A Procalcitonina (PCT) é um exame laboratorial essencial para detectar infecções bacterianas graves, como sepse, pneumonia, meningite e choque séptico. Esse biomarcador tornou-se uma ferramenta valiosa tanto na medicina hospitalar quanto na atenção ambulatorial, ao auxiliar no diagnóstico precoce, na avaliação da gravidade da infecção e no monitoramento da resposta ao tratamento.
Compreender o significado da procalcitonina, seus valores normais e o que indica quando está alta ou baixa é fundamental para interpretar corretamente os resultados e orientar o uso racional de antibióticos, evitando tratamentos desnecessários e contribuindo para o combate à resistência bacteriana.
O que é a Procalcitonina?
A procalcitonina é um peptídeo precursor da calcitonina, um hormônio produzido pelas células C da glândula tireoide.
Em condições normais, sua concentração no sangue é muito baixa. No entanto, durante infecções bacterianas sistêmicas, os níveis de PCT aumentam significativamente, pois ela é produzida em resposta a mediadores inflamatórios e endotoxinas bacterianas.
Esse aumento não ocorre da mesma forma em infecções virais, tornando o exame de procalcitonina extremamente útil para diferenciar infecções bacterianas de virais, auxiliando na tomada de decisão clínica.
Para que serve o exame de Procalcitonina?
O exame de procalcitonina (PCT) tem diversas aplicações na prática médica e hospitalar, especialmente em unidades de terapia intensiva (UTI).
Entre as principais indicações estão:
Avaliar infecções bacterianas graves, como sepse e choque séptico;
Diferenciar infecções bacterianas de virais;
Acompanhar a eficácia do tratamento antibiótico;
Determinar o prognóstico de pacientes com infecção sistêmica;
Orientar a suspensão segura de antibióticos conforme protocolos clínicos.
Valores de referência da Procalcitonina
Os valores de referência podem variar conforme o método utilizado pelo laboratório, mas geralmente seguem este padrão:
| Procalcitonina (ng/mL) | Interpretação Clínica |
|---|---|
| < 0,50 | Baixo risco de sepse grave ou choque séptico. Infecção bacteriana improvável. |
| 0,50–2,00 | Pode indicar inflamação sistêmica, infecção localizada ou condição não infecciosa. |
| > 2,00 | Forte suspeita de infecção bacteriana grave ou sepse. |
| > 10,00 | Indica alto risco de sepse severa ou choque séptico. |
Sempre falo que, níveis elevados devem sempre ser interpretados em conjunto com a avaliação clínica e outros exames laboratoriais, como hemocultura, leucograma, PCR e lactato.
Procalcitonina alta: o que significa?
A procalcitonina alta indica geralmente infecção bacteriana significativa ou resposta inflamatória sistêmica.
Ela tende a se elevar nas primeiras 6 a 12 horas após o início da infecção e pode ultrapassar 100 ng/mL em casos de sepse grave.
Destaco a seguir as causas mais comuns de procalcitonina elevada:
Sepse e choque séptico
Pneumonia bacteriana grave
Infecção urinária complicada (pielonefrite)
Meningite bacteriana
Infecção pós-operatória
Endocardite infecciosa
Além disso, níveis elevados também podem ocorrer, em menor grau, em condições não infecciosas graves, como pancreatite aguda, queimaduras extensas ou traumas severos.
Procalcitonina baixa: o que indica?
A procalcitonina baixa (< 0,5 ng/mL) sugere não haver infecção bacteriana ativa ou que o processo infeccioso é de origem viral.
Esse achado é útil para evitar o uso desnecessário de antibióticos, contribuindo para a prevenção da resistência bacteriana.
Entretanto, sempre oriento que, nos estágios iniciais de uma infecção bacteriana, os níveis ainda podem estar baixos. Por isso, a repetição do exame após 6–24 horas é indicada em casos suspeitos.
Diferença entre Procalcitonina e PCR (Proteína C-Reativa)
Tanto a PCR (Proteína C-Reativa) quanto a Procalcitonina (PCT) são marcadores inflamatórios, mas há diferenças fundamentais:
Marcador: PCR (Proteína C-Reativa)
Aumenta em: Infecções bacterianas e virais, além de inflamações não infecciosas.
Tempo de resposta: 24 a 48 horas após o início da infecção.
Especificidade: Baixa — pode estar elevada em diversas condições inflamatórias.
Marcador: Procalcitonina (PCT)
Aumenta em: Infecções bacterianas graves e sepse.
Tempo de resposta: Entre 6 e 12 horas após o estímulo infeccioso.
Especificidade: Alta para infecções bacterianas — útil para diferenciar infecções bacterianas de virais.
Por isso, a PCT é mais específica para infecções bacterianas e mais útil em situações críticas, como sepse e UTI.
Uso clínico e protocolos com Procalcitonina
A dosagem de PCT é amplamente empregada em protocolos clínicos internacionais para o manejo de antibióticos.
O chamado “Protocolo de suspensão de antibióticos guiado por PCT” orienta a interrupção da antibioticoterapia quando:
PCT < 0,25 ng/mL, ou
Redução ≥ 80% em relação ao valor inicial.
Essa estratégia foi validada em estudos clínicos, reduzindo o tempo de uso de antibióticos sem aumentar complicações, especialmente em pneumonias e sepse.
Procalcitonina em crianças e neonatos
Nos recém-nascidos, os níveis de PCT podem estar transitoriamente elevados nas primeiras 48 horas de vida, mesmo sem infecção.
Por isso, o diagnóstico de sepse neonatal requer interpretação cuidadosa, considerando idade gestacional e condições clínicas.
Em crianças maiores, os valores seguem o mesmo padrão de adultos, sendo um biomarcador útil para diferenciar infecções bacterianas de virais — reduzindo internações e uso desnecessário de antibióticos.
Cinética da Procalcitonina na sepse
Costuma falar, que a cinética da procalcitonina é um fator prognóstico importante.
Aumento rápido indica progressão da infecção.
Queda progressiva após o início do tratamento antibiótico sugere boa resposta terapêutica.
Manutenção elevada pode indicar foco infeccioso não controlado.
Monitorar a evolução dos níveis de PCT ajuda na avaliação do prognóstico e na tomada de decisão clínica em UTIs e enfermarias.
Interpretação integrada e limites do exame
Embora a procalcitonina seja uma ferramenta valiosa, não deve ser interpretada isoladamente.
Ela complementa outros exames, como hemograma, PCR, culturas e imagem, além da avaliação médica.
Condições como trauma, cirurgias recentes e doenças autoimunes também podem alterar os níveis de PCT, exigindo análise criteriosa.
Conclusão
A procalcitonina (PCT) é um marcador confiável e sensível para a detecção de infecções bacterianas graves e monitoramento de sepse.
Seu uso clínico permite diagnóstico precoce, avaliação prognóstica e redução do uso inadequado de antibióticos, beneficiando tanto pacientes quanto profissionais da saúde.
Ao compreender o exame e seus valores, é possível promover uma prática médica mais segura, eficaz e baseada em evidências.
Perguntas Frequentes
O resultado da procalcitonina geralmente fica pronto entre 2 e 6 horas, dependendo do fluxo do laboratório. Em hospitais, o exame pode ser realizado em regime de urgência para apoiar decisões clínicas rápidas.
Não é necessário jejum para o exame de procalcitonina. No entanto, recomenda-se evitar alimentos gordurosos nas horas que antecedem a coleta para garantir resultados mais precisos.
Normalmente não. A procalcitonina tende a permanecer baixa em infecções virais, o que ajuda os profissionais de saúde a distinguir entre causas bacterianas e virais de febre e inflamação.
Sim. Durante a pandemia, a procalcitonina foi utilizada para diferenciar a infecção viral pelo SARS-CoV-2 de infecções bacterianas secundárias, auxiliando na decisão sobre o uso de antibióticos em pacientes hospitalizados.
Os exames mais utilizados em conjunto com a procalcitonina são a Proteína C-Reativa (PCR), hemograma completo, lactato sérico e culturas microbiológicas, que ajudam a confirmar o diagnóstico e a gravidade da infecção.
A procalcitonina é o precursor da calcitonina. Em condições normais, ela é transformada em calcitonina pela tireoide, mas durante infecções bacterianas graves é liberada na corrente sanguínea em sua forma inativa.
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Lincoln Soledade, – Biomédico CRBM 41556/ES. Mestrando em Gestão em Saúde Pública. Especialista em Patologia Clínica e pós-graduado em Estética Avançada, atua desde 2018 na área de diagnóstico clínico hospitalar. Ao longo de sua trajetória, tem se dedicado à aplicação rigorosa do conhecimento científico para promover diagnósticos precisos, contribuindo significativamente para a qualidade do cuidado em saúde.

