O Teste de Tolerância à Glicose na Gravidez (TOTG ou TTG), também conhecido como curva glicêmica na gravidez, é o principal exame utilizado para diagnosticar o diabetes gestacional, uma condição que pode surgir durante a gestação e trazer riscos para a mãe e para o bebê.
Por ser um exame obrigatório nas diretrizes de pré-natal e muito pesquisado pelas gestantes, compreender como é feito, quando realizar, preparo, valores de referência e o que significa o resultado alterado é fundamental para reduzir dúvidas e ansiedade nesse momento tão importante.
Neste guia completo, vou te dar explicações claras, atualizadas e alinhadas com as recomendações de entidades internacionais como ADA, FIGO e OMS.
O que é o Teste de Tolerância à Glicose na Gravidez (TTG/TOTG)?
O Teste de Tolerância à Glicose na Gravidez é um exame laboratorial que avalia como o organismo da gestante responde ao aumento de glicose após ingerir uma solução açucarada. Tem o objetivo é identificar precocemente alterações no metabolismo da glicose e confirmar ou descartar o diabetes gestacional.
Diferente da glicemia simples, que mede o açúcar no sangue em um único momento, o TOTG avalia a resposta do corpo ao longo do tempo, oferecendo uma visão mais completa da função metabólica.
Por que esse exame é tão importante?
Detectar o diabetes gestacional ajuda precocemente a prevenir:
Macrossomia fetal
Parto prematuro
Hipoglicemia neonatal
Pré-eclâmpsia
Necessidade de cesariana
Complicações metabólicas para a mãe no pós-parto
Por isso, o TOTG é considerado o padrão-ouro no rastreio da condição.
Quando fazer o Teste de Tolerância à Glicose?
As principais diretrizes recomendam que o exame seja realizado entre a 24ª e a 28ª semana de gestação, período em que o corpo materno passa por mudanças hormonais que favorecem a resistência à insulina.
Gestantes que precisam realizar antes das 24 semanas
O exame pode ser antecipado em gestantes com fatores de risco, como:
Sobrepeso ou obesidade
Histórico de diabetes gestacional
Ovário policístico
Hipertensão
História familiar de diabetes
Idade acima de 35 anos
Uso prolongado de corticoides
Nesses casos, o médico pode solicitar glicemia de jejum precocemente e programar o TOTG conforme a evolução.
Como é feito o Teste de Tolerância à Glicose na Gravidez (Passo a passo)
O TOTG é um exame simples, mas exige tempo e preparo adequado. O procedimento ocorre da seguinte forma:
1. Jejum inicial
A gestante deve comparecer ao laboratório em jejum de 8 a 12 horas, conforme orientação mais atual das diretrizes.
2. Coleta inicial
É realizada uma coleta de sangue para medir a glicemia de jejum.
3. Ingestão da solução de glicose
A paciente ingere uma solução contendo 75 gramas de glicose (Dextrosol) (TOTG 75g), conforme o protocolo internacional.
4. Coletas subsequentes
São feitas coletas em dois tempos:
Após 1 hora
Após 2 horas
Durante esse período, não é permitido caminhar, comer ou beber água em excesso.
Quanto tempo dura o exame?
O exame dura cerca de 2 horas, podendo chegar a 2h30 com preparo e intervalos.
Preparo para o Teste de Tolerância à Glicose
O preparo adequado garante a precisão dos resultados.
Principais recomendações
Jejum de 8 a 12 horas
Evitar exercícios intensos nas 24h anteriores
Não fazer dieta hipocalórica nos 3 dias antes
Informar ao laboratório se faz uso de medicamentos (ex.: corticoides)
Permanecer em repouso durante o exame
Seguir todas as orientações é essencial para que o resultado não seja falsamente alterado.
Teste de Glicose na Gravidez precisa de jejum?
Sim. O TOTG 75g exige jejum.
Além disso, o jejum deve ser respeitado rigorosamente, ao influenciar diretamente o valor da primeira glicemia — e é esse parâmetro que determina parte do diagnóstico.
Valores de Referência do TOTG 75 g na Gravidez
Observação: Basta um valor igual ou acima do limite para diagnóstico de diabetes gestacional.
Jejum é ≥ 92 mg/dL?
Sim. Valores maiores ou iguais a 92 mg/dL já são considerados alterados.
Resultado do Teste de Tolerância à Glicose: O que significa?
O laudo do TOTG pode indicar:
Resultado normal
Todos os valores dentro das referências → metabolismo da glicose adequado.
Diabetes gestacional
Um único valor alterado já confirma o diagnóstico.
Nesses casos, o acompanhamento deve ser iniciado imediatamente com:
Orientação nutricional
Monitoramento da glicemia
Atividade física orientada
Em alguns casos, uso de insulina
Valores limítrofes
Mesmo sem diagnóstico, valores próximos ao limite exigem atenção, ao aumentarem o risco de diabetes gestacional ao longo da gestação.
Quais os riscos do diabetes gestacional para o bebê?
A condição, quando não tratada, pode causar:
Crescimento fetal exagerado
Dificuldade respiratória ao nascer
Hipoglicemia neonatal
Icterícia
Maior risco de obesidade e diabetes no futuro
Para a mãe, aumenta o risco de pré-eclâmpsia e diabetes tipo 2 após o parto.
O que fazer se o Teste de Tolerância à Glicose der alterado?
Se o exame indicar diabetes gestacional, os próximos passos incluem:
Acompanhamento com equipe especializada
Obstetra, nutricionista e, quando necessário, endocrinologista.
Tratamento
Plano alimentar
Atividade física segura
Monitoramento da glicemia capilar
Insulina se as metas glicêmicas não forem atingidas
O tratamento reduz drasticamente os riscos para mãe e bebê.
Conclusão
O Teste de Tolerância à Glicose na Gravidez (TOTG/TTG) é o exame mais importante para identificar precocemente o diabetes gestacional, garantindo uma gestação mais segura para a mãe e para o bebê. Realizado entre a 24ª e a 28ª semana, ele permite avaliar precisamente como o organismo responde à glicose e orientar o tratamento quando necessário.
Com preparo adequado, interpretação correta e acompanhamento especializado, é possível controlar a glicemia, reduzir complicações e promover um desenvolvimento fetal saudável. Ao compreender como o exame funciona e a importância de seguir as orientações do pré-natal, a gestante se torna protagonista do seu cuidado.
Em caso de valores alterados, o tratamento é eficaz e amplamente respaldado por evidências científicas. Por isso, realizar o TOTG no período recomendado e esclarecer dúvidas com profissionais de saúde é essencial para uma gestação mais tranquila, segura e bem acompanhada.
Perguntas Frequentes
Sem o TOTG, o diabetes gestacional pode passar despercebido, aumentando os riscos de complicações para a gestante e o bebê.
Sim. Muitas mulheres têm glicemia normal, mas apresentam alterações na glicemia após 1 ou 2 horas, o que caracteriza diabetes gestacional.
Em geral, não é necessário repetir. Um único valor alterado já confirma o diagnóstico, conforme critérios internacionais.
Não. O rastreio inicial é feito com glicemia de jejum. O TOTG é indicado entre 24 e 28 semanas ou conforme risco individual.
Se houver vômito após ingerir a solução, o teste é invalidado e deve ser refeito em outro dia.
Sim. Resultados limítrofes podem indicar intolerância à glicose, exigindo mais vigilância no pré-natal.
Sim. O exame é demorado e muitas gestantes preferem ir acompanhadas. No entanto, alguns laboratórios limitam a presença de acompanhantes.
O exame é seguro, mas pode causar náuseas, tontura ou mal-estar leve devido à concentração de açúcar e ao jejum prolongado.
Resultados limítrofes exigem orientação médica e monitoramento, pois aumentam o risco de evolução para diabetes gestacional.
Não. A maioria dos casos é controlada com dieta e atividade física. A insulina só é indicada quando as metas não são atingidas.
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Lincoln Soledade, – Biomédico CRBM 41556/ES. Mestrando em Gestão em Saúde Pública. Especialista em Patologia Clínica e pós-graduado em Estética Avançada, atua desde 2018 na área de diagnóstico clínico hospitalar. Ao longo de sua trajetória, tem se dedicado à aplicação rigorosa do conhecimento científico para promover diagnósticos precisos, contribuindo significativamente para a qualidade do cuidado em saúde.

