Você sente cansaço constante, tem notado ganho de peso inexplicável ou percebeu a tireoide inchada no pescoço? Esses sinais podem indicar a presença de uma condição chamada tireoidite crônica, também conhecida como tireoidite de Hashimoto, uma das doenças autoimunes mais comuns que afetam a glândula tireoide.
Neste artigo, vou te explicar, o que é a tireoidite crônica, quais são suas principais causas, sintomas, formas de diagnóstico e as opções de tratamento mais eficazes disponíveis atualmente, com base em diretrizes científicas, para garantir que você encontre aqui tudo o que precisa saber sobre o assunto.
O que é Tireoidite Crônica?
A tireoidite crônica, também conhecida como tireoidite de Hashimoto, é uma doença autoimune da tireoide onde o próprio sistema imunológico ataca a glândula tireoide, localizada na parte anterior do pescoço. Esse processo inflamatório leva, com o tempo, à destruição progressiva da tireoide, comprometendo a produção de hormônios essenciais como o T3 (triiodotironina) e o T4 (tiroxina).
Essa condição é uma das principais causas de hipotireoidismo em adultos, especialmente em mulheres entre 30 e 60 anos.
Causas da Tireoidite Crônica
Doença autoimune como origem
A causa mais comum da tireoidite crônica é a resposta autoimune desregulada. Em vez de proteger o corpo, o sistema imunológico passa a produzir anticorpos antitireoidianos, como:
Anti-TPO (antiperoxidase tireoidiana)
Anti-Tg (antitireoglobulina)
Esses anticorpos atacam as células da tireoide, resultando em inflamação crônica e perda gradual da função glandular.
Fatores de risco
Diversos fatores podem desencadear ou favorecer o aparecimento da doença:
Predisposição genética
Histórico familiar de doenças autoimunes
Sexo feminino (predominância de 8:1 em relação aos homens)
Excesso de iodo na dieta
Exposição a estresse intenso ou infecções virais
Gestação (ocorrência de tireoidite pós-parto)
Sintomas da Tireoidite Crônica
A tireoidite de Hashimoto evolui lentamente e seus sintomas podem passar despercebidos por anos, até que o hipotireoidismo se manifeste de forma mais evidente.
Sintomas mais comuns
Cansaço constante, mesmo após uma boa noite de sono
Ganho de peso inexplicável
Sensação de frio excessiva
Pele seca e queda de cabelo
Constipação intestinal
Depressão ou alterações de humor
Dificuldade de concentração e memória (névoa mental)
Inchaço no pescoço (bócio)
Alterações menstruais
Sintomas específicos da inflamação
Além do hipotireoidismo, a inflamação da tireoide pode causar:
Dor ou desconforto na parte frontal do pescoço
Sensação de pressão ao engolir
Rouquidão
Como é feito o Diagnóstico da Tireoidite Crônica
O diagnóstico é feito a partir de uma combinação de exame clínico, exames laboratoriais e imagem.
Exames laboratoriais fundamentais
TSH (hormônio estimulante da tireoide): normalmente elevado no hipotireoidismo.
T4 Livre: costuma estar reduzido.
Anticorpos Anti-TPO e Anti-Tg: elevados em mais de 90% dos casos.
Hemograma e perfil lipídico: para avaliar impacto sistêmico.
Ultrassonografia da tireoide
A ultrassonografia da tireoide é fundamental para identificar sinais característicos da tireoidite crônica, como glândula de contornos irregulares, textura heterogênea, ecogenicidade difusamente reduzida e presença de áreas hipoecóicas mal definidas, conhecidas como pseudonódulos.
Em alguns casos, podem ser observados nódulos verdadeiros, que devem ser avaliados conforme a classificação TIRADS (Thyroid Imaging Reporting and Data System), especialmente se forem classificados como TIRADS 4 ou superior, situação em que se recomenda investigação com punção aspirativa por agulha fina (PAAF) para descartar malignidade.
Tratamento da Tireoidite Crônica
O tratamento mais comum: Levotiroxina
A levotiroxina sódica (Euthyrox, Puran T4, Synthroid) é o tratamento padrão. Ela repõe os hormônios tireoidianos e mantém os níveis de TSH na faixa ideal.
A dosagem é individualizada, com base em peso, idade e exames laboratoriais, seu uso deve ser feito exclusivamente sob prescrição e acompanhamento médico.
Deve ser tomada em jejum, 30 minutos antes do café da manhã, para garantir absorção adequada.
Dieta e alimentação
Embora não haja cura, uma alimentação adequada pode ajudar a controlar a inflamação:
Evitar alimentos inflamatórios: glúten (em pacientes sensíveis), soja em excesso, ultraprocessados.
Aumentar o consumo de selênio e zinco: castanha-do-pará, sementes de abóbora, frutos-do-mar.
Evitar deficiência de iodo, mas sem excesso.
Exemplos de alimentos benéficos
Segundo a nossa nutricionista Leila Schreider, especializada em nutrição clínica e emagrecimento, uma alimentação equilibrada pode auxiliar no controle da tireoidite de Hashimoto, reduzindo inflamações e apoiando o funcionamento adequado da glândula. Abaixo, alguns alimentos recomendados por seus efeitos nutricionais:
Alimentos recomendados | Nutrientes-chave |
---|---|
Peixes (sardinha, salmão) | Ômega-3, selênio |
Castanha-do-pará | Selênio |
Ovos | Iodo, zinco |
Vegetais folhosos | Ferro, magnésio |
Frutas vermelhas | Antioxidantes naturais |
Tratamentos alternativos e naturais
Alguns pacientes buscam alternativas complementares, como:
Suplementação de vitamina D
Probióticos
Terapias integrativas (acupuntura, meditação)
Esses métodos devem ser discutidos com um médico ou nutricionista, pois não substituem o tratamento convencional.
Tireoidite Crônica tem cura?
A tireoidite de Hashimoto não tem cura, ao ser uma condição autoimune permanente. No entanto, com o tratamento correto, é possível manter os níveis hormonais estáveis e levar uma vida saudável e ativa.
O sucesso depende de:
Adesão ao tratamento
Monitoramento regular do TSH e T4
Estilo de vida saudável
Evitar gatilhos de inflamação
Tireoidite Crônica e Gravidez
A tireoide tem um papel essencial na gravidez. Mulheres com Hashimoto devem ter monitoramento rigoroso durante a gestação, pois o hipotireoidismo mal controlado pode causar:
Abortos espontâneos
Parto prematuro
Déficit cognitivo no bebê
A dose de levotiroxina geralmente aumenta durante a gravidez, e o TSH deve ser mantido abaixo de 2,5 mUI/mL no primeiro trimestre.
Tireoidite Crônica pode virar câncer?
Essa é uma dúvida comum entre pacientes. Embora a tireoidite crônica possa estar associada a nódulos, a evolução para câncer de tireoide é rara.
Nódulos tireoidianos devem ser acompanhados por ultrassonografia periódica e, quando classificados como TIRADS 4 ou superior, é recomendada a avaliação por punção aspirativa por agulha fina (PAAF) para investigação de malignidade.
A maioria dos casos segue um curso benigno.
Quando procurar um endocrinologista?
Procure um endocrinologista se você tiver:
Sintomas persistentes de cansaço, ganho de peso e queda de cabelo
Histórico familiar de tireoidite ou doenças autoimunes
TSH alterado em exames de rotina
Dificuldade para engravidar ou histórico de aborto
Conclusão
A tireoidite crônica, especialmente a tireoidite de Hashimoto, é uma condição comum, porém muitas vezes negligenciada. A boa notícia é que com diagnóstico precoce, tratamento adequado e mudanças no estilo de vida, é possível controlar os sintomas e ter uma vida saudável.
Não deixe de procurar orientação médica ao identificar sinais da doença. O acompanhamento com endocrinologista e exames periódicos são fundamentais para o controle eficaz da tireoidite crônica.
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Dúvidas Frequentes
Sim, é aconselhável um jejum de cerca de 4 horas antes da coleta de sangue para exames de tireoide, incluindo anti-TPO, anti-TG, TSH, T3, e T4. Isso ajuda a evitar possíveis interferências causadas pela alimentação, garantindo resultados mais precisos.
No entanto, sempre siga as orientações específicas fornecidas pelo seu médico ou laboratório.
Sim. Segundo a nutricionista Leila Schreider, especializada em nutrição clínica e emagrecimento, “o metabolismo de quem tem tireoidite de Hashimoto pode ficar mais lento, o que exige estratégias nutricionais individualizadas e um acompanhamento próximo para evitar o ganho de peso”.
No entanto, com o controle adequado do TSH, uso correto da levotiroxina e ajustes no plano alimentar, é possível manter o peso corporal estável e até favorecer a perda de gordura com segurança.
Depende do caso. Em pacientes com autoimunidade ativa, o excesso de iodo pode agravar a inflamação. A suplementação só deve ser feita com acompanhamento médico e nutricional, após avaliação dos níveis de iodo.
Sim. Nos estágios iniciais, o paciente pode apresentar eutireoidismo (TSH normal), mas já com anticorpos positivos e sinais inflamatórios na ultrassonografia. Esse é o momento ideal para o diagnóstico precoce.
Lincoln Soledade, – Biomédico CRBM 41556/ES. Mestrando em Gestão em Saúde Pública. Especialista em Patologia Clínica e pós-graduado em Estética Avançada, atua desde 2018 na área de diagnóstico clínico hospitalar. Ao longo de sua trajetória, tem se dedicado à aplicação rigorosa do conhecimento científico para promover diagnósticos precisos, contribuindo significativamente para a qualidade do cuidado em saúde.