O exame dímero-D ou D-dímero, tem um papel fundamental no meu dia a dia como biomédico, ele é um marcador importante para diagnosticar e monitorar condições associadas à formação e dissolução de coágulos sanguíneos, como trombose venosa profunda (TVP) e embolia pulmonar (EP). Originado da degradação da fibrina, ele reflete o equilíbrio entre coagulação e fibrinólise.
Também desempenha um papel relevante em situações como Doença Hipertensiva Específica da Gravidez (DHEG) e no acompanhamento de pacientes com COVID-19, auxiliando no diagnóstico e prognóstico de estados hipercoaguláveis.
Nesse artigo, Vou explicar como utilizo esse exame de dímero-D para ajudar tanto profissionais de saúde quanto pacientes a entenderem melhor suas condições clínicas.
O Que é o D-Dímero
O D-dímero ou dímero-D, é um marcador laboratorial resultante da degradação da fibrina. Quando ocorre a formação de um coágulo, o organismo ativa o sistema fibrinolítico para dissolvê-lo, liberando fragmentos de fibrina que podem ser detectados pelo exame.
Para que Serve o Exame de dímero-D?
O exame é especialmente útil quando há suspeita de trombose. Durante esse processo, a fibrina formada na coagulação é degradada pela plasmina, gerando fragmentos conhecidos como dímeros-D.
Na minha prática clínica, níveis elevados desse marcador costumam indicar que o organismo está em um estado de hipercoagulabilidade, ou seja, com maior tendência à formação de coágulos.
Essa alteração é comum em situações como:
- Trombose venosa profunda (TVP)
- Embolia pulmonar (EP)
- Doença arterial periférica
- Câncer
- Insuficiência renal
- Sepse
- Pós-operatório
- Gestação
- Doença Hipertensiva Específica da Gravidez (DHEG)
Valores de Referência e Interpretação
Ao liberar um laudo de dímero-D, considero como valor de referência níveis inferiores a 500 ng/mL. Embora esse limite possa variar ligeiramente entre laboratórios, resultados acima desse ponto de corte sinalizam a necessidade de investigação aprofundada.
Valores elevados podem indicar risco aumentado de eventos tromboembólicos e exigem uma avaliação clínica minuciosa para confirmação diagnóstica.
Qual valor de D-dímero é preocupante?
Sempre que o valor do D-dímero ultrapassa 500 ng/mL, acendo um sinal de alerta. Esse resultado pode indicar a presença de eventos tromboembólicos, como trombose venosa profunda (TVP) ou embolia pulmonar (EP). No entanto, também observo elevações importantes em infecções graves, neoplasias, doenças inflamatórias, insuficiência renal e durante a gestação.
Por isso, nunca deve ser avaliado o D-dímero isoladamente. A interpretação precisa considerar o quadro clínico do paciente, pois cada organismo reage de forma única. A análise contextual é essencial para evitar diagnósticos equivocados e conduzir a investigação adequada.
Quando Realizar o exame D-dímero?
Saber quando realizar o exame D-dímero é essencial para uma investigação diagnóstica eficaz, especialmente em situações de suspeita de eventos tromboembólicos. O D-dímero é um marcador de degradação da fibrina, e sua dosagem no sangue pode auxiliar na exclusão ou detecção precoce de trombose, como mencionamos acima.
Confira as principais indicações clínicas para solicitar o exame:
1. Suspeita de Trombose Venosa Profunda (TVP)
Quando o paciente apresenta dor, edema (inchaço) e calor localizado nos membros inferiores, especialmente nas pernas, o exame de D-dímero pode ajudar a avaliar a possibilidade de formação de coágulos.
2. Suspeita de Embolia Pulmonar (EP)
Em casos de dor torácica súbita, dispneia (falta de ar), taquicardia e histórico de risco trombótico, o exame é útil como triagem inicial para exclusão da EP.
3. Monitoramento de Condições Trombóticas
Pacientes em uso de anticoagulantes ou com histórico de trombose podem precisar de acompanhamento periódico dos níveis de D-dímero para avaliar risco de recorrência.
4. Durante a Gravidez
Especialmente em casos de suspeita de Doença Hipertensiva Específica da Gravidez (DHEG) ou pré-eclâmpsia, onde há risco aumentado de complicações vasculares.
5. Infecções Graves ou Sepse
O exame pode ser solicitado em pacientes sépticos para avaliar o risco de coagulação intravascular disseminada (CIVD) e trombose associada à resposta inflamatória.
6. Avaliação em Pacientes com COVID-19
A dosagem do D-dímero tem papel importante na avaliação do risco de trombose durante e após infecção por SARS-CoV-2, especialmente em casos graves.
7. Outras Situações
Pós-operatórios de grandes cirurgias
Insuficiência renal avançada
Doenças inflamatórias crônicas
O que aumenta o D-dímero? Diferença entre causa e indicação clínica
Enquanto as indicações dizem respeito de quando pedir o exame de D-dímero, as causas de elevação apontam os motivos fisiopatológicos que elevam seus níveis, mesmo fora de uma trombose ativa.
Veja as principais causas de D-dímero elevado que observo frequentemente na prática clínica:
1. Eventos tromboembólicos
Trombose Venosa Profunda (TVP)
Embolia Pulmonar (EP)
São as causas mais clássicas. A presença de coágulos ativa a fibrinólise, resultando na liberação de fragmentos de fibrina (D-dímero).
2. Infecções Graves e Sepse
Inflamações sistêmicas desencadeiam alterações na coagulação, elevando os níveis de D-dímero.
3. Câncer
Neoplasias, especialmente em estágio avançado, podem estimular a formação de microcoágulos, elevando o D-dímero mesmo sem sintomas evidentes.
4. Doenças Inflamatórias e Autoimunes
Condições como lúpus, artrite reumatoide e outras inflamações crônicas podem alterar a cascata de coagulação.
5. Gravidez e DHEG
Durante a gestação, especialmente em casos de pré-eclâmpsia ou DHEG, há maior ativação do sistema de coagulação.
6. Insuficiência Renal
Pacientes com função renal comprometida podem apresentar D-dímero elevado pela diminuição da depuração dessas moléculas.
7. Pós-operatório
Cirurgias de grande porte promovem resposta inflamatória e ativação da coagulação, elevando o D-dímero por dias.
8. COVID-19
Estudos evidenciam forte correlação entre D-dímero elevado e gravidade da COVID-19, com risco aumentado de trombose venosa e arterial.
D-Dímero e Doença Hipertensiva Específica da Gravidez (DHEG)
Quando acompanho exames de gestantes, estou sempre atento à DHEG (Doença hipertensiva específica da gravidez). Uma condição que ocorre após a 20ª semana de gestação, é caracterizada por hipertensão (Pressão alta), proteinúria (Proteína na urina) e edema (Acúmulo anormal de líquidos nos tecidos). Nessas condições, há vasoconstrição generalizada e deposição de fibrina na placenta, comprometendo sua perfusão.
O aumento nos níveis de D-dímero reflete a tentativa do corpo de lidar com o excesso de fibrina, indicando que o sistema fibrinolítico está autuando, desse modo, o exame é uma ferramenta útil no diagnóstico e prognóstico da DHEG.
Estudos evidenciam que os níveis de D-dímero em gestantes com DHEG grave são significativamente maiores quando comparados a gestantes controle ou com formas leves e moderadas da doença, segue as médias e os desvios padrões obtidos para os três grupos avaliados:
Níveis médios de D-dímero em gestantes:
Condição | Nível Médio ± DP (ng/mL) |
---|---|
Gestantes controle | 1.146,6 ± 311,2 ng/mL |
DHEG leve/moderada | 1.060,3 ± 259,2 ng/mL |
DHEG grave | 1.497,8 ± 435,3 ng/mL |
Esse aumento reflete a gravidade da DHEG e pode ser usado para monitorar gestantes em risco.
D-Dímero e COVID-19
Durante a pandemia, o D-dímero ganhou destaque no manejo de pacientes com COVID-19. Estudos mostram que níveis elevados estão associados a pior prognóstico, indicando maior risco de complicações tromboembólicas.
A International Society of Thrombosis and Haemostasis (ISTH) recomenda o monitoramento do D-dímero em conjunto com TAP, INR, fibrinogênio e contagem de plaquetas em pacientes hospitalizados.
Conclusão
O exame de D-dímero é uma ferramenta essencial na detecção de estados de hipercoagulabilidade, como na trombose venosa profunda, embolia pulmonar, complicações da COVID-19 e na Doença Hipertensiva Específica da Gravidez (DHEG). Por ser altamente sensível, é amplamente utilizado como teste de triagem, ajudando a excluir eventos trombóticos quando os níveis estão normais.
No entanto, sua interpretação deve sempre ser feita com base no contexto clínico do paciente. Valores elevados não confirmam, por si só, a presença de trombose, já que também podem ocorrer em infecções, inflamações, câncer e após cirurgias. Por isso, o D-dímero é mais eficaz quando avaliado em conjunto com exames complementares e o quadro clínico geral.
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Dúvidas Frequentes
Sim, é aconselhável um jejum de cerca de 4 horas antes da coleta.
No entanto, sempre siga as orientações específicas fornecidas pelo seu médico ou laboratório.
Vários tipos de câncer podem aumentar o D-dímero, especialmente aqueles em estágios avançados ou metastáticos, como câncer de pulmão, pâncreas, estômago, mama, ovário e próstata. Isso ocorre devido à ativação do sistema de coagulação, comum em pacientes oncológicos.
A trombose é causada por fatores que alteram o fluxo sanguíneo, a integridade dos vasos e a coagulação. Entre as principais causas estão: imobilização prolongada, cirurgias, traumas, uso de contraceptivos hormonais, gravidez, doenças como câncer, obesidade, tabagismo e distúrbios genéticos.
Geralmente, o primeiro sinal de trombose é um inchaço repentina na área afetada, como a perna, acompanhado de dor e, às vezes, vermelhidão ou calor local. Nesses casos, recomendo procurar ajuda médica com urgência.

Lincoln Soledade, – Biomédico CRBM 41556/ES. mestrando em Gestão em Saúde Pública. Especialista em Patologia Clínica e pós-graduado em Estética Avançada, atua desde 2018 na área de diagnóstico clínico hospitalar. Ao longo de sua trajetória, tem se dedicado à aplicação rigorosa do conhecimento científico para promover diagnósticos precisos, contribuindo significativamente para a qualidade do cuidado em saúde.