A bilirrubina alta em recém-nascidos é uma condição comum, especialmente nos primeiros dias de vida. Quando essa substância se acumula no organismo, pode causar a chamada icterícia neonatal, caracterizada por uma coloração amarelada da pele e dos olhos do bebê. Apesar de ser comum e muitas vezes benigna, em alguns casos, níveis elevados podem exigir atenção médica urgente e tratamento específico, como a fototerapia.
Neste artigo, vou te explicar:
Os valores normais da bilirrubina em recém-nascidos
Quando a bilirrubina alta é preocupante
O que a icterícia pode causar se não for tratada
Como saber se a icterícia está melhorando
Sintomas, causas e tratamento da bilirrubina alta
O que é a bilirrubina em recém-nascidos?
A bilirrubina é uma substância amarelada produzida naturalmente pelo corpo durante a degradação dos glóbulos vermelhos (hemácias). Ela é processada pelo fígado e excretada nas fezes. Em recém-nascidos, especialmente os prematuros, o fígado ainda está imaturo e pode ter dificuldade em eliminar essa substância de forma eficiente, o que leva ao acúmulo no sangue.
Bilirrubina recém-nascido: valores normais
Os valores normais de bilirrubina em recém-nascidos variam conforme a idade do bebê em horas de vida:
Idade do bebê | Valor de referência (mg/dL) |
---|---|
24h | Até 6,0 |
48h | Até 10,0 |
72h | Até 12,0 |
96h ou mais | Até 15,0 |
Um valor de bilirrubina 15mg em recém-nascido nas primeiras 24 a 48 horas pode ser considerado alto e merece avaliação médica.
Quando a icterícia é preocupante em recém-nascidos?
A icterícia em recém-nascidos é preocupante quando:
Aparece nas primeiras 24 horas de vida
A bilirrubina direta está alta
Os níveis de bilirrubina aumentam muito rapidamente
O bebê apresenta letargia (estado de profunda sonolência), dificuldade para mamar.
A coloração amarela atinge as pernas e os pés
No meu dia a dia como biomédico plantonista, é comum recebermos no hospital crianças com um mês de vida ou mais apresentando icterícia. Nesses casos, a condição precisa ser investigada com atenção, já que a icterícia em bebês com mais de 30 dias não é considerada normal e pode indicar algum problema subjacente.
Causas da bilirrubina alta em recém-nascidos
As principais causas de bilirrubina elevada incluem:
Imaturidade do fígado (icterícia fisiológica)
Incompatibilidade sanguínea (Rh ou ABO)
Hematomas durante o parto
Infecções neonatais
Doenças metabólicas ou genéticas
Aleitamento materno insuficiente
Sintomas de icterícia em recém-nascido
Os sintomas de icterícia mais comuns incluem:
Pele amarelada, começando pelo rosto e se espalhando para o tronco e membros
Olhos amarelados
Bebê com icterícia dorme muito
Em alguns casos, o bebê com icterícia pode ficar avermelhado ou apresentar choro excessivo
Como saber se a icterícia está melhorando?
A icterícia melhora quando:
A coloração amarelada diminui gradualmente
O bebê passa a mamar melhor
O nível de bilirrubina no exame de sangue reduz
A eliminação de fezes e urina aumenta
A avaliação periódica com o pediatra é essencial para acompanhar a evolução.
Bilirrubina direta alta em recém-nascido
A bilirrubina direta representa a forma conjugada, que já passou pelo fígado. Quando está alta, pode indicar problemas hepáticos mais sérios, como:
- Hepatites congênitas: Inflamações no fígado causadas por infecções transmitidas da mãe para o bebê, como hepatite B ou C.
- Atresia biliar: Má-formação dos ductos biliares, que impede o fluxo da bile, levando à icterícia persistente.
- Síndromes genéticas: Alterações hereditárias, como a síndrome de Crigler-Najjar, que afetam o metabolismo da bilirrubina.
- Infecções: Doenças como toxoplasmose, citomegalovírus e rubéola congênita podem causar icterícia prolongada em recém-nascidos.
Diferente da bilirrubina indireta (mais comum na icterícia fisiológica), a direta alta exige investigação imediata.
Tabela de bilirrubina para fototerapia
A tabela de bilirrubina para fototerapia considera:
Idade do bebê (em horas)
Peso ao nascer
Presença de fatores de risco
Por exemplo, um recém-nascido com mais de 72h e bilirrubina entre 15 e 18 mg/dL pode necessitar de fototerapia, especialmente se for prematuro ou tiver outras condições associadas.
Bilirrubina alta em recém-nascido: tratamento
O tratamento depende da gravidade e da causa. As principais opções são:
1. Fototerapia
A mais comum. O bebê é exposto a uma luz especial que transforma a bilirrubina em uma forma mais fácil de ser eliminada.
2. Hidratação
Mamar com frequência ajuda o corpo a eliminar a bilirrubina pelas fezes e urina.
3. Exsanguineotransfusão
Procedimento usado em casos graves para remover o sangue do bebê e substituí-lo por sangue compatível.
Bebê com icterícia antes e depois da fototerapia
Muitas vezes, é possível observar melhora visível após poucas sessões de fototerapia. As fotos “antes e depois” mostram a redução da coloração amarelada e melhora no estado geral do bebê.
Icterícia em recém-nascido é perigoso?
Sim, pode ser perigosa se os níveis de bilirrubina estiverem muito altos e não forem tratados, podendo causar kernicterus, uma forma grave de dano cerebral. Felizmente, com diagnóstico precoce e tratamento adequado, a maioria dos casos evolui bem.
Conclusão
A bilirrubina alta em recém-nascidos é uma condição frequente, porém deve ser acompanhada de perto para evitar complicações. Conhecer os valores normais, entender os sinais de alerta e seguir as orientações médicas são medidas essenciais para a saúde do bebê.
Se o seu bebê foi diagnosticado com icterícia ou bilirrubina elevada, mantenha acompanhamento pediátrico regular e fique atento aos sintomas descritos.
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Dúvidas Frequentes
A coloração amarela diminui, o bebê mama melhor e os níveis de bilirrubina no sangue começam a baixar.
Pode ocorrer leve vermelhidão em algumas partes do corpo, mas não é um sinal típico. O mais comum é a coloração amarelada.
Sim, ajudam em casos leves. A luz solar auxilia na quebra da bilirrubina, mas não substitui a fototerapia hospitalar nos casos mais graves. Sempre deve ser feito com orientação médica.
Lincoln Soledade, – Biomédico CRBM 41556/ES. Mestrando em Gestão em Saúde Pública. Especialista em Patologia Clínica e pós-graduado em Estética Avançada, atua desde 2018 na área de diagnóstico clínico hospitalar. Ao longo de sua trajetória, tem se dedicado à aplicação rigorosa do conhecimento científico para promover diagnósticos precisos, contribuindo significativamente para a qualidade do cuidado em saúde.