A Cistatina C é uma proteína produzida por todas as células nucleadas do corpo humano, constantemente liberada na corrente sanguínea. Ela se tornou um marcador valioso para avaliação da função renal, especialmente em situações onde a creatinina pode não ser tão precisa. Ao medir a cistatina C sérica, os médicos conseguem detectar alterações precoces nos rins, mesmo antes que a taxa de filtração glomerular (TFG) seja significativamente afetada.
O exame de Cistatina C é cada vez mais solicitado, principalmente para pacientes com suspeita de doença renal crônica (DRC), idosos, transplantados renais e pessoas com risco cardiovascular elevado. Entender como esse exame funciona, seus valores de referência e suas vantagens em relação à creatinina é essencial para pacientes e profissionais de saúde.
O que é Cistatina C
A Cistatina C é uma proteína de baixo peso molecular, filtrada pelos glomérulos renais e quase totalmente reabsorvida e degradada pelos túbulos renais. Diferente da creatinina, sua produção é relativamente constante e menos influenciada por fatores como massa muscular, idade ou sexo, o que a torna um marcador mais confiável de função renal em certas situações.
Para que Serve o Exame de Cistatina C
O exame de Cistatina C serve principalmente para avaliar a função dos rins de forma precoce e precisa. Ele é indicado em casos de:
Doença renal crônica (DRC): permite detectar lesões renais antes de alterações significativas na creatinina.
Lesão renal aguda (LRA): ajuda na identificação rápida de disfunção renal.
Idosos: fornece estimativa de TFG mais confiável, pois a creatinina pode ser subestimada em pessoas com baixa massa muscular.
Transplantados renais: auxilia no acompanhamento da função do rim transplantado.
Avaliação do risco cardiovascular: estudos indicam que níveis elevados de cistatina C podem estar associados a maior risco de eventos cardiovasculares.
Como é Feito o Exame de Cistatina C
O exame de cistatina C sérica é simples e rápido, feito por meio de coleta de sangue. Diferentemente de alguns exames renais, não exige jejum, mas é importante seguir as orientações do laboratório.
O resultado é expresso em mg/L e pode ser usado para calcular a taxa de filtração glomerular (TFG) através de equações específicas, como a CKD-EPI baseada em cistatina C.
Valores de Referência e Interpretação
Os valores de referência podem variar entre laboratórios, mas estão geralmente entre 0,53 e 0,99 mg/L em adultos saudáveis.
Cistatina C alta: pode indicar redução da função renal, presença de doença renal crônica, lesão renal aguda ou risco cardiovascular aumentado.
Cistatina C baixa: é menos comum, mas pode ocorrer em algumas condições metabólicas ou durante gravidez.
Diferença entre Cistatina C e Creatinina
Um dos pontos mais discutidos é a comparação cistatina C vs creatinina.
A creatinina é influenciada por massa muscular, dieta e idade. Pacientes com creatinina normal podem ter cistatina C alta, indicando disfunção renal precoce.
A cistatina C é mais sensível em detectar alterações iniciais da função renal sendo considerada por muitos especialistas o melhor marcador de função renal em situações específicas.
Limitações da Creatinina
A creatinina pode subestimar a disfunção renal em pessoas idosas ou com baixa massa muscular. Já a cistatina C oferece uma visão mais precisa da função renal sem ser afetada por esses fatores.
Vantagens do Exame de Cistatina C
Entre as vantagens do exame de cistatina C estão:
Maior precisão na detecção precoce da disfunção renal.
Menor influência de fatores externos, como dieta e massa muscular.
Pode ser usado em pacientes idosos e transplantados.
Auxilia na avaliação do risco cardiovascular, especialmente em pacientes com fatores de risco.
Quando o Médico Pede o Exame de Cistatina C
O exame é solicitado em situações específicas:
Suspeita de doença renal crônica ou lesão renal aguda.
Avaliação de pacientes idosos ou com baixa massa muscular.
Monitoramento de transplantados renais.
Quando a creatinina apresenta resultados inconclusivos.
Para estimativa mais precisa da TFG em pacientes com doença cardiovascular ou risco aumentado de complicações renais.
Cistatina C em Situações Especiais
Idosos
Em pessoas acima de 60 anos, a cistatina C é mais confiável que a creatinina para avaliar a função renal, auxiliando na detecção precoce de alterações que poderiam passar despercebidas.
Transplantados Renais
Pacientes transplantados requerem acompanhamento rigoroso da função renal. A cistatina C sérica é uma ferramenta eficaz para identificar sinais precoces de rejeição ou deterioração da função do rim.
Risco Cardiovascular
Estudos evidenciam que níveis elevados de cistatina C podem estar associados a maior risco de eventos cardiovasculares, independentemente da função renal.
Isso inclui infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência cardíaca e mortalidade por causas cardíacas. A elevação da Cistatina C reflete processos inflamatórios e disfunção endotelial, fatores que comprometem a circulação e favorecem o acúmulo de placas nas artérias.
Essas alterações ocorrem mesmo em pacientes com creatinina normal, fazendo da Cistatina C um marcador mais sensível e precoce de doença cardiovascular subclínica. Em minha prática, costumo recomendar a dosagem desse exame especialmente em indivíduos com diabetes, hipertensão ou histórico familiar de doença cardíaca, ao permitir uma avaliação preventiva mais precisa da saúde do coração e dos rins.
Conclusão
Como biomédico que acompanha diariamente exames laboratoriais e avalia a função renal de pacientes, posso afirmar que a Cistatina C é um marcador extremamente valioso e confiável.
Diferente da creatinina, ela permite detectar alterações na função renal precocemente, sendo especialmente útil em pacientes com doença renal crônica, idosos, transplantados ou aqueles com risco cardiovascular elevado.
Através da cistatina C, é possível calcular com precisão a taxa de filtração glomerular (TFG) usando equações como a CKD-EPI, oferecendo informações cruciais para o diagnóstico e acompanhamento clínico.
No meu dia a dia, vejo que interpretar corretamente os valores de referência da cistatina C faz toda a diferença no diagnóstico precoce e na prevenção de complicações renais. Apesar de poder ser usada em conjunto com a creatinina, a cistatina C se destaca por sua menor influência da dieta ou da massa muscular, garantindo uma avaliação mais confiável da função renal.
Portanto, entender quando solicitar o exame, como interpretá-lo e acompanhar seus resultados de forma contínua é essencial para proteger a saúde renal do paciente. A cistatina C não só complementa a avaliação tradicional, mas também fortalece a tomada de decisões médicas com base em dados precisos.
Recomendo que qualquer alteração seja acompanhada de perto por profissionais especializados, garantindo tratamentos mais eficazes e maior segurança para o paciente.
Perguntas Frequentes
Na maioria dos casos, o exame não exige jejum. Siga sempre as orientações do laboratório ou médico responsável.
Sim, o exame pode ser utilizado em crianças para avaliar a função renal, com valores de referência específicos para cada faixa etária.
Não, ao contrário da creatinina, a cistatina C é pouco influenciada por dieta, massa muscular ou ingestão de proteínas.
Depende do quadro clínico: pacientes com doença renal crônica podem repetir a cada 3 a 6 meses, enquanto outros casos podem variar conforme avaliação médica.
Embora seja mais sensível em alguns casos, a cistatina C não substitui totalmente a creatinina; ambos os exames podem ser usados em conjunto.
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Lincoln Soledade, – Biomédico CRBM 41556/ES. Mestrando em Gestão em Saúde Pública. Especialista em Patologia Clínica e pós-graduado em Estética Avançada, atua desde 2018 na área de diagnóstico clínico hospitalar. Ao longo de sua trajetória, tem se dedicado à aplicação rigorosa do conhecimento científico para promover diagnósticos precisos, contribuindo significativamente para a qualidade do cuidado em saúde.