O exame de LH, que mede os níveis do hormônio luteinizante no sangue, é uma ferramenta essencial na avaliação do sistema reprodutor. Ele auxilia na investigação de alterações hormonais, infertilidade, distúrbios menstruais, puberdade precoce e outras condições clínicas tanto em mulheres quanto em homens.
Neste guia completo, te explico detalhadamente o que é o hormônio LH, como funciona o exame, quais são os valores de referência e as principais situações clínicas associadas a alterações nesse hormônio, sempre com base em evidências científicas atualizadas.
O que é o LH (hormônio luteinizante)?
O LH (hormônio luteinizante) é produzido pela glândula hipófise anterior e desempenha papel fundamental na regulação do sistema endócrino reprodutivo, a seguir, veja como esse hormônio influencia o organismo em cada caso.
LH (hormônio luteinizante) Nas mulheres
O LH é responsável por:
Estimular a liberação do óvulo (ovulação);
Promover a formação do corpo lúteo, que produz progesterona;
Regular os eventos do ciclo menstrual;
Contribuir para a fertilidade.
LH (hormônio luteinizante) Nos homens
No sexo masculino, o LH atua nas células de Leydig dos testículos, estimulando a produção de testosterona, fundamental para o desenvolvimento sexual e para a produção de espermatozoides.
Para que serve o exame de LH?
O exame de sangue LH permite avaliar os níveis hormonais e diagnosticar ou monitorar:
Alterações no ciclo menstrual;
Problemas de fertilidade;
Menopausa e falência ovariana precoce;
Distúrbios da puberdade (precoce ou tardia);
Andropausa ou disfunções testiculares nos homens;
Eficácia de tratamentos hormonais.
Como é feito o exame de LH?
A coleta é feita por meio de exame de sangue simples. Geralmente, é conselhável um jejum de 4 horas antes da coleta, mas sempre siga as orientações do laboratório.
Quando colher o exame de LH?
Essa é uma dúvida que sempre me perguntam, e nem sempre é devidamente esclarecida por todos os profissionais de saúde. No caso das mulheres, a fase do ciclo menstrual pode influenciar diretamente nos níveis de LH. Por isso, a coleta do exame costuma ser indicada entre o 2º e o 5º dia do ciclo, salvo se houver orientação médica diferente.
Valores de referência do exame de LH
Os valores de LH variam conforme o sexo, idade e fase do ciclo menstrual como mencionei a cima. Veja os intervalos atualizados, com base em laboratórios brasileiros e diretrizes clínicas recentes:
Valor de referência do exame de LH em Mulheres:
Fase folicular (início do ciclo) — 2,12 a 10,89 mUI/mL
Essa fase começa no primeiro dia da menstruação e vai até pouco antes da ovulação. É chamada de “folicular” porque os folículos ovarianos (estruturas que contêm os óvulos) começam a se desenvolver, estimulados principalmente pelo FSH, mas com participação do LH. Os níveis de LH ainda são baixos ou moderados aqui.
Pico ovulatório (meio do ciclo) — 19,18 a 103,03 mUI/mL
Ocorre no meio do ciclo, geralmente por volta do 14º dia (em ciclos de 28 dias). Nesse momento, há um aumento brusco do LH, chamado de “pico de LH“, que estimula a liberação do óvulo pelo ovário — ou seja, a ovulação. Essa é a fase mais fértil do ciclo.
Fase lútea (fim do ciclo) — 1,20 a 12,86 mUI/mL
Essa fase acontece após a ovulação, durando até o início da próxima menstruação. O LH estimula a formação do corpo lúteo, uma estrutura que produz progesterona para preparar o útero para uma possível gravidez. Se a fecundação não ocorrer, os níveis hormonais caem e o ciclo recomeça.
Pós-menopausa — 10,87 a 58,64 mUI/mL
Após a menopausa — sendo o encerramento natural dos ciclos menstruais — os ovários deixam de produzir estrogênio e progesterona. Como resposta, a hipófise tenta compensar essa falha aumentando a produção de FSH e LH, o que faz com que os níveis desses hormônios fiquem permanentemente elevados. Ou seja, um LH alto na pós-menopausa é esperado e fisiológico.
Essa elevação hormonal é útil para confirmar se a mulher entrou na menopausa, especialmente em casos de dúvidas ou quando os sintomas estão começando.
Veja qual é a sua chance de estar entrando na menopausa.
Valor de referência do exame de LH em Homens:
Adultos: 1,24 a 8,62 mUI/mL
Gráfico do Ciclo Menstrual e Níveis Hormonais
O gráfico mostra como variam os hormônios LH, FSH, estrogênio e progesterona ao longo dos 28 dias do ciclo menstrual:
Fase Folicular (dias 1 a 13): FSH estimula os folículos e o estrogênio cresce preparando o útero.
Ovulação (dias 13 a 15): Pico de LH provoca a liberação do óvulo.
Fase Lútea (dias 15 a 28): Progesterona aumenta para manter o endométrio. Estrogênio sobe um pouco.
Sem fecundação: Estrogênio e progesterona caem e ocorre a menstruação.
Essas variações hormonais são essenciais para a fertilidade e o funcionamento saudável do ciclo menstrual.
Crianças e puberdade precoce:
Conforme o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da Puberdade Precoce Central (Ministério da Saúde, 2017), valores basais de LH acima de 0,3 mUI/mL em crianças podem confirmar o diagnóstico de puberdade precoce central, tanto em meninos quanto em meninas.
Contudo, em meninas, há sobreposição entre valores pré-púberes e início da puberdade, tornando necessário o teste de estímulo com GnRH. Se não estiver disponível, o teste com agonista de GnRH, como a leuprorrelina, pode ser utilizado.
Além disso, a relação LH/FSH maior que 1 é comum em indivíduos púberes, podendo auxiliar na distinção entre puberdade precoce progressiva e não progressiva.
LH alto: o que significa?
Níveis elevados de LH indicam, na maioria dos casos, uma disfunção ovariana ou testicular. Esse aumento é uma tentativa do cérebro de estimular os órgãos reprodutivos, que não estão respondendo adequadamente.
Causas mais comuns de LH elevado:
Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP);
Menopausa natural ou precoce;
Ovário resistente ou falência ovariana;
Tumores hipofisários produtores de gonadotrofinas;
Disgenesias gonadais, como a síndrome de Turner.
LH alto sintomas em mulheres:
Menstruação irregular ou ausente;
Dificuldade para engravidar;
Sintomas semelhantes à menopausa precoce;
Aumento de pelos corporais ou acne.
LH alto na menopausa
Durante a menopausa, o ovário deixa de responder à estimulação hormonal. Como resposta, a hipófise aumenta significativamente a produção de LH e FSH. Um LH elevado nessa fase é esperado e ajuda a confirmar o diagnóstico clínico.
LH baixo: o que pode indicar?
LH abaixo do normal pode ser sinal de hipofunção do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, comprometendo ovulação, produção de testosterona e fertilidade.
Causas comuns de LH baixo:
Hipopituitarismo (baixa produção de hormônios pela hipófise);
Transtornos alimentares (ex: anorexia nervosa);
Estresse físico ou emocional intenso;
Uso de anticoncepcionais hormonais ou anabolizantes;
Tumores hipotalâmicos.
Sintomas de LH baixo:
Ausência de menstruação (amenorreia);
Falta de ovulação;
Redução da libido;
Infertilidade em homens e mulheres.
LH e fertilidade
O LH é um dos principais hormônios relacionados à fertilidade, especialmente feminina. O pico de LH ocorre cerca de 24 a 36 horas antes da ovulação, sendo um marcador confiável para o período fértil.
Exame de LH para detectar ovulação
Mulheres que desejam engravidar podem monitorar o pico de LH com exames laboratoriais ou testes de farmácia, chamados de testes de ovulação. A identificação do pico ajuda a determinar o melhor momento para a fecundação, além disso, temos uma calculadora de ovulação que pode te auxiliar.
Doenças e condições relacionadas ao LH
Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP)
Na SOP, a relação LH/FSH costuma estar aumentada, dificultando a ovulação. O exame de LH é uma ferramenta essencial no diagnóstico da SOP, principalmente quando há menstruação irregular, infertilidade, acne e aumento de pelos.
Puberdade precoce ou tardia
LH alto em crianças sugere puberdade precoce (ativação antecipada do eixo hormonal).
LH baixo em adolescentes com atraso puberal pode indicar falha da hipófise ou hipotálamo.
Recomendo o teste de estímulo com GnRH é o padrão ouro nesses casos, é fundamental conversar com seu médico de confiança para avaliar a necessidade do exame.
LH em homens
Nos homens, níveis altos de LH podem sugerir falência testicular, enquanto níveis baixos apontam para problemas na hipófise ou hipotálamo, afetando a produção de testosterona e a fertilidade.
Qual médico pode solicitar o exame de LH?
Ginecologista – alterações menstruais, SOP, infertilidade;
Endocrinologista – distúrbios hormonais;
Urologista – avaliação da fertilidade e andropausa;
Pediatra – investigação de puberdade precoce ou atrasada;
Clínico geral – avaliação inicial.
Diferença entre LH e FSH
Ambos são hormônios gonadotróficos, mas com funções distintas:
Hormônio | Função |
---|---|
LH | Estimula ovulação e produção de testosterona |
FSH | Estimula crescimento dos folículos ovarianos e espermatogênese |
A relação entre os dois é especialmente importante em diagnósticos como SOP e puberdade precoce.
Onde fazer o exame de LH?
O exame pode ser realizado em:
Laboratórios de análises clínicas;
Clínicas de fertilidade;
Hospitais com especialidades em endocrinologia ou ginecologia.
Conclusão
O exame de LH é essencial para o diagnóstico de diversas condições hormonais, sendo especialmente útil para avaliar fertilidade, ovulação, SOP, menopausa e distúrbios da puberdade.
Interpretar corretamente os níveis de LH – com base na idade, sexo e fase do ciclo menstrual – é fundamental para uma avaliação clínica precisa.
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Dúvidas Frequentes
Sim, é aconselhável um jejum de cerca de 4 horas antes da coleta.
No entanto, sempre siga as orientações específicas fornecidas pelo seu médico ou laboratório.
Sim. Na fase inicial da perimenopausa, os níveis hormonais ainda podem estar dentro da faixa de referência, mas oscilam com frequência.
Sim, o aumento súbito do LH (pico de LH) é o principal gatilho para a ovulação. Por isso, testes de ovulação detectam esse pico.
Lincoln Soledade, – Biomédico CRBM 41556/ES. Mestrando em Gestão em Saúde Pública. Especialista em Patologia Clínica e pós-graduado em Estética Avançada, atua desde 2018 na área de diagnóstico clínico hospitalar. Ao longo de sua trajetória, tem se dedicado à aplicação rigorosa do conhecimento científico para promover diagnósticos precisos, contribuindo significativamente para a qualidade do cuidado em saúde.