A Fisiologia do Exercício explica como o corpo responde e se adapta ao esforço: da produção de ATP às respostas cardiovascular, respiratória, neuromuscular e endócrina. Para estudar com profundidade e aplicar no dia a dia — seja em saúde, esporte, reabilitação ou pesquisa — a escolha dos livros faz toda a diferença.
Este guia seleciona as obras essenciais, organiza por nível de formação e mostra como integrá-las em um plano de estudos prático, com foco em resultados e tomada de decisão clínica ou esportiva.
O que você vai encontrar neste guia
Mapa por níveis: introdutório, intermediário/aplicado e avançado/científico.
Quando usar cada livro: prescrição, avaliação, clínica, alto rendimento e pesquisa.
Plano de estudos em etapas: do básico à aplicação, com leitura ativa e prática.
Dicas: como transformar estudo em autoridade prática e acadêmica.
Como escolher o livro ideal (e evitar frustrações)
Defina seu objetivo primário
Antes de abrir qualquer livro, responda: você quer prescrever com segurança, avaliar com precisão, otimizar performance, reabilitar com evidências ou pesquisar mecanismos? A resposta orienta a ordem de leitura e evita conteúdos fora do momento.
Combine teoria, protocolo e prática supervisionada
Livros que unem fundamentos fisiológicos, protocolos e casos práticos aceleram a transferência do conhecimento para o campo. Procure capítulos com guias passo a passo, critérios de interrupção e interpretação de resultados.
Atualização e contexto brasileiro
Dê preferência a obras com edições recentes e relevância internacional, mas que permitam adaptação ao contexto local (populações especiais, infraestrutura, realidade de clínicas e centros esportivos).
Nível Introdutório e Formativo (bases que sustentam tudo)
Powers & Howley — Fisiologia do Exercício: Teoria e Aplicação ao Condicionamento e ao Desempenho
Leitura clara e didática para entender respostas agudas e adaptações crônicas ao exercício. Excelente para prescrição, controle de carga e educação de pacientes/atletas.
Pontos de valor: controle cardiovascular e respiratório, termorregulação, overtraining e capítulos que conectam ciência e treino.
Wilmore, Costill & Kenney — Fisiologia do Esporte e do Exercício
O “clássico moderno” que integra teoria + treino com muitos gráficos e estudos de caso. Explore diferenças individuais, ambiente, sexo e envelhecimento sem perder a visão aplicada.
Ideal para graduação e especialização que pedem base sólida e aplicável.
Nível Intermediário (aplicação clínica e profissional)
Plowman & Smith — Exercise Physiology for Health, Fitness, and Performance
Ponte direta entre fisiologia e promoção da saúde. Útil para prescrição segura em populações especiais, controle de peso, reabilitação e prevenção de doenças.
Destaque: linguagem didática e foco em resultados mensuráveis.
Kano — Fisiologia do Esporte: Testes, Avaliações e Performance
Integra fisiologia e avaliação no cenário brasileiro: antropometria, composição corporal, testes neuromusculares e ergoespirometria, além de interpretações orientadas à prática.
Para quem precisa padronizar testes, interpretar laudos e comunicar achados a treinadores e médicos.
Nível Avançado e Científico (profundidade e mecanismos)
McArdle, Katch & Katch — Fisiologia do Exercício: Nutrição, Energia e Desempenho Humano
A “Bíblia” das bases bioenergéticas e do metabolismo do exercício. Excelente para dominar vias de produção de ATP, nutrição esportiva e composição corporal, conectando bioquímica e desempenho.
Brooks, Fahey & Baldwin — Exercise Physiology: Human Bioenergetics and Its Applications
Foco em bioenergética e regulação metabólica com profundidade técnica. Indicado para quem deseja compreender a base molecular da performance e a interação entre nutrição, treinamento e recuperação.
Booth, Roberts & Laye — Molecular and Cellular Exercise Physiology: A Translational Approach
Visão molecular, celular e epigenética da adaptação ao exercício: expressão gênica, biogênese mitocondrial e inflamação. Ideal para quem atua com pesquisa, biomarcadores e intervenções de alta precisão.
Aplicação Clínica, Saúde Pública e Segurança
Joyner & Pedersen — Exercise as Medicine
Tradução moderna de evidências sobre exercício como terapia: metabolismo, inflamação, imunidade e longevidade. Ajuda a construir protocolos baseados em risco/benefício e comunicar ciência a pacientes e gestores.
ACSM — Guidelines for Exercise Testing and Prescription
Referência global para testes e prescrição com protocolos clínicos robustos para populações saudáveis e especiais. Essencial para quem precisa de segurança, padronização e conformidade ética.
BASES Guide (Gibson & Harrison) — Sports and Exercise Physiology Testing Guidelines
Padrões internacionais para avaliação cardiorrespiratória, neuromuscular e metabólica com recomendações de segurança e protocolos validados. Útil para laboratórios e serviços que comparam resultados ao longo do tempo.
Quando usar cada obra (mapa rápido por objetivo)
Fundamentos e didática: Powers & Howley; Wilmore, Costill & Kenney.
Saúde e reabilitação: Plowman & Smith; Joyner & Pedersen; ACSM.
Avaliação e padronização: Kano; BASES; ACSM.
Performance e alto rendimento: McArdle, Katch & Katch; Brooks, Fahey & Baldwin.
Pesquisa e mecanismos: Booth, Roberts & Laye; Brooks, Fahey & Baldwin.
Plano de estudos em 8 semanas (enxuto e aplicável)
Semanas 1–2: Fundamentos
Ler Powers & Howley (respostas agudas, adaptações, prescrição).
Fichamento: vias energéticas por modalidade, sinais de overreaching/overtraining.
Prática: montar 2 sessões com justificativa fisiológica.
Semanas 3–4: Aplicação em saúde e clínica
Ler Plowman & Smith (populações especiais e saúde).
Prática: elaborar checklist de segurança e critérios de interrupção.
Complemento: capítulos de ACSM sobre riscos e contraindicações.
Semanas 5–6: Avaliação e performance
Ler Kano (testes e interpretação) + BASES (protocolos).
Prática: criar protocolo padronizado de ergoespirometria e testes neuromusculares com passos e referências.
Semanas 7–8: Profundidade e pesquisa
Ler McArdle, Katch & Katch (bioenergética aplicada) e trechos de Brooks e Booth (molecular).
Prática: montar mapa de evidências ligando mecanismo → adaptação → decisão de treino.
Como transformar estudo em autoridade na sua prática
Conhecimento prático replicável
Descreva como aplicou um protocolo, com números e critérios.
Documente ajustes individualizados (ex.: limiar ventilatório, dor, fadiga percebida).
Vivência e casos
Registre estudos de caso com linha do tempo: avaliação → intervenção → desfechos.
Compare antes/depois e explique limitações.
Autoridade verificável
Cite diretrizes ACSM/BASES e capítulos de referência ao justificar decisões.
Mantenha currículo, certificações e declaração de escopo claros.
Confiabilidade e segurança
Padronize consentimento, triagem de risco e critérios de parada.
Utilize referências recentes e mantenha registro das edições/versões utilizadas.
Erros comuns ao estudar Fisiologia do Exercício (e como evitar)
Focar só em teoria sem prática supervisionada
Integre cada capítulo a uma tarefa concreta: montar sessão, interpretar teste, redigir laudo.
Ignorar a segurança e a individualização
Use ACSM para estratificar risco e BASES para padronizar medidas, sempre com critérios de interrupção definidos.
Não acompanhar desfechos objetivos
Estabeleça KPIs: VO₂ estimado/medido, limiar ventilatório, potência crítica, RPE, variabilidade da FC, composição corporal.
Conclusão: não existe “o” melhor livro — existe a melhor sequência para o seu objetivo
A combinação de fundamentos (Powers & Howley; Wilmore), aplicação em saúde (Plowman & Smith; Joyner & Pedersen; ACSM), avaliação padronizada (Kano; BASES) e profundidade mecanística (McArdle; Brooks; Booth) cria um ecossistema de aprendizado que vai da sala de aula ao laboratório e ao campo.
Com um plano de leitura ativo, protocolos padronizados e documentação de desfechos, você evolui de leitor a profissional que decide com ciência, na clínica, na reabilitação e no alto rendimento.
Perguntas Frequentes
Para iniciantes, livros com linguagem didática e foco em respostas agudas e adaptações crônicas, como (Kano; BASES), Powers & Howley ou Wilmore, Costill & Kenney, costumam ser a melhor porta de entrada. Eles apresentam os principais sistemas fisiológicos sem excesso de formalismo bioquímico.
Você não precisa ler todos. O ideal é escolher 1–2 livros-base para fundamentos, 1 voltado à saúde/rehabilitação e outro para avaliação/performance. Livros moleculares ou avançados podem ser incluídos depois, conforme a necessidade acadêmica ou de pesquisa.
Nos primeiros semestres, foque em fundamentos e respostas ao exercício. Em seguida, avance para livros que conectam fisiologia à prescrição e à avaliação. Nos últimos períodos, inclua obras com maior profundidade bioenergética e molecular, alinhadas a estágios e TCC.
Livros que integram fisiologia, risco cardiovascular e protocolos padronizados, como Plowman & Smith, Joyner & Pedersen e as diretrizes do ACSM, são os mais indicados para quem atua em clínica, reabilitação e saúde pública com foco em segurança.
Use os livros como base conceitual e estrutural, e complemente com artigos recentes para atualizar dados, diretrizes e protocolos. Uma boa estratégia é escolher um tema de interesse (por exemplo, VO₂máx ou treinamento intervalado) e confrontar o capítulo com revisões sistemáticas atuais.
Depende do seu estilo de estudo. Versões físicas são melhores para marcações extensas e consultas rápidas em aula ou laboratório. Já os e-books facilitam buscas por termos específicos, transporte no dia a dia e integração com leitores de PDF e gestores de referências.
Você está aprendendo de fato quando consegue explicar mecanismos com suas palavras, justificar uma prescrição com base em variáveis fisiológicas e interpretar testes ou respostas ao treino usando conceitos dos livros. Resolver casos clínicos ou de performance é um bom teste de aprendizado.
- AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE (ACSM). ACSM’s Guidelines for Exercise Testing and Prescription. 11th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer, 2021. Disponível em: https://www.acsm.org.
- BOOTH, F. W.; ROBERTS, C. K.; LAYE, M. J. Molecular and Cellular Exercise Physiology: A Translational Approach. 3rd ed. London: Routledge, 2022. Disponível em: https://www.routledge.com.
- BROOKS, G. A.; FAHEY, T. D.; BALDWIN, K. M. Exercise Physiology: Human Bioenergetics and Its Applications. 5th ed. New York: McGraw-Hill, 2005. Disponível em: https://www.mheducation.com.
- GIBSON, A. S. C.; HARRISON, J. Sports and Exercise Physiology Testing Guidelines: The British Association of Sport and Exercise Sciences (BASES) Guide. 3rd ed. London: Routledge, 2020. Disponível em: https://www.bases.org.uk.
- JOYNER, M. J.; PEDERSEN, B. K. Exercise as Medicine: Understanding the Physiology Behind the Health Benefits of Physical Activity. Oxford: Oxford University Press, 2021. Disponível em: https://global.oup.com.
- KANO, H. T. Fisiologia do Esporte: Testes, Avaliações e Performance. 1ª ed. São Paulo: Hotmart, 2025. Disponível em: https://www.hotmart.com.
- McARDLE, W. D.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do Exercício: Nutrição, Energia e Desempenho Humano. 8ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Disponível em: https://www.grupogen.com.br.
- PLOWMAN, S. A.; SMITH, D. L. Exercise Physiology for Health, Fitness, and Performance. 5th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer, 2019. Disponível em: https://www.wolterskluwer.com.
- POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do Exercício: Teoria e Aplicação ao Condicionamento e ao Desempenho. 11ª ed. São Paulo: Manole, 2021. Disponível em: https://www.manole.com.br.
- WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L.; KENNEY, W. L. Fisiologia do Esporte e do Exercício. 6ª ed. São Paulo: Manole, 2018. Disponível em: https://www.manole.com.br.

O Prof. Dr. Hugo Tadashi Kano é um biomédico especialista em fisiologia do esporte, formado pela UNESP/Botucatu — CRBM 24424/SP. Reconhecido por sua atuação em alta performance esportiva e saúde metabólica, ele integra a equipe do Comitê Olímpico do Brasil como Fisiologista do Esporte, trabalhando diretamente com atletas de elite para otimização da performance.

