Anticorpos Nucleares Reagentes: o que é, o significa?

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Os anticorpos nucleares reagentes, também conhecidos como FAN reagente ou ANA positivo, são um dos exames mais solicitados pelos médicos na investigação de doenças autoimunes. Esse teste, realizado por imunofluorescência em células HEp-2, ajuda a detectar a presença de autoanticorpos que atacam o próprio núcleo das células do corpo.

Mas afinal, o que significa ter anticorpos nucleares reagentes no exame? O resultado é sempre sinal de doença? E quais são os próximos passos após um FAN positivo?
Neste artigo, vou te explicar em detalhes cada aspecto do exame, como interpretar os resultados e quando é necessário procurar um reumatologista.

O que é o exame FAN (Fator Antinuclear)?

O exame FAN (Fator Antinuclear), ou ANA (Antinuclear Antibody), é um teste laboratorial que pesquisa a presença de anticorpos que reagem contra componentes do núcleo celular.
Esses anticorpos podem indicar uma resposta autoimune, quando o sistema imunológico deixa de reconhecer estruturas próprias do corpo e passa a atacá-las.

O exame é feito geralmente em amostra de soro sanguíneo e analisado em microscópio após a aplicação de reagentes fluorescentes sobre células HEp-2 — um tipo de célula epitelial humana padronizada para esse teste.

Quando o exame FAN é solicitado

Os médicos solicitam o exame de anticorpos antinucleares quando há suspeita de doenças autoimunes.
Alguns dos principais sintomas que motivam a investigação são:

  • Fadiga persistente e dores articulares;

  • Lesões de pele fotossensíveis (aumentam com o sol);

  • Queda de cabelo difusa;

  • Febre baixa de origem indeterminada;

  • Fenômeno de Raynaud (dedos que mudam de cor com o frio);

  • Inflamação em órgãos como rins, pulmões ou coração.

O reumatologista é o especialista mais indicado para solicitar e interpretar esse exame, considerando o quadro clínico completo e outros testes complementares.

O que significa anticorpos nucleares reagentes (FAN positivo)

Ter anticorpos nucleares reagentes, significa que foi encontrada na amostra analisada autoanticorpos dirigidos contra o núcleo das células.
Isso não indica automaticamente uma doença, mas sinaliza que o sistema imunológico está reagindo de forma anormal.

Em muitas pessoas, especialmente mulheres e idosos, o FAN pode ser positivo em baixos títulos (1/80 ou 1/160) sem existir uma doença autoimune.
Por isso, sempre recomendo que o resultado deva ser sempre interpretado em conjunto com sintomas clínicos e outros exames laboratoriais.

Como interpretar o resultado do FAN

O resultado do exame é descrito em dois componentes principais:

1. Título (diluição do soro)

O título indica a concentração dos anticorpos detectados. Quanto maior for o número, maior a quantidade de anticorpos presentes.
Os títulos mais comuns são:

TítuloInterpretação
1/80Baixo título, geralmente inespecífico. Pode aparecer em pessoas saudáveis.
1/160Moderado; pode indicar reação autoimune leve ou transitória.
1/320Título significativo; requer correlação clínica.
1/640 ou superiorAlto título; forte suspeita de doença autoimune.

2. Padrão de fluorescência

O padrão revela onde os anticorpos se ligam no núcleo e ajuda a sugerir possíveis doenças associadas.

Padrão FANPossível associação clínica
Nuclear homogêneoLúpus Eritematoso Sistêmico (LES) ou LES induzido por drogas.
Pontilhado finoPode ocorrer em pessoas saudáveis ou em doenças leves.
Pontilhado grossoDoença Mista do Tecido Conjuntivo (DMTC).
CentroméricoEsclerose Sistêmica limitada (Síndrome CREST).
NucleolarEsclerose Sistêmica e Miosites.
CitoplasmáticoDermatomiosite, Polimiosite ou doenças hepáticas autoimunes.

FAN reagente sem doença: é possível?

Sim. Cerca de 10% a 15% da população saudável pode apresentar FAN reagente em títulos baixos.
Isso ocorre porque pequenas quantidades de autoanticorpos podem surgir transitoriamente após infecções, vacinas ou uso de certos medicamentos.

Por isso, sempre falo, que um FAN positivo isolado não é diagnóstico de doença autoimune.
O médico precisa avaliar o contexto clínico completo, histórico familiar, presença de sintomas e outros marcadores, como anti-DNA, anti-Ro, anti-La, anti-Sm, anti-RNP e anti-Scl-70.

Principais doenças associadas ao FAN positivo

Um resultado de FAN reagente em títulos elevados pode estar relacionado às seguintes condições autoimunes:

1. Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES)

Doença inflamatória crônica multissistêmica, com forte associação ao padrão homogêneo.
Outros exames confirmatórios incluem anti-DNA nativo e anti-Sm.

2. Síndrome de Sjögren

Caracterizada por secura nos olhos e boca, frequentemente com anticorpos anti-Ro (SS-A) e anti-La (SS-B).

3. Esclerose Sistêmica

Causa espessamento da pele e comprometimento de órgãos internos.
Associada aos anticorpos anti-Scl-70 e anti-centrômero (padrão centromérico).

4. Doença Mista do Tecido Conjuntivo (DMTC)

Envolve características de várias doenças autoimunes, com anticorpo anti-RNP e padrão pontilhado grosso.

5. Polimiosite e Dermatomiosite

Doenças musculares inflamatórias com FAN variável e presença de autoanticorpos específicos de miosite.

Qual médico procurar e como é o tratamento

O reumatologista é o médico indicado para investigar e tratar casos de FAN positivo.
O tratamento depende da doença de base e pode incluir:

  • Corticosteroides e imunossupressores (como hidroxicloroquina, metotrexato ou azatioprina);

  • Terapias biológicas em casos graves;

  • Acompanhamento multidisciplinar (nefrologista, dermatologista, oftalmologista etc.).

O acompanhamento clínico e laboratorial regular é essencial para ajustar o tratamento e prevenir complicações.

Fatores que podem alterar o resultado

Diversos fatores podem interferir no resultado do exame FAN:

  • Infecções virais recentes;

  • Uso de medicamentos como hidralazina, procainamida e isoniazida;

  • Idade avançada;

  • Gravidez e alterações hormonais;

  • Condições inflamatórias transitórias.

Por isso, é importante informar ao médico sobre o uso de medicações e doenças prévias antes da coleta do exame.

Conclusão

Ter anticorpos nucleares reagentes não é, por si só, um diagnóstico de doença autoimune.
O exame FAN é uma ferramenta valiosa, mas sua interpretação deve ser feita por um especialista, considerando sintomas, histórico clínico e resultados complementares.
O acompanhamento com um reumatologista é fundamental para garantir o diagnóstico correto e o tratamento adequado.

 

Perguntas Frequentes

Sim. Pequenas variações podem ocorrer entre laboratórios, métodos de leitura ou mesmo no estado imunológico do paciente.

Normalmente não é necessário jejum, mas o ideal é seguir as orientações específicas do laboratório.

Sim. Algumas infecções virais ou bacterianas podem causar positividade temporária do FAN, sem relação com doenças autoimunes.

O FAN pode aparecer positivo em alguns casos, mas o exame mais específico para artrite reumatoide é o fator reumatoide e o anti-CCP.

Sim. É importante aguardar o intervalo orientado pelo médico, evitar uso recente de medicamentos imunomoduladores e informar qualquer nova doença.

Sim, embora seja menos comum. Quando ocorre, geralmente está associado a infecções ou doenças autoimunes específicas, como lúpus juvenil.

O FAN é um teste de triagem geral, enquanto os autoanticorpos específicos (como anti-DNA ou anti-Ro) indicam doenças autoimunes determinadas.

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