A fosfatase alcalina alta é um achado laboratorial comum que pode gerar dúvidas e preocupações, especialmente quando associada a sintomas ou outros exames alterados. Neste artigo, vou detalhar, para que serve o exame de fosfatase alcalina, o que significa quando o resultado está elevado, quais são as possíveis causas (inclusive em crianças e gestantes, e como interpretar corretamente os valores.
O que é a fosfatase alcalina?
A fosfatase alcalina (FA) é uma enzima presente principalmente no fígado, ossos, intestinos, rins e placenta. Ela participa de processos metabólicos importantes, como o transporte de substâncias através das membranas celulares e a formação de tecido ósseo.
O exame de fosfatase alcalina é um teste de sangue simples que mede a atividade dessa enzima no organismo, sendo frequentemente solicitado em check-ups de rotina, na avaliação da função hepática e em casos de doenças ósseas.
Fosfatase alcalina valor normal
Os valores normais da fosfatase alcalina podem variar conforme a idade, sexo, fase da vida (infância, gravidez) e metodologia laboratorial. Em geral, os valores de referência em adultos são:
Adultos: 30 a 120 U/L
Crianças e adolescentes: até 390 U/L (devido ao crescimento ósseo)
Gestantes: até 400 U/L, especialmente no terceiro trimestre
Sempre consulte o intervalo de referência do laboratório onde o exame foi realizado.
Fosfatase alcalina alta: causas e sintomas
Quando a fosfatase alcalina está acima do valor de referência, é importante investigar a origem do aumento, que pode ser hepática, óssea ou, em alguns casos, de outra natureza.
Causas comuns de fosfatase alcalina alta:
Doenças hepáticas: hepatite, colestase, obstrução biliar, cirrose, câncer de fígado
Doenças ósseas: doença de Paget, osteomalácia, fraturas recentes, metástases ósseas
Gravidez: principalmente no final da gestação (origem placentária)
Crescimento em crianças e adolescentes (fisiológico)
Uso de certos medicamentos: como anticonvulsivantes e lítio
Câncer: metástases hepáticas ou ósseas
Fosfatase alcalina elevada sintomas:
Os sintomas dependem da doença de base. Em doenças hepáticas, pode haver icterícia, dor abdominal, urina escura e fezes claras. Em doenças ósseas, dor óssea, deformidades e fraturas frequentes são comuns. Em muitos casos, o aumento da FA é assintomático e detectado somente por exames de rotina.
Fosfatase alcalina alta e câncer
Um aumento isolado e persistente da fosfatase alcalina pode ser um sinal de alerta para neoplasias, especialmente se houver suspeita de metástase óssea ou hepática. Em minha prática clínica, sempre que observo FA persistentemente acima de 200 ou 300 U/L, sem causa evidente, em conjunto com a equipe medica, indico investigação com exames de imagem, como ultrassonografia abdominal, tomografia ou cintilografia óssea.
Fosfatase alcalina alta infantil
Nos bebês, crianças e adolescentes, a fosfatase alcalina naturalmente se apresenta em níveis mais altos devido ao crescimento acelerado dos ossos. Contudo, valores muito elevados (>1000 U/L), especialmente se acompanhados de sintomas como irritabilidade, atraso no crescimento ou fraturas, merecem investigação para doenças como:
Raquitismo (deficiência de vitamina D)
Doença óssea metabólica
Leucemias infantis (em casos raros)
Fosfatase alcalina elevada na gravidez
Durante a gravidez, principalmente no terceiro trimestre, é comum a FA aumentar devido à atividade da placenta, que também produz essa enzima. No entanto, aumentos excessivos ou acompanhados de outros exames hepáticos alterados (como GAMA-GT (GGT), TGO e TGP) podem indicar colestase intra-hepática gestacional, uma condição que exige acompanhamento médico especializado.
Fosfatase alcalina baixa: o que significa?
Embora menos comum, a fosfatase alcalina baixa pode ocorrer em situações como:
Desnutrição ou dietas muito restritivas
Deficiência de zinco ou magnésio
Hipotireoidismo
Anemia severa
Doença de Wilson
Níveis muito baixos (<30 U/L) também devem ser avaliados clinicamente.
Como baixar a fosfatase alcalina?
O tratamento da fosfatase alcalina elevada depende da causa. Não se trata de “normalizar o exame”, mas sim de tratar a condição que está elevando a enzima. As medidas incluem:
Tratar infecções ou obstruções hepáticas
Corrigir deficiências nutricionais (como vitamina D e zinco)
Investigar e tratar tumores ou doenças ósseas
Ajustar medicamentos que possam estar elevando a FA
Medicamentos que podem AUMENTAR a Fosfatase Alcalina:
Fenitoína (Dilantin®)
Usada no tratamento de epilepsia. Pode causar indução enzimática hepática.
Fenobarbital
Outro antiepiléptico que estimula enzimas hepáticas e pode aumentar a FA.
Alopurinol
Utilizado para gota (excesso de ácido úrico) e hiperuricemia, pode causar elevação hepática discreta.
Antibióticos (como Eritromicina, Tetraciclina)
Alguns antibióticos podem causar colestase leve (diminuição ou interrupção do fluxo biliar) e aumentar a FA.
Anticoncepcionais orais (ACO)
Podem elevar discretamente a FA, especialmente se houver estase biliar.
Metildopa
Usado para hipertensão, pode elevar enzimas hepáticas, incluindo FA.
Lítio
Pode causar alterações no fígado e ossos, levando ao aumento da FA.
Antidepressivos tricíclicos (ex: Amitriptilina)
Associados a elevações moderadas de enzimas hepáticas.
Corticosteroides (ex: Prednisona)
Estimulam a atividade osteoblástica, podendo elevar a FA óssea.
Antifúngicos (ex: Fluconazol)
Podem causar alterações hepáticas, inclusive elevação de FA.
Terapia de reposição hormonal (TRH)
Pode provocar discreto aumento da FA hepática.
Importante:
Na prática clínica, sempre que a Fosfatase Alcalina estiver alterada, é essencial:
Avaliar o contexto clínico completo.
Verificar se o paciente faz uso de algum desses medicamentos.
Correlacionar com exames de imagem e outros marcadores (GGT, TGO, TGP, bilirrubinas, etc.).
Fosfatase alcalina elevada é grave?
A fosfatase alcalina elevada pode ser grave, dependendo do contexto clínico. Um resultado isolado, sem sintomas ou outras alterações, nem sempre representa uma doença séria. No entanto, valores persistentemente elevados, especialmente acima de 200 ou 300 U/L, devem ser investigados com atenção.
Na minha prática clínica, dou atenção especial quando há associação com sintomas, aumento de outros exames (como GGT, bilirrubinas, TGO/TGP) ou achados sugestivos de lesão óssea. Nesses casos, exames de imagem e outros marcadores são indispensáveis para o diagnóstico correto.
Conclusão
A fosfatase alcalina elevada não é uma doença em si, mas um indicativo de que algo pode não estar funcionando adequadamente no fígado, nos ossos ou em outros tecidos. Sempre reforço que a interpretação desse exame deve ser feita no contexto clínico do paciente, considerando outros exames laboratoriais, como os que mencionei a cima e, frequentemente, exames de imagem para um diagnóstico preciso.
Se você recebeu um resultado alterado, procure seu médico para uma avaliação detalhada. Nunca se baseie somente no valor isolado do exame.
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Dúvidas Frequentes
Sim, é aconselhável um jejum de cerca de 4 horas antes da coleta.
Não. A elevação da FA não está relacionada a fatores emocionais ou psicológicos.
Sim. O consumo excessivo de álcool pode afetar o fígado e causar elevação da FA, especialmente quando há dano hepático.
Lincoln Soledade, – Biomédico CRBM 41556/ES. Mestrando em Gestão em Saúde Pública. Especialista em Patologia Clínica e pós-graduado em Estética Avançada, atua desde 2018 na área de diagnóstico clínico hospitalar. Ao longo de sua trajetória, tem se dedicado à aplicação rigorosa do conhecimento científico para promover diagnósticos precisos, contribuindo significativamente para a qualidade do cuidado em saúde.