A progesterona é um hormônio essencial para a saúde reprodutiva feminina, mas também está presente nos homens. Quando seus níveis estão baixos ou elevados, isso pode indicar alterações hormonais relevantes, impactar a fertilidade e até sinalizar problemas na gravidez. Neste guia completo, vou te explicar objetivamente, o que é a progesterona, para que serve o exame, quais são os sintomas da progesterona baixa ou alta e como interpretar corretamente os resultados.
O Que é a Progesterona?
A progesterona é um hormônio esteroide produzido pelo corpo lúteo dos ovários após a ovulação. Ela também é secretada em pequenas quantidades pelas glândulas adrenais, tanto em homens quanto em mulheres, e desempenha um papel importante como precursora dos estrogênios, androgênios e corticosteroides.
Durante a fase folicular (antes da ovulação), os níveis de progesterona no sangue permanecem baixos. Após a ovulação, os níveis aumentam significativamente, promovendo modificações no endométrio uterino que o tornam apto a receber um embrião. Caso ocorra fecundação, a implantação estimula a produção do hormônio hCG (gonadotrofina coriônica humana), que mantém o corpo lúteo ativo e sustenta a secreção de progesterona até que a placenta assuma essa função ao final do primeiro trimestre.
Se não houver gravidez, os níveis caem rapidamente e voltam aos valores da fase folicular poucos dias antes da menstruação. Por isso, a progesterona é considerada um marcador importante de ovulação e viabilidade gestacional.
Para Que Serve o Exame de Progesterona?
O exame de progesterona é uma ferramenta essencial para avaliar a saúde hormonal, indicado para:
Confirmar se houve ovulação
Avaliar a fase lútea do ciclo menstrual
Investigar causas de infertilidade
Monitorar a saúde do início da gravidez
Diagnosticar disfunções hormonais
Avaliar sangramentos uterinos fora do período menstrual
Identificar possíveis abortos espontâneos
Quando Fazer o Exame de Progesterona?
O momento ideal para dosar a progesterona depende do objetivo da investigação:
Para confirmar ovulação: cerca de 7 dias após o pico do LH (hormônio luteinizante) normalmente no 21º dia do ciclo.
Para avaliar gestação: em qualquer fase do primeiro trimestre.
Para investigar distúrbios hormonais: conforme orientação médica, com base no histórico clínico.
Valores de Referência da Progesterona (Atualizados)
Os valores normais de progesterona variam conforme o sexo, idade, fase do ciclo menstrual, trimestre da gravidez ou entre laboratórios:
Mulheres não grávidas
Fase folicular média (dias 1 a 13): 0,31 a 1,52 ng/mL
Fase lútea média (dias 15 a 28): 5,16 a 18,56 ng/mL
Pós-menopausa (sem terapia hormonal)
Inferior a 0,78 ng/mL
Mulheres grávidas
1º trimestre: 4,73 a 50,74 ng/mL
2º trimestre: 19,41 a 45,30 ng/mL
Homens
0,14 a 2,06 ng/mL
Esses valores podem variar conforme o método do laboratório.
Progesterona Baixa: Sintomas e Possíveis Causas
A progesterona baixa é uma das principais causas de infertilidade feminina e pode estar associada à disfunção da fase lútea (dias 15 a 28), alterações na ovulação ou problemas na gravidez inicial.
Sintomas Mais Comuns: Progesterona Baixa
Menstruação irregular
Sangramentos entre os ciclos
TPM severa
Dificuldade para engravidar
Aborto espontâneo
Insônia
Irritabilidade
Sensibilidade mamária
Queda de cabelo
Possíveis Causas: Progesterona Baixa
Síndrome dos ovários policísticos (SOP)
Estresse crônico
Hipotireoidismo
Falência ovariana precoce
Disfunção da fase lútea
Fatores nutricionais e ambientais
Progesterona Alta: Sintomas e Significados
A progesterona alta pode estar associada à gravidez, ao uso de medicamentos hormonais ou, em alguns casos, a cistos ovarianos funcionais.
Sintomas Possíveis: Progesterona Alta
Fadiga intensa
Inchaço abdominal
Sensibilidade nas mamas
Mudanças de humor
Retenção de líquidos
Sonolência
Causas Comuns: Progesterona Alta
Gravidez
Suplementação hormonal
Fertilização in vitro (FIV)
Cistos ovarianos
Hiperplasia adrenal
Interpretação do Exame de Progesterona
Mulheres em idade fértil
Fase folicular (baixa): esperado
Fase lútea (5,16 ng/mL ou mais): confirma ovulação
Abaixo de 3 ng/mL na fase lútea: pode indicar anovulação ou corpo lúteo deficiente
Durante a gravidez
Aumento progressivo sugere gravidez viável
Níveis baixos e estáticos exigem ecografia para verificar a saúde do embrião
A Importância da Progesterona na Fertilidade e Gravidez
A presença do corpo lúteo funcional garante a produção adequada de progesterona após a ovulação. Esse hormônio prepara o útero para a implantação e mantém a gestação nas primeiras semanas. A partir do final do terceiro trimestre, a placenta assume essa função, mantendo os níveis hormonais elevados.
Se não há implantação, os níveis caem bruscamente, iniciando a menstruação. Por isso, o exame é útil tanto na avaliação da fertilidade quanto na confirmação de abortos silenciosos ou risco gestacional.
Como Aumentar a Progesterona Naturalmente
Algumas ações podem auxiliar o organismo a produzir progesterona equilibradamente
Reduzir o estresse e melhorar a qualidade do sono
Consumir alimentos como sementes de abóbora, inhame e nozes
Evitar excesso de cafeína e álcool
Praticar atividade física regular
Uso de fitoterápicos como o vitex agnus-castus (sob orientação)
Tratamentos Disponíveis Para Progesterona Baixa
Quando os níveis estão persistentemente baixos, o médico pode indicar:
Suplementos de progesterona (em cápsulas, gel ou injetável)
Modulação hormonal com contraceptivos ou reposição
Indução da ovulação em casos de infertilidade
Suporte em ciclos de fertilização (FIV ou inseminação)
Progesterona em Gel: Quando é Indicada?
A progesterona em gel vaginal é muito utilizada por sua boa absorção e ação local, sendo frequentemente prescrita na forma bio idêntica, por oferecer melhor compatibilidade com o organismo. Ela pode ser indicada para:
Suporte na fase lútea de tratamentos de reprodução assistida
Reposição hormonal em mulheres na menopausa
Tratamento de sangramentos uterinos disfuncionais
Conclusão
A dosagem de progesterona é um exame simples, mas de grande valor diagnóstico. Ele ajuda a avaliar a fertilidade, identificar disfunções hormonais e monitorar a saúde da gravidez. Tanto valores baixos quanto elevados devem ser interpretados à luz do ciclo menstrual, sintomas clínicos e outros exames complementares como, FSH, TSH e T4-LIVRE.
Se você está tentando engravidar, teve abortos espontâneos ou apresenta sintomas hormonais, converse com seu médico sobre a importância de verificar seus níveis de progesterona e exames complementares.
BRADSHAW, H. B. Progesterone and related signaling molecules: Metabolism, structure, and function. Journal of Steroid Biochemistry and Molecular Biology, v. 213, p. 105964, 2021. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jsbmb.2021.105964.
HAGAN, C. R.; FADEYI, O. O.; WAGNER, B. L.; HORWITZ, K. B. Progesterone receptors: Form and function in normal and malignant breast tissue. Pharmacology & Therapeutics, v. 202, p. 1–20, 2019. DOI: https://doi.org/10.1016/j.pharmthera.2019.06.004.
PATEL, B. G. et al. Role of progesterone and its metabolites in uterine physiology. Frontiers in Neuroscience, v. 9, p. 202, 2020. DOI: https://doi.org/10.3389/fnins.2020.00202.
SCHINDELER, A.; BUTLER, T. L.; WANG, T. Progesterone in assisted reproduction and pregnancy maintenance: A systematic review. Reproductive Biology and Endocrinology, v. 18, n. 1, p. 1–12, 2020. DOI: https://doi.org/10.1186/s12958-020-00622-3.
LU, Y. et al. Serum progesterone levels and pregnancy outcomes in women undergoing luteal phase support: a meta-analysis. Fertility and Sterility, v. 117, n. 5, p. 956–964, 2022. DOI: https://doi.org/10.1016/j.fertnstert.2022.01.010.
ISHIMOTO, H.; JINNO, M. The role of progesterone signaling in the endometrium and placenta during pregnancy. Journal of Molecular Endocrinology, v. 65, n. 2, p. R53–R65, 2020. DOI: https://doi.org/10.1530/JME-20-0062.
Dúvidas Frequentes
Não. O exame é realizado sem necessidade de jejum.
Sim. Níveis baixos de progesterona podem dificultar a ovulação ou comprometer a fase lútea do ciclo menstrual, levando a atrasos menstruais, ciclos irregulares ou até amenorreia (ausência de menstruação). O desequilíbrio hormonal é uma das causas mais comuns para alterações no padrão menstrual.
A progesterona natural (bioidêntica) tem estrutura idêntica à produzida pelo corpo humano, sendo melhor tolerada e com menos efeitos colaterais. Já a progesterona sintética (progestina) possui alterações químicas, podendo causar mais reações adversas, como retenção de líquidos e mudanças de humor. Ambas têm indicações médicas específicas.
A progesterona tem ação antiestrogênica sobre o endométrio. Em mulheres com endometriose, pode haver resistência à progesterona, dificultando a ação terapêutica do hormônio e contribuindo para a progressão da doença. Por isso, muitos tratamentos utilizam progestagênios para tentar reduzir os focos endometrióticos e aliviar a dor.
Sim. Mulheres com insuficiência ovariana precoce podem apresentar níveis persistentemente baixos de progesterona, mesmo antes dos 40 anos. Os sintomas se assemelham à menopausa, como ondas de calor, irregularidade menstrual, insônia, irritabilidade e secura vaginal.
A progesterona bioidêntica é frequentemente preferida por sua estrutura idêntica à natural, menor taxa de efeitos colaterais e boa absorção, principalmente nas formas transdérmica ou vaginal. No entanto, a escolha entre bioidêntica ou sintética depende do caso clínico e da orientação médica.
Dra. Mariana Soares – biomédica patologista clínica, com uma carreira sólida e reconhecida no campo das análises laboratoriais e diagnóstico clínico. Formada em Biomedicina, é inscrita no Conselho Regional de Biomedicina (CRBM 60562/ES), atua com compromisso e ética profissional, buscando constantemente a excelência na qualidade dos serviços de saúde.