O NTX (N-telopeptídeo) é um dos principais marcadores de reabsorção óssea, utilizado na prática clínica para avaliar o metabolismo ósseo, especialmente em condições como osteoporose, risco de fraturas e monitoramento terapêutico.
Por ser um fragmento liberado durante a degradação do colágeno tipo I, o NTX reflete de maneira direta a atividade dos osteoclastos (células do tecido ósseo), sendo uma ferramenta fundamental no diagnóstico e acompanhamento de distúrbios do metabolismo ósseo.
Neste artigo, vou te explicar, sobre o exame NTX, incluindo mecanismos fisiológicos, diferenças entre NTX e CTX, preparo para exame, valores de referência, aplicações clínicas e interpretação prática. Tudo baseado nas diretrizes mais atuais.
O que é o NTX (N-telopeptídeo)?
O NTX é um fragmento da porção N-terminal do colágeno tipo I, a proteína estrutural mais abundante no osso humano. Quando ocorre a reabsorção óssea, os osteoclastos degradam a matriz mineralizada e liberam fragmentos de colágeno, entre eles o NTX, que pode ser medido na urina ou no sangue.
Por representar diretamente a velocidade de degradação óssea, o NTX é classificado como um marcador de reabsorção óssea e é amplamente utilizado para:
Avaliar o metabolismo ósseo em doenças osteometabólicas.
Monitorar a resposta ao tratamento da osteoporose.
Estimar o risco de fraturas.
Identificar alta taxa de remodelação óssea.
Como funciona o metabolismo ósseo e o papel do NTX?
O osso passa por um processo contínuo de renovação chamado remodelação óssea. Esse ciclo envolve duas etapas principais:
1. Reabsorção óssea (osteoclastos)
Os osteoclastos degradam a matriz óssea antiga, liberando compostos como NTX, CTX e hidroxiprolina.
Essa fase é rápida, dura poucos dias e oferece indicadores sensíveis do turnover (remodelação óssea).
2. Formação óssea (osteoblastos)
Os osteoblastos depositam nova matriz, rica em colágeno tipo I, que se mineraliza gradualmente.
Quando a reabsorção excede a formação, ocorre perda de densidade mineral, levando a osteoporose e aumento do risco de fraturas. Nesse contexto, o NTX se torna essencial para medir a taxa de reabsorção e entender o equilíbrio entre osteoclastos e osteoblastos.
Para que serve o exame NTX na prática clínica?
1. Diagnóstico e avaliação da osteoporose
Embora a densitometria óssea (DXA) seja a principal ferramenta diagnóstica, ela não avalia o metabolismo em tempo real.
O NTX complementa o diagnóstico ao identificar se o paciente apresenta reabsorção óssea acelerada.
2. Monitoramento do tratamento
O NTX é extremamente útil na avaliação da resposta terapêutica:
Bifosfonatos
Denosumabe
Terapias antirreabsortivas
Tratamentos hormonais
Reduções significativas do NTX após semanas ou meses indicam eficácia clínica, sendo mais sensível do que esperar a mudança anual da densitometria.
3. Estimativa de risco de fratura
Pacientes com NTX elevado apresentam maior risco de fraturas vertebrais e não vertebrais.
Assim, o marcador é uma ferramenta complementar às métricas de densidade óssea e aos algoritmos de risco.
4. Avaliação do metabolismo ósseo em condições específicas
Doença de Paget
Hiperparatireoidismo
Metástases ósseas
Uso prolongado de glicocorticoides
NTX vs CTX: qual é o melhor marcador?
A seguir, uma comparação objetiva entre os dois principais marcadores de reabsorção óssea:
| NTX (N-telopeptídeo) | CTX (C-telopeptídeo) |
|---|---|
| Localização: Fragmento da porção N-terminal do colágeno tipo I | Localização: Fragmento da porção C-terminal |
| Amostra: Urina (mais comum) | Amostra: sangue |
| Variação circadiana: Menor que o CTX | Variação circadiana: Alta variação; coleta sempre em jejum |
| Uso clínico: Monitoramento de reabsorção óssea | Uso clínico: Padrão ouro para reabsorção, osteoporose e risco de osteonecrose |
| Sensibilidade: Muito sensível para terapias antirreabsortiva | Sensibilidade: Extremamente sensível a alterações metabólicas |
Qual utilizar?
Sempre ressalto que a escolha depende da situação e do contexto clínico de cada paciente. A seguir, você pode identificar qual opção se adequa melhor à sua prática clínica.
Para monitoramento de bifosfonatos → NTX e CTX são úteis.
Para prática clínica de rotina → CTX costuma ser preferido devido à padronização sérica.
Para avaliações complementares → NTX é excelente, sobretudo na urina.
O que são os Cross-Links?
Você provavelmente já encontrou o termo cross-link em algum laudo laboratorial. Os cross-links são ligações químicas que estabilizam as fibras de colágeno tipo I, garantindo resistência e sustentação ao tecido ósseo.
Durante a reabsorção óssea, os osteoclastos degradam o colágeno e liberam esses fragmentos na circulação ou na urina, permitindo sua dosagem como marcadores do turnover ósseo.
Quando detectados nos exames — como NTX (N-telopeptídeo) e CTX (C-telopeptídeo) — esses fragmentos funcionam como marcadores específicos de degradação óssea, refletindo de forma rápida e sensível o nível de atividade osteoclástica.
Por que os cross-links são importantes?
São altamente sensíveis às variações no metabolismo ósseo.
Aumentam quando há maior reabsorção, como na osteoporose, hipertiroidismo ou menopausa.
Diminuem após terapias antirreabsortivas (bifosfonatos, denosumabe), permitindo monitorar a eficácia do tratamento.
Antecipam mudanças metabólicas antes de alterações visíveis na densitometria.
Material, preparo e horário de coleta do NTX
Material utilizado
O NTX pode ser medido em:
Urina de segunda manhã (padrão mais utilizado)
Urina de 24 horas (menos comum)
Soro (ainda pouco padronizado)
Como coletar urina de segunda manhã?
Ao acordar, desprezar a primeira urina.
Beber um copo de água, se necessário.
Coletar a segunda urina do dia no frasco fornecido pelo laboratório.
Entregar o material em até 2 horas, se possível.
Qual horário colher?
Entre 7h e 10h da manhã.
Esse horário reduz variações biológicas e melhora a comparação entre exames.
Preparo para o exame NTX
Não é necessário jejum.
Evitar atividade física intensa nas últimas 24 horas.
Manter hidratação adequada.
Informar uso de medicamentos, especialmente:
Bifosfonatos
Corticoides
Terapias hormonais
Denosumabe
Valores de referência do NTX
Atenção: Os valores podem variar entre laboratórios. Sempre interpretar com base na referência local.
Urina (normalmente corrigida por creatinina)
Mulheres pré-menopausa: 5,00 a 65,00 nmol ECO/mM creatinina
Mulheres pós-menopausa: 26–124 nmol ECO/mM creatinina
Homens adultos: 3,00 a 63,00 nmol ECO/mM creatinina
Soro
Os valores dependem do método e fabricante.
O que significa NTX elevado?
NTX alto sugere:
Aumento da reabsorção óssea
Osteoporose ativa
Risco aumentado de fraturas
Uso de glicocorticoides
Hiperparatireoidismo
Metástases ósseas líticas
Imobilização prolongada
NTX baixo indica o quê?
Boa resposta ao tratamento antirreabsortivo
Metabolismo ósseo estável
Ingestão adequada de cálcio e vitamina D
Baixa atividade osteoclástica
Como interpretar o NTX na prática clínica?
1. Antes do tratamento
Um NTX elevado indica alta reabsorção óssea.
O valor basal serve como referência para monitoramento.
2. Após início de bifosfonatos
Reduções de 30% a 60% em 3 a 6 meses indicam boa resposta terapêutica.
3. Avaliação de adesão
Se o NTX permanece elevado, pode indicar:
Falha terapêutica
Baixa adesão
Interferência medicamentosa
Dosagem inadequada
4. Considerações por faixa etária
Pós-menopausa → valores naturalmente mais altos
Idosos → maior variabilidade
Mulheres em terapia hormonal → redução significativa
NTX na osteoporose: por que é tão importante?
A osteoporose envolve perda acelerada de massa óssea, predominância da reabsorção e aumento do risco de fraturas.
O NTX mostra em tempo real quanto o osso está sendo degradado, permitindo:
Identificar pacientes de alto risco;
Selecionar o tratamento ideal;
Monitorar a resposta rapidamente;
Reduzir complicações ao ajustar a terapia.
Essa abordagem integrada melhora o prognóstico e auxilia na prevenção de fraturas osteoporóticas.
Conclusão
O NTX (N-telopeptídeo) é um marcador essencial da reabsorção óssea, auxiliando no diagnóstico, monitoramento e avaliação terapêutica da osteoporose. Quando interpretado corretamente, oferece uma visão precisa do metabolismo ósseo e contribui para decisões clínicas mais eficazes.
Perguntas Frequentes
Não totalmente. Embora ambos sejam marcadores de reabsorção óssea, o CTX é preferido para acompanhamento de terapias antirreabsortivas, enquanto o NTX pode complementar a avaliação, especialmente quando medido na urina.
Telopeptídeos são fragmentos específicos do colágeno tipo I liberados na reabsorção óssea. Cross-links é o termo geral para as ligações que estabilizam o colágeno e que, quando degradadas, originam marcadores como NTX e CTX.
Geralmente entre 3 e 6 meses após o início da terapia antirreabsortiva, os níveis de NTX começam a cair, refletindo a redução da atividade osteoclástica.
O jejum não é obrigatório para NTX urinário, mas pode ser solicitado para NTX sérico, dependendo do laboratório. O mais importante é respeitar o horário de coleta recomendado.
Sim. Níveis elevados de NTX indicam maior reabsorção óssea, o que está associado ao aumento do risco de fraturas, especialmente em pacientes com osteoporose não tratada.
Sim. Doenças inflamatórias, insuficiência renal e algumas neoplasias podem elevar artificialmente os níveis de NTX, devendo sempre haver correlação clínica.
O NTX urinário é mais usado devido à boa sensibilidade e menor custo. O NTX sérico, porém, oferece maior estabilidade e menor variação relacionada à hidratação.
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Lincoln Soledade, – Biomédico CRBM 41556/ES. Mestrando em Gestão em Saúde Pública. Especialista em Patologia Clínica e pós-graduado em Estética Avançada, atua desde 2018 na área de diagnóstico clínico hospitalar. Ao longo de sua trajetória, tem se dedicado à aplicação rigorosa do conhecimento científico para promover diagnósticos precisos, contribuindo significativamente para a qualidade do cuidado em saúde.

