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ToggleA tireoglobulina (TG) é uma glicoproteína essencial produzida pela glândula tireoide. Sua principal função é armazenar os hormônios tireoidianos T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina). A avaliação dos níveis de tireoglobulina é amplamente utilizada no acompanhamento de doenças da tireoide, especialmente em pacientes que já tiveram câncer de tireoide ou sofrem de condições inflamatórias, como as tireoidites.
Este artigo vai te explicar de maneira clara como interpretar os resultados de tireoglobulina, levando em consideração os valores de referência, as possíveis causas de alteração nos níveis de tireoglobulina (TG) e os exames complementares necessários para um diagnóstico preciso.
O Que é a Tireoglobulina?
A tireoglobulina é uma proteína de alto peso molecular, secretada pelas células foliculares da tireoide. Sob a ação do hormônio estimulante da tireoide (TSH), ela desempenha um papel importante no armazenamento de hormônios tireoidianos.
Valores de referência: Em pessoas saudáveis, a tireoglobulina circulante costuma variar entre 1,5 a 60 ng/mL, com possíveis variações, como em recém-nascidos e no terceiro trimestre da gravidez.
Função da Tireoglobulina
A tireoglobulina atua como um precursor dos hormônios tireoidianos. A partir dela, o corpo consegue produzir e liberar os hormônios T3 e T4 quando estimulados pelo TSH. A medição desse marcador é importante porque reflete o funcionamento da glândula tireoide e pode indicar a presença de tecidos tireoidianos funcionais.
Tireoglobulina Alta: Quais as Implicações?
Níveis elevados de tireoglobulina podem indicar uma série de condições, entre elas:
- Carcinoma papilífero e folicular da tireoide
- Tireoidite subaguda
- Doença de Graves
- Tireoidite de Hashimoto
Em pacientes com histórico de câncer de tireoide, a tireoglobulina serve como um marcador fundamental para identificar a recorrência do câncer, especialmente após procedimentos como tireoidectomia ou ablação com iodo radioativo. Nesses casos, o aumento nos níveis de tireoglobulina pode sugerir a presença de tecido tireoidiano residual ou metástase.
No entanto, é importante destacar que, em casos de carcinoma medular da tireoide, os níveis de tireoglobulina normalmente não estão aumentados, já que este tipo de câncer não produz tireoglobulina.
Condições Relacionadas
Além do câncer de tireoide, outras doenças também podem causar tireoglobulina elevada, como:
- Tireoidite de Hashimoto: Doença autoimune que destrói lentamente a tireoide.
- Doença de Graves: Caracterizada pelo hipertireoidismo.
- Tireoidite subaguda: Inflamação temporária da tireoide, geralmente causada por infecções virais.
Tireoglobulina Baixa: Quando se Preocupar?
Por outro lado, a tireoglobulina baixa geralmente não é preocupante, especialmente após a remoção total da tireoide ou após tratamento com iodo radioativo, que destrói o tecido tireoidiano restante.
Baixos níveis de tireoglobulina também são esperados em casos de:
- Tireotoxicose devido ao uso excessivo de hormônios tireoidianos.
- Supressão da função tireoidiana em pacientes que fazem uso prolongado de hormônios tireoidianos sintéticos, como a levotiroxina.
Nesses casos, o nível baixo de tireoglobulina reflete a supressão ou ausência de tecido tireoidiano funcional.
Anti-Tireoglobulina: Qual a Relação?
Os anticorpos anti-tireoglobulina são frequentemente encontrados em pacientes com doenças autoimunes da tireoide, como tireoidite de Hashimoto e doença de Graves. A presença desses anticorpos pode interferir na dosagem de tireoglobulina, tornando os resultados menos confiáveis.
Por isso, é comum que médicos solicitem a dosagem de anti-tireoglobulina em conjunto com o exame de tireoglobulina para uma avaliação mais precisa. A presença de anticorpos pode alterar os níveis de tireoglobulina, dificultando a interpretação isolada desse marcador.
Tireoglobulina Alta: Sintomas Associados
Embora a tireoglobulina alta não cause sintomas por si só, ela pode estar associada a condições tireoidianas subjacentes que produzem sintomas de hipertireoidismo ou hipotireoidismo, como:
- Fadiga extrema
- Perda ou ganho de peso
- Nódulos no pescoço
- Alterações de humor
- Sensação de calor ou frio excessivo
Esses sintomas, associados a doenças da tireoide, devem ser levados em consideração na avaliação clínica de pacientes com níveis anormais de tireoglobulina.
Exames Complementares para Avaliação da Tireoglobulina
A dosagem de tireoglobulina é frequentemente realizada em conjunto com outros exames que avaliam a função tireoidiana, como:
- TSH (hormônio estimulante da tireoide): Avalia o estímulo da tireoide pela hipófise.
- T4 Livre e T3 Livre: Medem os níveis de hormônios tireoidianos ativos no sangue.
- Anti-TPO: Detecta a presença de anticorpos contra a tireoide, comum em doenças autoimunes.
Anti-tireoglobulina – Mede a quantidade de anticorpos que o corpo produz contra a tireoglobulina
Esses exames fornecem uma visão mais ampla do funcionamento da tireoide e são fundamentais para o diagnóstico correto de doenças tireoidianas.
Veja a interpretação conjunta dos resultados – Anti-TG, Anti-TPO, T4 Livre, T3 Livre e TSH.
Conclusão
A dosagem de tireoglobulina é um exame essencial no monitoramento de pacientes com câncer de tireoide e outras doenças tireoidianas. Seus níveis podem fornecer informações valiosas sobre a presença de tecido tireoidiano residual ou inflamatório, além de ajudar a monitorar a eficácia do tratamento. Para uma avaliação mais precisa, é importante considerar também exames complementares como TSH, T4 livre e anticorpos anti-tireoglobulina.
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Dúvidas Frequentes
Não é necessário jejum.
Além dos exames de sangue citados acima, o ideal é fazer uma USG (ultrassonografia) da tireoide.
A tireoidite (inflamação da glândula tireoide), pode ser causada por fatores diversos, como infecções virais (coxsackievirus, adenovírus, vírus da caxumba e sarampo), disfunções autoimunes ou até por intoxicações medicamentosas, como o uso de amiodarona, entre outros.
Certos alimentos e substâncias que consumimos podem afetar a saúde da tireoide, principalmente interferindo na produção dos hormônios tireoidianos. Aqui estão alguns exemplos:
Alimentos ricos em iodo: O iodo é essencial para o funcionamento da tireoide, mas tanto a deficiência quanto o excesso podem causar problemas. Alimentos como algas marinhas, peixes, e sal iodado são ricos nesse mineral.
Soja e derivados: O consumo excessivo de soja e produtos derivados, como tofu e leite de soja, pode interferir na função tireoidiana, especialmente em pessoas com tendência ao hipotireoidismo.
Vegetais crucíferos: Alimentos como brócolis, couve-flor, couve e repolho contêm substâncias que podem interferir na produção de hormônios tireoidianos, especialmente se consumidos em grandes quantidades e crus.
Glúten: Em pessoas com doença celíaca ou sensibilidade ao glúten, o consumo de alimentos como trigo, cevada e centeio pode desencadear inflamações autoimunes, afetando a tireoide.
Açúcar e carboidratos refinados: O consumo excessivo de açúcares e carboidratos refinados pode influenciar negativamente a função tireoidiana ao promover inflamações no corpo.
Flúor e cloro: Presentes em água tratada e alguns produtos, essas substâncias podem interferir na absorção de iodo pela tireoide.
Moderar o consumo desses alimentos e manter uma dieta equilibrada é importante para preservar a saúde da tireoide e garantir o seu bom funcionamento.
Lincoln Soledade, – Biomédico CRBM 41556/ES. Possui especialização em Patologia Clínica, pós-graduado em Biomedicina Estética Avançada, atua na área de diagnóstico clínico hospitalar, desde o início de sua carreira em 2018.