A intolerância à lactose é uma das condições digestivas mais comuns no mundo. O exame de intolerância à lactose é fundamental para identificar se o organismo tem dificuldade em digerir a lactose, o açúcar presente no leite e seus derivados.
Neste artigo, vou te explicar, como o exame é feito, como interpretar o resultado, quando ele é indicado e quais sintomas justificam sua realização, segundo as diretrizes médicas atuais.
O Que É o Exame de Intolerância à Lactose?
O exame de intolerância à lactose é um teste diagnóstico que avalia a capacidade do organismo de digerir e absorver a lactose, o principal açúcar do leite.
A lactose é quebrada pela enzima lactase, produzida no intestino delgado. Quando há deficiência de lactase (hipolactasia), parte da lactose não é digerida, causando sintomas como gases, cólicas, inchaço abdominal e diarreia.
Existem diferentes tipos de exames, e cada um fornece informações específicas sobre o metabolismo da lactose.
Tipos de Exames para Diagnóstico da Intolerância à Lactose
1. Teste de Tolerância à Lactose (Curva Glicêmica de Lactose)
É o método tradicional. O paciente ingere uma solução com lactose e são feitas coletas de sangue em intervalos regulares para medir os níveis de glicose.
Interpretação: se a glicemia não aumenta significativamente após a ingestão, indica má absorção de lactose.
Tempo de duração: cerca de 2 a 3 horas.
Jejum: geralmente de 8 a 12 horas antes do exame.
2. Teste Respiratório de Hidrogênio (Teste do Hidrogênio Expirado)
Considerado o padrão-ouro atual. Após ingerir lactose, o paciente sopra em um aparelho que mede o hidrogênio no ar expirado.
Quando a lactose não é digerida, é fermentada pelas bactérias intestinais, liberando hidrogênio exalado pelos pulmões.
Interpretação: aumento de ≥20 ppm em relação ao valor basal confirma intolerância.
Vantagem: é não invasivo e altamente sensível.
3. Teste Genético para Intolerância à Lactose
Analisa variantes genéticas no gene MCM6, que regula a expressão do gene LCT (responsável pela produção da enzima lactase).
Identifica predisposição genética para hipolactasia primária (deficiência hereditária de lactase).
Genótipos como CC estão fortemente associados à intolerância.
4. Teste de Gaxilose
Avalia indiretamente a atividade da lactase por meio da absorção de uma molécula semelhante à lactose. É menos utilizado, mas útil em casos específicos.
Quando o Exame de Intolerância à Lactose é Indicado?
O exame é indicado quando o paciente apresenta sintomas recorrentes após o consumo de leite ou derivados, como:
Distensão abdominal e gases
Cólicas intestinais
Diarreia ou fezes pastosas
Náusea e desconforto após ingerir lactose
Sensação de plenitude e dor abdominal
Esses sintomas costumam surgir entre 30 minutos e 2 horas após a ingestão de produtos lácteos.
Preparo para o Exame de Intolerância à Lactose
O preparo varia conforme o tipo de exame, mas, em geral recomenda-se:
Jejum de 8 a 12 horas antes do teste;
Evitar antibióticos e laxantes por até 4 semanas antes do teste respiratório;
Suspender probióticos e bebidas fermentadas;
Não fumar ou mascar chicletes antes do exame;
Seguir rigorosamente as orientações do laboratório.
Essas medidas garantem maior precisão no resultado.
Como Interpretar o Resultado do Exame de Intolerância à Lactose
A interpretação depende do tipo de teste realizado, o mais comum é o teste de tolerância à lactose (curva glicêmica).
Valor de Referência e Interpretação
Considera-se normal a elevação da glicemia, em relação à de jejum, em pelo menos 20 mg/dL em qualquer das amostras.
A lactase age sobre a lactose, resultando em moléculas de glicose, o que eleva seus níveis em 20 a 25 mg/dL após a ingestão da lactose.
Elevação dos valores de glicemia menor que 20 mg/dL, em relação ao basal, acompanhada de sintomatologia clínica, sugere deficiência de lactase na mucosa intestinal.
Resultado Positivo
Indica má digestão da lactose devido à baixa ou ausente produção de lactase.
Pode ser primária (genética), quando é herdada;
Ou secundária, causada por doenças intestinais como celíaca, gastroenterite ou Crohn.
Resultado Negativo
Significa que a digestão e absorção da lactose estão normais, descartando intolerância.
Resultados Limítrofes
Quando os valores estão na faixa intermediária, o médico pode solicitar outros exames complementares ou avaliar o histórico clínico e sintomas do paciente.
“Fiz o Exame e Passei Mal, É Normal?”
Sim, alguns pacientes podem sentir náuseas, gases e cólicas durante o teste, especialmente se realmente apresentarem intolerância.
Esses efeitos são transitórios e costumam desaparecer em poucas horas. É importante informar o laboratório se houver mal-estar intenso.
Quanto Custa e Onde Fazer o Exame?
O valor do exame de intolerância à lactose varia conforme o método e o laboratório:
| Tipo de Exame | Preço Médio (R$) e Tempo |
|---|---|
| Teste de Tolerância à Lactose | 80 a 150 — Curva de 2 a 3 horas |
| Teste Respiratório de Hidrogênio | 250 a 600 — teste de 2 a 4 horas |
| Teste Genético | 400 a 900 – 1 dia |
Esses exames são realizados em laboratórios de análises clínicas e hospitais, com pedido médico.
Entendendo as Causas: Lactase e Genes Envolvidos
A enzima lactase é essencial para a digestão da lactose. Sua produção tende a diminuir naturalmente após o desmame, especialmente em pessoas com predisposição genética.
Os genes LCT e MCM6 regulam essa produção. A mutação C/C no gene MCM6 está relacionada à deficiência de lactase — uma característica herdada em muitas populações.
Existem ainda três principais tipos de intolerância:
Primária (hereditária): relacionada à genética.
Secundária: consequência de doenças intestinais.
Congênita (rara): ausência total de lactase desde o nascimento.
Diagnóstico Diferencial e Importância Clínica
A intolerância à lactose pode ser confundida com outras condições, como:
Síndrome do intestino irritável (SII);
Má absorção de frutose ou sorbitol.
Por isso, o diagnóstico deve ser confirmado por um profissional de saúde, evitando restrições desnecessárias e carências nutricionais.
Conclusão
O exame de intolerância à lactose é essencial para identificar a causa dos desconfortos após o consumo de leite e derivados. Entender como é feito, os valores de referência e como interpretar o resultado ajuda no diagnóstico preciso e evita restrições alimentares desnecessárias.
Se você sente sintomas após ingerir lactose, procure um profissional de saúde e realize o exame adequado.
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Perguntas Frequentes
A intolerância à lactose é causada pela deficiência da enzima lactase, que impede a digestão do açúcar do leite. Já a alergia ao leite é uma reação imunológica às proteínas do leite, podendo causar sintomas respiratórios e cutâneos.
Sim. O uso recente de antibióticos, diarreias agudas ou doenças intestinais podem alterar o resultado do teste respiratório, levando a falsos positivos. Por isso, é essencial seguir corretamente o preparo.
O teste respiratório é considerado seguro durante a gestação, mas o teste de sangue pode ser adiado, conforme avaliação médica. É importante comunicar a gravidez ao laboratório antes da coleta.
Sim. A atividade da lactase pode diminuir naturalmente com a idade. Por isso, uma pessoa com teste normal na infância pode desenvolver intolerância à lactose na vida adulta.
Alguns medicamentos, como antibióticos e laxantes, podem interferir no resultado. Recomenda-se suspender o uso sob orientação médica pelo menos quatro semanas antes do teste respiratório.
Não necessariamente. O teste genético identifica predisposição hereditária, mas não avalia a função atual da lactase. Por isso, é indicado como exame complementar, não substituto.
A forma genética (primária) não tem cura, mas pode ser controlada com dieta ajustada e uso de suplementos de lactase. Já a forma secundária pode ser reversível após tratar a doença intestinal de base.
- SWALLOW, D. M. Genetics of lactase persistence and lactose intolerance. Annual Review of Genetics, v. 37, p. 197-219, 2003. Disponível em: https://doi.org/10.1146/annurev.genet.37.110801.143820. Acesso em: 20 de outubro de 2025.
- HOLLOWAY, A. K.; et al. Why and when was lactase persistence selected for? Insights from ancient DNA and the evolution of lactase persistence. PLoS Biology, v. 18, n. 7, e3000742, 2020. Disponível em: https://journals.plos.org/plosbiology/article?id=10.1371/journal.pbio.3000742. Acesso em: 20 de outubro de 2025.
- DI PIETRO, A.; et al. Lactose intolerance assessed by analysis of genetic polymorphism and hydrogen breath test in IBD patients in clinical remission. Nutrients, v. 13, n. 4, 1290, 2021. Disponível em: https://www.mdpi.com/2072-6643/13/4/1290. Acesso em: 20 de outubro de 2025.

Mariana Soares – biomédica patologista clínica, com uma carreira sólida e reconhecida no campo das análises laboratoriais e diagnóstico clínico. Formada em Biomedicina, é inscrita no Conselho Regional de Biomedicina (CRBM 60562/ES), atua com compromisso e ética profissional, buscando constantemente a excelência na qualidade dos serviços de saúde.

