O exame de microalbuminúria é um dos testes laboratoriais mais importantes para identificar lesões renais precoces, especialmente em pessoas com diabetes e hipertensão. Ele mede a quantidade de albumina, uma proteína do sangue, que passa para a urina — um sinal inicial de que os rins podem estar começando a perder sua função de filtragem.
Entender como esse exame funciona, seus valores normais e o que fazer em caso de microalbuminúria alta é fundamental para proteger a saúde renal e evitar complicações graves.
O que é o Exame de Microalbuminúria?
A microalbuminúria é definida pela presença de pequenas quantidades de albumina na urina — entre 30 e 300 mg por dia. Em condições normais, os rins impedem a passagem de proteínas para a urina, mas quando ocorre lesão nos glomérulos (estruturas de filtração renal), parte dessa proteína escapa.
O exame é realizado a partir de uma amostra de urina — seja de coleta única (spot) ou de 24 horas — e pode identificar precocemente sinais de lesão renal, antes mesmo que os níveis de creatinina ou ureia estejam alterados.
Para que Serve o Exame de Microalbuminúria?
O exame de microalbuminúria permite avaliar a integridade da função renal e detectar doença renal em estágios iniciais. Ele é especialmente indicado para:
Pacientes com diabetes tipo 1 e tipo 2
Pessoas com hipertensão arterial crônica
Indivíduos com histórico familiar de doença renal
Casos de doença cardiovascular
Ao detectar microalbuminúria elevada, o médico pode intervir precocemente com mudanças no estilo de vida e medicamentos, prevenindo a progressão para proteinúria e insuficiência renal crônica.
Exame de Microalbuminúria Alta: o que significa?
Quando o resultado do exame mostra microalbuminúria alta, isso indica haver vazamento de proteínas pela urina, sugerindo lesão renal precoce. Esse quadro pode estar relacionado a diversas condições médicas.
As principais causas incluem:
Microalbuminúria e Diabetes
A diabetes é a principal causa de microalbuminúria. O excesso de glicose no sangue danifica os vasos renais e afeta a barreira de filtração, permitindo a passagem de albumina.
Esse é o primeiro sinal da nefropatia diabética, uma complicação que pode evoluir para falência renal se não tratada.
Microalbuminúria e Hipertensão
A hipertensão arterial constante exerce pressão sobre os capilares renais, provocando microlesões. Com o tempo, isso resulta em microalbuminúria persistente, mesmo na ausência de diabetes.
Controlar a pressão é essencial para prevenir danos irreversíveis aos rins.
Outras Causas Possíveis
Doenças inflamatórias renais
Uso prolongado de anti-inflamatórios e analgésicos
Infecções urinárias frequentes
Exercício físico intenso ou desidratação temporária
A boa notícia é que, em alguns casos, a microalbuminúria pode ser transitória, desaparecendo após repouso e hidratação adequados.
Como é Feito o Exame de Microalbuminúria?
Existem dois principais métodos de avaliação:
1. Urina de 24 Horas
O paciente coleta toda a urina eliminada ao longo do dia. O laboratório mede a quantidade total de albumina excretada, fornecendo um resultado preciso.
É o método mais sensível, mas exige cuidado rigoroso na coleta e armazenamento para evitar perdas que comprometam o resultado.
2. Relação Albumina/Creatinina (RAC)
Feito com uma amostra simples de urina, esse exame calcula a proporção entre albumina e creatinina, ajustando variações no volume urinário.
Por sua praticidade, é o método mais usado no acompanhamento de diabéticos e hipertensos, permitindo monitoramento contínuo sem necessidade de coleta prolongada.
3. Urina Recente (Amostra Isolada)
Nesse tipo de exame, o paciente fornece uma amostra única de urina recente — geralmente a primeira da manhã.
Ela reflete aproximadamente a excreção de albumina e é útil para rastreamento inicial da microalbuminúria, especialmente em check-ups de rotina.
Embora menos precisa que a urina de 24 horas, é um método rápido e conveniente para triagem, sendo frequentemente utilizado como primeiro passo antes de exames confirmatórios.
Valores de Referência Microalbuminúria
Os valores podem variar conforme o método e o laboratório, mas, em geral, seguem os seguintes parâmetros:
Microalbuminúria — Valor Normal | < 30 mg/24h |
Urina de 24h — valor normal | < 30 mg/24h |
Relação Albumina/Creatinina (RAC) — valor normal | < 30 mg/g |
Microalbuminúria Alta | 30 a 300 mg/24h |
Relação Albumina/Creatinina (RAC) — Alta | 30 a 300 mg/g |
Valores acima de 300 mg/g indicam proteinúria, estágio mais avançado da lesão renal.
Exame de Microalbuminúria Normal: o que significa?
Quando o valor de microalbuminúria é normal, isso indica que os rins estão funcionando adequadamente e não há perda significativa de proteínas.
Mesmo com resultados normais, sempre reforço a importância de repetir o exame anualmente em quem tem diabetes ou hipertensão. A doença renal pode se desenvolver gradualmente, e somente o monitoramento contínuo permite agir antes que ocorram danos irreversíveis.
Como Baixar a Microalbuminúria?
Se o resultado do exame apontar microalbuminúria elevada, é possível reverter ou reduzir os níveis com intervenções adequadas.
Controle do Diabetes
Manter a glicemia dentro da faixa ideal é o principal passo para reduzir a microalbuminúria. Isso pode ser feito com dieta equilibrada, atividade física e medicamentos prescritos.
Controle da Pressão Arterial
A pressão arterial deve permanecer abaixo de 130/80 mmHg em pacientes de risco. Medicamentos como inibidores da ECA (enalapril, captopril) e bloqueadores de angiotensina II (losartana, valsartana) ajudam a proteger os rins e diminuir a excreção de albumina.
Alimentação e Estilo de Vida
Uma dieta para microalbuminúria deve priorizar alimentos naturais e com baixo teor de sódio. Recomenda-se:
Reduzir o sal de cozinha
Aumentar o consumo de frutas, verduras e cereais integrais
Evitar carnes processadas e embutidos
Controlar o peso corporal
Evitar o tabagismo e manter atividade física regular também são medidas essenciais para proteger a função renal.
Quando Repetir o Exame
O exame deve ser repetido a cada 3 a 6 meses, conforme orientação médica, até que os níveis de albumina voltem ao normal.
Em pacientes diabéticos ou hipertensos, o controle contínuo é a melhor forma de evitar a progressão para nefropatia diabética.
Relação Albumina/Creatinina Alta: o que fazer?
Quando a relação albumina/creatinina (RAC) está alta, isso indica que o rim está eliminando quantidades excessivas de proteína.
O acompanhamento médico é indispensável. O profissional pode ajustar a medicação, orientar mudanças alimentares e solicitar exames complementares, como creatinina sérica e taxa de filtração glomerular (TFG).
Importância do Diagnóstico Precoce
Sempre falo que, detectar microalbuminúria alta em estágios iniciais é a chave para preservar a função renal.
Com o tratamento adequado, é possível estabilizar o quadro e até reverter o dano. Por isso, incluir o exame de microalbuminúria na rotina é fundamental para quem vive com diabetes ou hipertensão.
Conclusão
O exame de microalbuminúria é um dos principais aliados na prevenção de doenças renais. Ele detecta alterações antes que os sintomas apareçam, permitindo intervenções eficazes e evitando complicações graves.
Manter o diabetes e a pressão arterial sob controle, adotar uma alimentação equilibrada e realizar acompanhamento médico regular são atitudes que podem salvar a função renal e prolongar a qualidade de vida.
Perguntas Frequentes
Na maioria dos casos, o exame de microalbuminúria não exige jejum. No entanto, é importante evitar exercício físico intenso nas 24 horas anteriores, pois pode elevar temporariamente a excreção de albumina na urina e gerar um resultado falso positivo.
Sim. A microalbuminúria pode ser transitória, aparecendo após febre, infecção urinária, desidratação ou esforço físico. Por isso, médicos costumam solicitar a repetição do exame em 3 amostras diferentes para confirmar se é persistente.
Fatores como febre, infecção urinária, menstruação, desidratação e atividade física podem alterar o resultado. O uso de anti-inflamatórios, antibióticos e inibidores da ECA também pode influenciar levemente a dosagem.
Traços de albumina na urina simples não significam necessariamente doença renal. O ideal é repetir o exame de microalbuminúria para confirmar. Se o resultado persistir, deve-se investigar causas como hipertensão, diabetes ou inflamação renal precoce.
Sim, mesmo na ausência de sintomas, a microalbuminúria pode indicar lesão renal inicial. O ideal é procurar um nefrologista para avaliar a função dos rins e identificar possíveis causas metabólicas ou cardiovasculares.
Não necessariamente. Quando detectada precocemente, a microalbuminúria pode ser revertida com controle rigoroso da pressão arterial, glicemia e uso de medicamentos específicos, como os inibidores da ECA ou bloqueadores da angiotensina (BRA).
Alguns anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), antibióticos aminoglicosídeos e medicamentos nefrotóxicos podem causar aumento transitório da microalbuminúria. O uso deve ser sempre acompanhado por um profissional de saúde.
Sim. Em gestantes, a microalbuminúria pode indicar risco de pré-eclâmpsia ou comprometimento renal. Por isso, é importante que o exame seja monitorado durante o pré-natal, especialmente em mulheres com hipertensão ou diabetes gestacional.
Não. O exame de microalbuminúria complementa os testes de creatinina e TFG. Enquanto a microalbuminúria detecta lesões precoces nos glomérulos, a creatinina e a TFG avaliam a função renal global.
Quando a perda de proteína na urina já é alta (proteinúria manifesta), o exame de microalbuminúria perde valor diagnóstico, pois o dano renal já está avançado. Nesse estágio, são necessários exames complementares de função renal.
O nefrologista é o especialista indicado para investigar e tratar microalbuminúria persistente. Endocrinologistas também podem acompanhar o caso quando há associação com diabetes ou outras doenças metabólicas.
Valores muito baixos são considerados normais e indicam boa função renal. No entanto, resultados isolados devem sempre ser interpretados pelo médico, considerando histórico clínico e outras análises laboratoriais.
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Lincoln Soledade, – Biomédico CRBM 41556/ES. Mestrando em Gestão em Saúde Pública. Especialista em Patologia Clínica e pós-graduado em Estética Avançada, atua desde 2018 na área de diagnóstico clínico hospitalar. Ao longo de sua trajetória, tem se dedicado à aplicação rigorosa do conhecimento científico para promover diagnósticos precisos, contribuindo significativamente para a qualidade do cuidado em saúde.