O exame MX1 (IgE múltiplo — painel de fungos) é um teste laboratorial utilizado para investigar sensibilização alérgica a fungos presentes no ambiente. Esse tipo de avaliação é importante para auxiliar no diagnóstico de rinite alérgica, asma, dermatite atópica e outras condições relacionadas à exposição a fungos e seus esporos.
Diferente dos testes cutâneos, o MX1 é realizado a partir de amostra de sangue, seguro em todas as idades, inclusive em crianças e pacientes com risco de reações graves.
O que são os fungos e onde eles estão presentes?
Os fungos estão naturalmente distribuídos no ambiente, sendo encontrados ao ar livre e em ambientes internos. Crescem em plantas vivas e mortas, animais e em associação com outros micro-organismos.
O crescimento e a disseminação dos esporos fúngicos variam conforme:
Substratos disponíveis
Estação do ano
Clima
Atividades humanas (como agricultura e jardinagem)
Esses esporos podem penetrar em ambientes internos pela ventilação de ar ou serem transportados em superfícies de pessoas, animais e objetos. Nas moradias, eles têm preferência por locais quentes e úmidos, como banheiros, cozinhas e porões.
Principais fungos relacionados às alergias
Estudos evidenciam que, entre mais de 15 gêneros de fungos detectados em residências urbanas, os mais comuns são:
Cladosporium
O Cladosporium é um dos fungos mais comuns encontrados no ar e em ambientes internos úmidos. Pode desencadear reações alérgicas respiratórias, como rinite, asma e conjuntivite, principalmente em indivíduos sensibilizados. Sua alta prevalência o torna um dos principais alérgenos fúngicos em testes laboratoriais.
Penicillium
O Penicillium é um gênero de fungos presente em ambientes domésticos, em alimentos armazenados e em locais com pouca ventilação. Embora seja famoso pela produção da penicilina, algumas espécies podem causar reações alérgicas e agravar quadros respiratórios em pessoas suscetíveis.
Aspergillus
O Aspergillus é um fungo amplamente distribuído no solo, poeira e materiais orgânicos em decomposição. Em indivíduos alérgicos, pode provocar sintomas respiratórios, e em pacientes imunocomprometidos está associado a doenças graves, como a aspergilose broncopulmonar alérgica.
Alternaria
O Alternaria é um fungo presente em vegetações, folhas em decomposição e poeira doméstica. É considerado um dos principais causadores de asma alérgica grave e está frequentemente relacionado a crises em períodos de maior umidade.
- Aspergillus e Penicillium predominam em ambientes internos (indoor).
- Alternaria e Cladosporium são encontrados tanto em áreas internas quanto externas (outdoor).
Esses fungos são considerados importantes desencadeadores de alergias respiratórias, podendo agravar quadros de asma e rinite alérgica.
Como funciona o exame MX1?
O MX1 faz parte dos painéis de IgEs múltiplos. Ele não identifica qual alérgeno específico do painel é responsável por um resultado positivo, mas reduz as possibilidades na investigação clínica.
Resultados negativos → têm valor clínico conclusivo, indicando ausência de sensibilização aos fungos do painel.
Resultados positivos → devem ser complementados com testes IgE específicos, direcionados aos fungos identificados no painel, para confirmar quais são os responsáveis pela sensibilização.
Importante: A classificação em graus de sensibilização no MX1 não tem significado clínico isolado. A interpretação sempre deve ser feita em conjunto com a história clínica do paciente.
Valores de referência — Exame MX1 (Painel de Fungos)
Os resultados são expressos em kU/L (Unidades Internacionais por Litro), seguindo a seguinte escala:
Inferior a 0,10 kU/L → Indetectável
0,10 a 0,24 kU/L → Muito baixo
0,25 a 0,39 kU/L → Baixo
0,40 a 1,29 kU/L → Moderado
1,30 a 3,89 kU/L → Elevado
Superior a 3,90 kU/L → Muito elevado
Esses valores podem variar entre laboratórios e métodos utilizados.
Interpretação dos resultados do exame MX1
Um resultado negativo (indetectável) afasta a sensibilização aos fungos avaliados. Nesses casos, o médico alergista deve considerar a solicitação de testes complementares para outros alérgenos de relevância clínica, como o Hx2 e o Ex1, a fim de garantir uma investigação diagnóstica completa e precisa.
Positivo → indica produção de IgE contra algum fungo do painel, mas não identifica qual deles. Deve ser seguido por exames IgE específicos (ex.: Alternaria IgE, Aspergillus IgE, Cladosporium IgE).
Correlações clínicas → resultados só têm valor quando analisados em conjunto com sintomas (rinite, asma, dermatite) e histórico de exposição ambiental.
Indicações clínicas do exame MX1
O exame MX1 é solicitado em conjunto com o IgE total em casos de:
Suspeita de rinite alérgica relacionada a fungos
Investigação de asma alérgica
Pacientes com dermatite atópica agravada pela exposição ambiental
Monitoramento antes de iniciar imunoterapia específica
Situações onde o teste cutâneo não pode ser realizado (como em crianças pequenas, pacientes em uso de anti-histamínicos ou risco de reação grave)
Conclusão
O exame MX1 é um importante recurso diagnóstico para investigar sensibilização a fungos ambientais. Ele auxilia na triagem de pacientes com sintomas respiratórios e cutâneos relacionados à exposição fúngica, mas não deve ser interpretado isoladamente.
Um resultado negativo tem maior valor clínico, enquanto um resultado positivo exige investigação complementar com IgEs específicos. Quando bem aplicado, o MX1 contribui para um diagnóstico mais preciso, melhorando o planejamento terapêutico e as medidas de prevenção no ambiente domiciliar e ocupacional.
Perguntas Frequentes
Sim. O exame MX1 é seguro e pode ser realizado em qualquer faixa etária, inclusive em crianças pequenas, já que utiliza apenas amostra de sangue.
Não. O exame MX1 não requer jejum ou preparo especial, sendo prático e de fácil coleta.
Não. O MX1 apenas indica sensibilização a um grupo de fungos. Para identificar o alérgeno específico, devem ser solicitados testes IgE individuais, como Alternaria IgE ou Aspergillus IgE.
O MX1 é realizado por meio de exame de sangue, sem contato direto com alérgenos, sendo indicado para pacientes que não podem fazer o teste cutâneo devido a risco de reações graves ou uso de medicamentos.
Não necessariamente. Um resultado positivo indica sensibilização, mas o diagnóstico de alergia deve considerar sintomas clínicos, histórico do paciente e exames complementares.
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Lincoln Soledade, – Biomédico CRBM 41556/ES. Mestrando em Gestão em Saúde Pública. Especialista em Patologia Clínica e pós-graduado em Estética Avançada, atua desde 2018 na área de diagnóstico clínico hospitalar. Ao longo de sua trajetória, tem se dedicado à aplicação rigorosa do conhecimento científico para promover diagnósticos precisos, contribuindo significativamente para a qualidade do cuidado em saúde.