Eletroforese de Proteínas: O Que É e Para Que Serve o Exame

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Entender um exame a fundo é essencial para se sentir mais seguro sobre sua saúde. Se o seu médico solicitou um exame de eletroforese de proteínas, é natural surgirem dúvidas: o que é eletroforese de proteínas, como é feito o exame, quais doenças ele ajuda a identificar e como interpretar os resultados? Neste guia completo, vou te esclarecer tudo isso, desde a análise de proteína no sangue até a interpretação detalhada dos resultados.

O que é o exame de eletroforese de proteínas?

O exame de eletroforese de proteínas é uma análise laboratorial que permite separar e identificar as diferentes proteínas presentes no sangue ou na urina. O nome do exame explica seu funcionamento: “eletro” refere-se à eletricidade usada, e “forese” significa movimento. Ou seja, a eletroforese utiliza uma corrente elétrica para mover e separar proteínas de acordo com sua carga e tamanho.

No sangue, existem diversas proteínas com funções essenciais para o organismo, como defesa imunológica, transporte de oxigênio, coagulação e manutenção do equilíbrio osmótico. Embora existam milhares de proteínas, o exame de eletroforese de proteínas as organiza em cinco frações principais, veja a seguir:

Albumina

  • Proteína mais abundante do sangue (cerca de 60% das proteínas totais).

  • Mantém a pressão oncótica, ajudando a controlar o volume de líquido dentro dos vasos sanguíneos.

  • Transporta hormônios, vitaminas, ácidos graxos e medicamentos pelo corpo.

  • Níveis baixos podem indicar desnutrição, doenças do fígado ou rins.

Alfa-1 Globulinas

  • Incluem proteínas como a alfa-1-antitripsina, que protege os tecidos contra enzimas liberadas durante inflamações.

  • Alterações podem estar relacionadas a deficiências genéticas, doenças pulmonares e inflamatórias.

Alfa-2 Globulinas

  • Contêm proteínas como a haptoglobina (transporta hemoglobina livre) e a ceruloplasmina (transporta cobre).

  • Valores elevados podem ocorrer em processos inflamatórios e na síndrome nefrótica.

  • Valores baixos podem estar associados a doenças hepáticas ou hemólise.

Beta Globulinas

  • Incluem proteínas como a transferrina (transporta ferro) e o C3 do sistema complemento (defesa imunológica).

  • Alterações podem indicar anemias, doenças inflamatórias crônicas ou distúrbios imunológicos.

Gama Globulinas

    • Formadas principalmente pelas imunoglobulinas (anticorpos: IgG, IgA, IgM, IgE, IgD).

    • Defendem o organismo contra infecções e fazem parte da resposta imune.

    • Aumento pode indicar infecções crônicas, doenças autoimunes ou mieloma múltiplo.

    • Redução pode ocorrer em imunodeficiências ou uso de imunossupressores.

A eletroforese no sangue mede a quantidade de cada uma dessas frações, gerando um perfil detalhado que auxilia o médico a avaliar seu estado de saúde de forma abrangente.

Para que serve o exame de eletroforese de proteínas?

O exame não é específico para uma doença, mas fornece informações importantes para a investigação de várias condições de saúde. Ele é frequentemente solicitado em situações como:

1. Mieloma Múltiplo

  • O que é: É um câncer das células plasmáticas, responsáveis por produzir anticorpos (imunoglobulinas).

  • Alterações nas proteínas:

    • Albumina: normal ou levemente diminuída (↓). A albumina é a proteína mais abundante no sangue, mantém o volume sanguíneo e transporta nutrientes.

    • Alfa-1 e Alfa-2: geralmente normais. São proteínas de “resposta rápida” a inflamações ou lesões.

    • Beta-1 e Beta-2: normalmente ficam normais. Participam do transporte de lipídios, ferro e do sistema de defesa complementar.

    • Gama: com um pico monoclonal. Representa a superprodução de um tipo específico de anticorpo pelas células tumorais. Esse pico é um sinal clássico do mieloma múltiplo.

Resumo: o corpo produz um anticorpo “em excesso” que aparece como um pico na fração gama; outras proteínas normalmente não mudam muito.


2. Doenças do Fígado

  • O que é: O fígado produz proteínas importantes do sangue, incluindo albumina e algumas globulinas. Quando ele está doente (hepatite, cirrose), a produção de proteínas muda.

  • Alterações nas proteínas:

    • Albumina ↓: indica que o fígado não está conseguindo produzir o suficiente.

    • Alfa-1 ↓ ou normal: essas proteínas protegem contra inflamações; podem diminuir se a síntese estiver comprometida.

    • Alfa-2 ↑: algumas proteínas de defesa (como haptoglobina) aumentam em resposta à lesão.

    • Beta-1 ↓ ou normal; Beta-2 ↑: beta-2 pode aumentar porque carrega lipídios e algumas proteínas de defesa.

    • Gama ↑: ocorre hiperglobulinemia, pois o corpo tenta compensar a lesão hepática produzindo mais anticorpos.

Resumo: o fígado doente produz menos albumina, algumas proteínas de defesa aumentam, e os anticorpos (gama) podem subir.


3. Doenças Renais

  • O que é: Rins danificados perdem proteínas na urina (proteinúria), especialmente albumina.

  • Alterações nas proteínas:

    • Albumina ↓: é perdida na urina, causando edema (inchaços).

    • Alfa-1 e Alfa-2 ↑: o fígado compensa aumentando proteínas de fase aguda.

    • Beta-1 e Beta-2: normalmente normais.

    • Gama: geralmente normal, mas pode subir levemente se houver inflamação crônica.

Resumo: os rins “vazam” albumina, o corpo tenta compensar produzindo proteínas de defesa; anticorpos geralmente não mudam muito.


4. Doenças Inflamatórias e Autoimunes

  • O que é: Doenças como lúpus e artrite reumatoide ativam constantemente o sistema imunológico.

  • Alterações nas proteínas:

    • Albumina ↓: inflamação crônica reduz sua produção.

    • Alfa-1 e Alfa-2 ↑: proteínas de fase aguda aumentam rapidamente para combater inflamação (ex.: alfa-1-antitripsina, haptoglobina).

    • Beta-1 e Beta-2 ↑: participam da resposta imune e transporte de ferro/lipídios.

    • Gama ↑: imunoglobulinas aumentam, pois o corpo está constantemente produzindo anticorpos.

Resumo: O corpo entra em “modo alerta”: proteínas de defesa aumentam enquanto a albumina diminui ligeiramente.


5. Deficiências Nutricionais

  • O que é: Falta de proteínas na dieta ou má absorção intestinal diminui os níveis de todas as proteínas.

  • Alterações nas proteínas:

    • Albumina ↓: primeiro sinal de desnutrição, pois é a proteína mais abundante.

    • Alfa-1, Alfa-2, Beta-1, Beta-2 ↓: produção de proteínas de defesa e transporte diminui.

    • Gama ↓: anticorpos podem diminuir se a desnutrição for grave, prejudicando o sistema imunológico.

Resumo: todas as proteínas caem, deixando o corpo mais vulnerável a infecções e “edema” (inchaços).

Como é feito o exame de eletroforese de proteínas?

O exame de eletroforese de proteínas é simples, rápido e seguro. Por exigir preparação mínima, o procedimento costuma ser confortável para o paciente. Recomenda-se, no entanto, um jejum de aproximadamente 4 horas antes da coleta. Confira o passo a passo a seguir:

Etapas do Exame

  1. Coleta de sangue: A amostra é retirada de forma rotineira da veia do braço.

  2. Análise laboratorial: O sangue é colocado em um gel e submetido a uma corrente elétrica. As proteínas migram em velocidades diferentes, formando faixas distintas.

  3. Geração de resultados: Um equipamento especializado mede a intensidade de cada faixa, criando um gráfico que mostra os níveis de cada proteína.

O resultado fornece dados sobre a eletroforese total e fracionada, permitindo que o biomédico avalie alterações em cada tipo de proteína. O laudo também inclui um gráfico ilustrativo, que facilita a interpretação visual das diferentes frações proteicas.

Gráfico Eletroforese de Proteínas:

Valores de Referências Eletroforese de proteínas: 

Valores podem variar entre laboratórios. Sempre interpretar resultados considerando a metodologia do laboratório, idade do paciente e quadro clínico.

Descrição ParâmetroValor Referência
Albumina3,57 a 5,88 g/dL
Albumina – valor percentual55,8 a 66,1 %
Alfa-1 Globulina0,19 a 0,44 g/dL
Alfa-1 Globulina – valor percentual2,9 a 4,9 %
Alfa-2 Globulina0,45 a 1,05 g/dL
Alfa-2 Globulina – valor percentual7,1 a 11,8 %
Beta-1 Globulina0,30 a 0,64 g/dL
Beta-1 Globulina – valor percentual4,7 a 7,2 %
Beta-2 Globulina0,20 a 0,58 g/dL
Beta-2 Globulina – valor percentual3,2 a 6,5 %
Gama Globulina0,71 a 1,67 g/dL
Gama Globulina – valor percentual11,1 a 18,8 %
Proteínas TotaisRecém-nascidos (1 a 30 dias): 4,6 a 7,0 g/dL
 Crianças: 6,0 a 8,3 g/dL
 Adultos: 6,4 a 8,9 g/dL
Relação Albumina/Globulina0,80 a 2,20

Eletroforese de Proteínas Alterada: Entendendo os Resultados

Interpretar os resultados requer conhecimento especializado. Comparar os valores obtidos com os valores de referência de eletroforese de proteínas é essencial para entender se há algum desvio do padrão normal. Alguns achados comuns incluem:

  • Pico monoclonal: Aumento acentuado de uma única globulina, frequentemente associado ao mieloma múltiplo.

  • Hipergamaglobulinemia policlonal: Elevação generalizada das globulinas, indicando resposta imunológica ativa em inflamações ou infecções crônicas.

  • Hipoproteinemia: Diminuição geral de proteínas, podendo indicar problemas nutricionais ou disfunção hepática e renal.

Somente um profissional de saúde pode realizar a interpretação do exame de eletroforese de proteínas, levando em consideração histórico clínico, sintomas e exames complementares, como a eletroforese de hemoglobina vs proteínas.

Onde Fazer E Quanto Custa o Exame de Eletroforese de Proteínas?

Se você se pergunta onde fazer eletroforese de proteínas, saiba que a maioria dos grandes laboratórios e clínicas oferecem o exame. Alguns pontos importantes:

  • Procure um laboratório confiável.

  • Laboratórios especializados garantem resultados precisos e rápidos.

  • Verifique se o seu plano de saúde cobre o exame (eletroforese de proteínas convênio) ou qual é o exame de eletroforese preço cobrado.

Agendar com antecedência facilita o planejamento e evita atrasos na entrega dos resultados.

Preparação Para o Exame de Eletroforese

Alem do jejum de aproximadamente 4 horas antes da coleta como mencionei a cima, a preparação para o exame é simples, mas algumas recomendações podem ajudar:

  • Evitar jejum prolongado, a menos que indicado pelo laboratório.

  • Informar ao médico sobre uso de medicamentos que possam interferir nos níveis de proteína.

  • Manter hidratação adequada antes da coleta.

Seguindo estas orientações, você garante que a análise de proteína no sangue seja confiável e representativa do seu estado de saúde real.

Considerações Finais

O exame de eletroforese de proteínas é uma ferramenta valiosa para investigar diversas condições, desde problemas imunológicos até doenças graves como o mieloma múltiplo. Entender o que é eletroforese de proteínas, como é feito o exame de eletroforese e como interpretar seus resultados ajuda a se sentir mais seguro sobre a própria saúde e facilita o diálogo com seu médico.

Se você tem dúvidas sobre os resultados ou precisa agendar o exame, consulte uma clínica ou um laboratório especializado, verifique a cobertura do seu convênio e informe-se sobre o exame de eletroforese e preço.

Lembre-se: somente um profissional de saúde pode fornecer diagnóstico e orientação adequada com base na eletroforese de proteínas alterada ou nos valores de referência. Este exame é uma ferramenta poderosa para cuidar de você e da sua saúde de forma preventiva e informada.

 

Perguntas Frequentes

Geralmente, a eletroforese de proteínas não exige suspensão de medicamentos. No entanto, certos medicamentos (como imunossupressores ou tratamentos para câncer) podem interferir nos resultados. Sempre consulte o laboratório ou o médico antes de interromper qualquer medicação.

Suplementos alimentares não alteram diretamente o padrão de eletroforese, pois o exame avalia proteínas produzidas pelo organismo, não as ingeridas. Porém, distúrbios causados por suplementos (ex.: inflamação, lesão muscular) podem indiretamente influenciar os níveis de proteínas de fase aguda ou globulinas.

A eletroforese pode ser feita em soro sanguíneo (mais comum) ou urina de 24 horas (especialmente em suspeita de doença renal). O exame urinário avalia perdas de proteínas, útil para detectar proteinúria, enquanto o soro mostra produção e distribuição das proteínas no corpo.

Sim, pode. Mas a gestação altera os níveis de proteínas séricas (por exemplo, aumento das globulinas em geral). O médico deve interpretar os resultados considerando esse estado fisiológico.

Normalmente, os resultados ficam disponíveis em 24 a 48 horas, dependendo da rotina do laboratório e se houver outra análise combinada. Em alguns casos de urgência clínica, o resultado pode sair em menos tempo.

Claro! Ele é útil justamente para monitorar mudanças ao longo do tempo, como regressão de pico monoclonal no mieloma ou melhora da albumina em doença hepática/nutricional.

Sim. A eletroforese tem resolução limitada: não separa bem proteínas com massa semelhante ou aquelas em baixa concentração. Pode, ainda, não detectar todas as proteínas presentes na amostra.

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