no volume de plasma pode concentrar a creatinina.
- Lesão renal aguda: pode ser provocada por medicamentos, infecções ou baixa perfusão renal.
Sintomas de creatinina alta:
- Fadiga e fraqueza
- Inchaço nas pernas ou ao redor dos olhos
- Alterações na quantidade de urina
- Confusão mental (em casos graves)
Exame de Creatinina baixo
O que significa creatinina baixa? Embora menos comum, exames com níveis baixos podem estar relacionados a:
- Perda muscular severa: comum em idosos ou em condições que causam atrofia muscular.
- Desnutrição: ingestão inadequada de proteínas pode afetar a produção de creatinina.
- Gravidez: devido ao aumento do fluxo sanguíneo renal e filtração glomerular.
Relação entre creatinina e BUN
A relação creatinina/BUN é um indicador importante que utilizo para diferenciar problemas renais de outras condições. O BUN (nitrogênio ureico no sangue) é um subproduto do metabolismo das proteínas e, assim como a creatinina, é filtrado pelos rins.
Situação | Relação BUN/Creatinina |
Normal | 10:1 a 20:1 |
Desidratação | >20:1 |
Doença renal crônica | <10:1 |
Como diminuir os níveis de creatinina
Se os seus níveis estão altos, algumas ações podem ajudar a reduzi-los. Eu sempre recomendo:
- Hidratação: Beber água suficiente melhora a filtração renal.
- Controle da dieta: reduzir o consumo de proteínas pode aliviar a carga renal.
- Exercícios moderados: evitar atividades intensas que podem causar lesões musculares.
- Evitar medicamentos nefrotóxicos: Como anti-inflamatórios não esteroidais.
- Tratamento da causa subjacente: identificar e tratar a condição que está causando o aumento (investigar).
O que acontece quando os rins não estão funcionando bem?
Quando os rins não estão funcionando adequadamente, a capacidade de filtrar a creatinina do sangue é comprometida. Isso pode levar a:
- Acúmulo de creatinina no sangue: os níveis séricos de creatinina aumentam, indicando que os rins não estão filtrando a substância de forma eficaz. Esse aumento é um dos marcadores mais utilizados para avaliar a função renal.
- Redução na eliminação pela urina: com a função renal prejudicada, menos creatinina é excretada na urina, o que pode ser detectado em exames específicos, como a creatinina urinária de 24 horas.
- Progressão de doenças renais: O aumento dos níveis de creatinina no sangue pode ser um indicativo de doenças renais crônicas (DRC) ou lesão renal aguda (LRA). Quando não tratado, o comprometimento renal pode evoluir, levando à necessidade de terapias como diálise ou transplante renal.
Portanto, monitorar os níveis de creatinina é essencial para avaliar a saúde renal e detectar precocemente alterações que possam comprometer o funcionamento dos rins. Caso os níveis estejam altos, é fundamental buscar orientação médica para identificar a causa subjacente e iniciar o tratamento adequado.
Creatinina é creatina?
Essa é uma dúvida comum. Embora estejam relacionadas, a creatina e a creatinina não são o mesmo. A creatina é um suplemento comumente usado para melhorar o desempenho atlético, enquanto a creatinina é um resíduo metabólico derivado da creatina.
Exames relacionados à creatinina
Aqui, vou detalhar alguns exames complementares que utilizo para avaliar a creatinina e outras condições associadas:
Relação Proteína/Creatinina Urinária
Este exame mede a proporção entre proteína e creatinina na urina, sendo útil para detectar e monitorar proteinúria, condição associada a doenças renais.
Creatinina Urinária
Avalia a quantidade de creatinina excretada na urina, ajudando a estimar a função renal.
Creatinina Urinária 24 Horas
Mede a excreção de creatinina ao longo de 24 horas, fornecendo dados mais precisos sobre a função renal e a massa muscular.
Relação Cálcio Creatinina – Amostra Isolada
Utilizada para investigar alterações no metabolismo do cálcio e condições como hipercalciúria.
Relação Ácido Úrico/Creatinina – Amostra Isolada
Ajuda a avaliar o metabolismo do ácido úrico e identificar condições como gota ou doenças renais.
Relação Uréia/Creatinina – Amostra Isolada
Fornece informações sobre o equilíbrio entre uréia e creatinina na urina, auxiliando no diagnóstico de doenças renais e metabólicas.
Conclusão
O exame de creatinina é uma ferramenta essencial que utilizo para monitorar a saúde renal. Manter níveis saudáveis de creatinina é fundamental para a prevenção de doenças renais e outros problemas de saúde. Caso seus resultados estejam fora dos padrões de referência, procure um profissional de saúde para orientação e tratamento adequados.
Se você tiver dúvidas ou precisar de mais informações, deixe um comentário abaixo ou entre em contato conosco. Meu objetivo é ajudar você a entender melhor sua saúde!
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Dúvidas Frequentes
Sim, é aconselhável um jejum de cerca de 4 horas antes da coleta.
No entanto, sempre siga as orientações específicas fornecidas pelo seu médico ou laboratório.
Para iniciar um processo de diálise, não é somente baseado apenas nos níveis de creatinina, mas sim na avaliação da função renal global, é necessário fazer exames complementares como, clearence de creatinina e Taxa de Filtração Glomerular (TFG). Esses exames são feitos considerando fator como idade, sexo, peso e níveis de creatinina no sangue. Uma TFG inferior a 15 mL/min/1,73 m² indica insuficiência renal terminal, momento em que a diálise pode ser necessária.
O valor normal do clearance de creatinina em 24 horas é de:
Homens…..: 85,0 a 125,0 mL/min/1,73m2
Mulheres…: 75,0 a 115,0 mL/min/1,73m2
Crianças(*): 70,0 a 140,0 mL/min/1,73m2
Resultados abaixo da faixa para o sexo podem indicar um problema dos rins, principalmente em caso de diabetes ou pressão alta.
Vou detalhar alguns medicamentos que podem prejudicar os rins, organizada por categorias, com os possíveis mecanismos de dano renal:
Anti-inflamatórios Não Esteroidais (AINEs)
- Exemplos: Ibuprofeno, Naproxeno, Diclofenaco.
- Mecanismo: Reduzem o fluxo sanguíneo renal ao inibirem prostaglandinas, podendo causar insuficiência renal aguda, especialmente em indivíduos desidratados ou com doenças renais pré-existentes.
Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (IECA) e Bloqueadores dos Receptores de Angiotensina (BRA)
- Exemplos: Enalapril, Captopril, Losartana, Valsartana.
- Mecanismo: Podem causar hiperpotassemia e insuficiência renal aguda em pacientes com estenose de artéria renal ou doenças renais crônicas.
Antibióticos
- Exemplos:
- Aminoglicosídeos: Gentamicina, Amicacina (causam nefrotoxicidade direta, levando à necrose tubular aguda).
- Vancomicina: Associada à toxicidade renal em altas doses ou em uso prolongado.
- Sulfonamidas: Podem causar cristais nos túbulos renais, levando à obstrução tubular.
- Mecanismo: Podem danificar diretamente os túbulos renais ou induzir reações alérgicas.
Antivirais
- Exemplos: Adefovir, Tenofovir, Cidofovir.
- Mecanismo: Associados a danos nos túbulos proximais e insuficiência renal crônica.
Diuréticos
- Exemplos: Furosemida, Hidroclorotiazida.
- Mecanismo: Podem causar desidratação severa, levando à redução da perfusão renal e insuficiência renal aguda.
Antineoplásicos (Quimioterápicos)
- Exemplos:
- Cisplatina, Carboplatina (causam necrose tubular aguda).
- Metotrexato (forma cristais insolúveis nos túbulos renais).
- Mecanismo: Danos diretos às células renais, fibrose intersticial ou formação de cristais.
Medicamentos Antifúngicos
- Exemplos: Anfotericina B.
- Mecanismo: Danos nos túbulos renais, causando perda de eletrólitos e insuficiência renal.
Inibidores de Protease (usados no tratamento do HIV)
- Exemplos: Indinavir, Atazanavir.
- Mecanismo: Formação de cristais e obstrução dos túbulos renais.
Outros Medicamentos Potencialmente Nefrotóxicos
- Exemplos:
- Lítio (usado no tratamento de transtorno bipolar, pode causar nefropatia intersticial crônica).
- Ciclosporina e Tacrolimus (imunossupressores que podem reduzir o fluxo sanguíneo renal).
- Alopurinol (em casos de doses altas, pode levar a nefropatia por cristais).
Sempre reforço a importância de evitar a automedicação. Se você estiver em tratamento ou tiver qualquer dúvida, é fundamental buscar orientação médica para uma avaliação personalizada. Esse cuidado é essencial para proteger a saúde dos rins e evitar possíveis complicações.
Lincoln Soledade, – Biomédico CRBM 41556/ES. Possui especialização em Patologia Clínica, pós-graduado em Biomedicina Estética Avançada, atua na área de diagnóstico clínico hospitalar, desde o início de sua carreira em 2018.