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ToggleO ciclo do sono é um pilar fundamental da saúde, tão vital quanto uma alimentação equilibrada ou a prática de exercícios. Em um mundo onde a produtividade é glorificada, milhões de pessoas negligenciam suas noites de descanso, ignorando que dormir mal está ligado a doenças crônicas, declínio cognitivo e desequilíbrios emocionais. Neste artigo, vou explicar as complexidades do sono, explorando suas fases, distúrbios comuns e estratégias para transformar suas noites em aliadas da saúde.
Por Que Dormimos? As Funções Ocultas do Sono
O sono vai além de simplesmente “recarregar as energias”. Costumo dizer que ele é um processo ativo com funções biológicas críticas, vamos ver essas funções mais detalhadas abaixo:
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Restauração Celular: Durante o sono profundo, tecidos são reparados, músculos se regeneram e hormônios como o GH (hormônio do crescimento). Esse processo é fundamental para a recuperação física, fortalecimento do organismo e prevenção do envelhecimento precoce.
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Consolidação da Memória: O cérebro processa informações do dia, transferindo aprendizados do hipocampo para o córtex cerebral, solidificando memórias de longo prazo. Eu sempre digo, que esse processo é uma verdadeira “limpeza”, pois ele não apenas organiza e armazena as memórias, mas também descarta informações desnecessárias, tornando o cérebro mais eficiente.
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Regulação Emocional: A privação do sono está diretamente ligada à aumento de ansiedade e depressão, já que o sono REM modula neurotransmissores como serotonina e dopamina.
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Defesa Imunológica: Estudos mostram que quem dorme menos de 6 horas por noite tem 4 vezes mais risco de resfriados devido à redução na produção de citocinas protetoras.
As Fases do Sono: Uma Jornada Cíclica
O sono é dividido em ciclos de 90-120 minutos, compostos por fases NREM e REM, que juntos formam o ciclo do sono, que se repetem 4 a 6 vezes por noite.
Os Ciclos do Sono
Sono NREM
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Fase 1 (Leve): Transição entre vigília e sono, com duração de 1-5 minutos. Facilmente interrompida por barulhos.
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Fase 2 (Moderado): Corresponde a 45-55% do sono total. A atividade cerebral desacelera, preparando o corpo para o sono profundo.
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Fase 3 (Profundo): Crucial para a recuperação física. Nesta fase, ocorre a ativação do sistema glinfático, responsável por “limpar” toxinas cerebrais ligadas a doenças como Alzheimer.
Sono REM
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Surge após ~90 minutos de sono, com aumento da atividade cerebral, semelhante ao estado de vigília.
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Funções-chave: Processamento emocional, criatividade e fixação de memórias complexas.
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Adultos saudáveis passam 20-25% do sono em REM, mas bebês podem chegar a 50%.
Mito Comum: REM vs. Sono Profundo
Ao contrário do que muitos pensam, o sono profundo (NREM Fase 3) é mais restaurador fisicamente, enquanto o REM é vital para a saúde mental. Ambos são complementares.
Quanto Sono Você Precisa?
A recomendação padrão para adultos é 7-9 horas por noite, mas a qualidade importa mais que a quantidade:
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Sono profundo ideal: 1h30 a 2h por noite (equivalente a 15-20% do total).
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Cálculo de ciclos: Utilize nossa calculadora de ciclos de sono para acordar no final de um ciclo, evitando sonolência. Exemplo: Se dormir às 23h, programe o despertar para 6h30 (5 ciclos de 90 minutos), ou conforme os resultados desejados.
Privação de Sono: Um Risco Silencioso
Dormir menos que 6 horas regularmente desencadeia efeitos em cascata:
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24 horas sem dormir: Compromete a coordenação motora tanto quanto uma alcoolemia de 0,1% (acima do limite legal para dirigir em muitos países).
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Efeitos a longo prazo:
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↑ 40% risco de obesidade, devido à desregulação de grelina (Hormônio da Fome) e leptina (Hormônio da Saciedade).
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↑ 33% risco de demência, segundo a Neurology Academy.
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Queda de 30% na eficácia de vacinas, conforme estudo da Universidade de Chicago.
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5 Doenças do Sono Que Você Precisa Conhecer
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Apneia Obstrutiva do Sono: Pausas respiratórias repetidas, associadas a ronco e risco cardiovascular. Tratamento inclui CPAP e cirurgia.
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Insônia Crônica: Afeta 30% da população. Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC-I) é mais eficaz que medicamentos a longo prazo.
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Narcolepsia: Sonolência diurna excessiva com “ataques de sono” repentinos. Diagnóstico requer polissonografia.
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Síndrome das Pernas Inquietas: Sensação de formigamento nas pernas, aliviada por movimento. Ligada à deficiência de ferro.
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Distúrbio do Ritmo Circadiano: Comum em trabalhadores noturnos. A luz azul de telas piora o quadro ao suprimir melatonina.
Como Melhorar a Qualidade do Sono: Dados pela Ciência
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Ritual Noturno:
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2h antes de dormir: Evite telas (use filtros de luz azul se necessário).
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Ambiente: Mantenha o quarto a 18-20°C e escuro (cortinas blackout ou máscara).
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Técnicas de Relaxamento:
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Respiração 4-7-8: Inspire por 4 segundos, segure por 7, expire por 8.
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Músicas para sono: Frequências binaurais (40-60 Hz) ou playlists com ondas delta (ex: Spotify).
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Ferramentas Úteis:
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Apps: SleepScore (monitoramento via sonar), Headspace (meditações guiadas).
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Dispositivos: Anéis inteligentes (Oura) ou colchões ajustáveis (Sleep Number).
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Conclusão: Sono como Prioridade, Não Luxo
Investir em noites bem-dormidas é um ato de autocuidado com impactos profundos na longevidade e qualidade de vida. Se sintomas como ronco alto, sonolência diurna persistente ou dificuldade para adormecer forem frequentes, consulte um especialista em medicina do sono. Lembre-se: uma noite mal dormida é um dia menos vivido.
Minha Dica: Experimente manter uma Rotina do sono por uma semana. Registre horários, alimentação noturna e humor ao acordar. Muitos descobrem padrões surpreendentes que podem ser ajustados para noites mais revigorantes.
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Dúvidas Frequentes
Embora dormir mais no final de semana ajude a recuperar parte do descanso perdido, não é uma solução ideal. A privação crônica de sono afeta a saúde e o desempenho cognitivo significativamente, e compensar o sono perdido não resolve os danos acumulados.
Acordar cansado pode ser um sinal de que você está tendo um sono de má qualidade, não atingindo as fases mais profundas do sono ou sendo interrompido frequentemente durante a noite. Distúrbios como apneia do sono ou insônia podem ser a causa.
Algumas práticas que podem melhorar a qualidade do sono incluem manter um horário regular de sono, evitar o uso de eletrônicos antes de dormir, praticar atividades relaxantes como meditação ou leitura, e criar um ambiente adequado para o descanso (silencioso, escuro e com temperatura confortável).
A apneia do sono é um distúrbio caracterizado pela interrupção temporária da respiração durante o sono. Isso pode ocorrer várias vezes durante a noite, afetando a qualidade do sono e resultando em sonolência diurna excessiva, cansaço e até mesmo aumento do risco de problemas cardiovasculares.

Lincoln Soledade, – Biomédico CRBM 41556/ES. Possui especialização em Patologia Clínica, pós-graduado em Biomedicina Estética Avançada, atua na área de diagnóstico clínico hospitalar, desde o início de sua carreira em 2018.