Anti-Receptor de TSH (TRAB): Para que Serve o Exame?

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O exame de Anticorpo Anti-Receptor de TSH (TRAB ou TRAb) é um dos marcadores laboratoriais mais importantes para o diagnóstico, o monitoramento e o prognóstico das doenças autoimunes da tireoide, especialmente a Doença de Graves. Por atuar diretamente no receptor de TSH (TSHR), o TRAB tem papel central na fisiopatologia do hipertireoidismo autoimune, influenciando desde o quadro clínico até o risco de oftalmopatia e recidiva.

Elaborei este artigo, com base nas diretrizes científicas mais atuais, incluindo recomendações da American Thyroid Association (ATA), European Thyroid Association (ETA) e estudos internacionais, oferecendo um conteúdo completo e atualizado.

O que é o Anticorpo Anti-Receptor de TSH (TRAB)?

O Anti-Receptor de TSH (TRAB) é um autoanticorpo produzido pelo sistema imunológico que passa a reconhecer como alvo o receptor do hormônio estimulante da tireoide (TSH). Em condições normais, o TSH se liga ao seu receptor e regula a produção dos hormônios tireoidianos T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina).

Entretanto, em doenças autoimunes como a Doença de Graves, esses anticorpos passam a estimular excessivamente esse receptor, causando hipertireoidismo.

Existem três tipos funcionais de TRAB:

  • Estimulatórios (TSAb) — os mais comuns na Doença de Graves.

  • Bloqueadores (TBAb) — menos frequentes, podem causar hipotireoidismo.

  • Neutros — sem impacto clínico direto.

O exame geralmente mede todos os tipos combinados, refletindo a atividade imunológica contra o TSH.

Para que Serve o Exame Anti-Receptor de TSH (TRAB)?

O exame Anti-Receptor de TSH (TRAB) possui múltiplas aplicações clínicas, tornando-se essencial em diferentes fases do manejo das doenças da tireoide. A seguir, as principais utilidades:

1. Diagnóstico da Doença de Graves

A principal indicação do exame é confirmar o diagnóstico de hipertireoidismo autoimune. A American Thyroid Association (ATA) destaca o TRAB como método altamente sensível e específico para diferenciar:

  • Doença de Graves

  • Tireoidites não autoimunes

  • Hipertireoidismo induzido por medicamentos

  • Hipertireoidismo gestacional

O exame é especialmente útil quando há dúvida diagnóstica ou quando o paciente não pode realizar cintilografia da tireoide.

2. Avaliação de Gravidez com Hipertireoidismo

Na gestação, o exame Anti-Receptor de TSH (TRAB) é fundamental porque os anticorpos atravessam a placenta e podem causar:

  • Taquicardia fetal

  • Crescimento fetal prejudicado

  • Tireotoxicose neonatal

A American Thyroid Association (ATA) recomenda medir TRAB em gestantes:

  • Com história de Doença de Graves

  • Que fizeram radioiodoterapia no passado

  • Submetidas a tireoidectomia

  • Em uso ou após suspensão de antitireoidianos

Valores muito elevados (>3 vezes o limite superior) aumentam o risco de tireotoxicose fetal.

3. Monitoramento do Tratamento da Doença de Graves

Durante o uso de antitireoidianos (metimazol, propiltiouracil), o Anti-Receptor de TSH (TRAB) ajuda a prever:

  • Resposta terapêutica

  • Necessidade de manter ou ajustar medicação

  • Probabilidade de remissão

Pacientes com TRAB persistentemente alto têm maior risco de:

  • Recidiva após suspensão dos antitireoidianos

  • Agravamento da oftalmopatia de Graves

  • Evolução para crise tireotóxica em situações extremas

4. Predição de Recidiva da Doença de Graves

A recorrência da Doença de Graves após tratamento medicamentoso ocorre em 30% a 70% dos casos. O TRAB é o melhor marcador laboratorial de recidiva.

Valores altos ao final do tratamento indicam alto risco de retorno dos sintomas. Já valores baixos ou indetectáveis sugerem maior chance de remissão duradoura.

5. Avaliação da Oftalmopatia de Graves

A presença e intensidade do Anti-Receptor de TSH (TRAB) estão associadas ao risco de desenvolver:

  • Oftalmopatia de Graves

  • Agravamento após radioiodoterapia

  • Reações inflamatórias orbitárias

Quanto maiores forem os níveis de TRAB, maior o risco de acometimento ocular.

Como é Feito o Exame Anti-Receptor de TSH (TRAB)?

O exame é simples, rápido e indolor. Consiste em uma coleta de sangue venoso, sem necessidade de preparo complexo. Em geral:

  • Não é necessário jejum.

  • Pode ser realizado junto a outros exames de função tireoidiana.

  • Os resultados variam conforme o método utilizado (ex.: imunoensaio competitivo, Quimioluminescência).

O laudo costuma expressar o resultado em UI/L ou valores relativos à reatividade do anticorpo.

Valores de Referência do Anti-Receptor de TSH (TRAB)

Os valores de referência podem variar conforme o laboratório e método. Em geral:

  • TRAB negativo — Não reagente: < 3,10 UI/L

  • TRAB positivo — Reagente: > 3,10 UI/L

Valores mais elevados indicam maior atividade autoimune e maior risco de manifestações clínicas.

Interpretação Clínica do  Anti-Receptor de TSH (TRAB)

A interpretação deve ser feita por um médico, considerando TSH, T4, T3, sintomas e histórico clínico. Em geral:

TRAB Positivo Alto

Indica forte probabilidade de:

  • Doença de Graves ativa

  • Risco aumentado de oftalmopatia

  • Maior chance de recidiva

  • Possível tireotoxicose neonatal em gestantes

TRAB Baixo ou Negativo

Sugere:

  • Menor atividade autoimune

  • Menor risco de recidiva

  • Possibilidade de Graves em remissão

Em alguns casos de tireoidites ou uso de levotiroxina, o TRAB pode ser negativo mesmo com sintomas tireoidianos.

Quando o Exame Anti-Receptor de TSH (TRAB) Deve Ser Solicitado?

O exame é indicado em diversas situações clínicas, como:

  • Suspeita de Doença de Graves

  • Diferenciação entre causas de hipertireoidismo

  • Acompanhamento da gestação em pacientes com histórico de Graves

  • Monitoramento do tratamento com antitireoidianos

  • Avaliação pré e pós-radioiodoterapia

  • Predição de recidiva

  • Avaliação de oftalmopatia

  • Alterações tireoidianas em recém-nascidos

TRAB na Gestação: Quando Fazer e Qual o Risco?

Em gestantes, o TRAB tem impacto direto na saúde fetal. Recomendo realizar:

  • No início da gestação em mulheres com histórico de Graves

  • Entre 24 e 28 semanas para reavaliação

  • Perto do parto se os níveis estiverem elevados

Valores acima de 3 vezes o valor de referência aumentam significativamente o risco de:

  • Taquicardia fetal

  • Hipertireoidismo neonatal

  • Bócio fetal

TRAB e Doença de Graves: Fisiopatologia Simplificada

A Doença de Graves ocorre quando autoanticorpos estimulam excessivamente o receptor de TSH, levando à superprodução de hormônios tireoidianos. Esse processo envolve:

  • Predisposição genética

  • Disfunção imunológica

  • Estímulo contínuo ao TSHR

  • Inflamação orbitária (oftalmopatia)

Quanto maior o TRAB, maior a ativação desse processo.

Conclusão 

O exame TRAB é um marcador essencial para o diagnóstico e acompanhamento da Doença de Graves e outras alterações autoimunes da tireoide. Seus níveis ajudam a prever risco de recidiva, gravidade clínica e possíveis complicações gestacionais.
 
Por ser altamente sensível e específico, orienta decisões terapêuticas fundamentais. Assim, o Anti-Receptor de TSH (TRAB) permanece indispensável para uma abordagem mais segura, precisa e personalizada no cuidado tireoidiano.
 

Perguntas Frequentes

Sim. O TRAB reflete atividade autoimune e pode permanecer elevado mesmo quando o TSH está normalizado pelo tratamento, indicando risco de recidiva.

Geralmente leva meses a anos. Em muitos pacientes, o TRAB só normaliza após longos períodos de uso de antitireoidianos ou após terapias definitivas.

Sim. O paciente pode estar em fase inicial da Doença de Graves ou em remissão parcial, mas com atividade imunológica persistente.

Em muitos casos, sim. O TRAB é excelente para diferenciar Graves de outras causas de hipertireoidismo quando a cintilografia não é possível.

Raramente. O exame é útil apenas quando há suspeita de anticorpos bloqueadores (TBAb), que podem causar hipotireoidismo autoimune.

Sim. A levotiroxina não interfere no resultado, pois o TRAB mede anticorpos, não níveis hormonais.

Sim. Níveis altos aumentam o risco de piora da oftalmopatia após radioiodoterapia, podendo mudar a escolha do tratamento.

Sim. Anticorpos podem permanecer circulantes durante meses e atravessar a placenta, afetando o bebê mesmo após remissão materna.

  1. ROSS, D. S. et al. 2016 American Thyroid Association Guidelines for Diagnosis and Management of Hyperthyroidism and Other Causes of Thyrotoxicosis. Thyroid, v. 26, n. 10, p. 1343–1421, 2016. DOI: 10.1089/thy.2016.0229. Disponível em: link.
  2. BARTALENA, L. et al. The 2021 European Group on Graves’ Orbitopathy (EUGOGO) Clinical Practice Guidelines for the Management of Graves’ Orbitopathy. European Journal of Endocrinology, v. 185, n. 4, p. G43–G67, 2021. Disponível em: link.
  3. LEUNG, A. M.; BRAVERMAN, L. E.; BRENT, G. A. Graves’ Disease. New England Journal of Medicine, v. 387, p. 1620–1631, 2022. Disponível em: link.
  4. WALL, J. R.; MATSUO, C.; KAHALY, G. J. TSH Receptor Antibodies and Graves’ Disease. Clin Endocrinol (Oxf), v. 95, n. 4, p. 542–552, 2021. Disponível em: link.
  5. KAHALY, G. J.; BARTALENA, L.; FORTI, G. TSH receptor antibodies: relevance for Graves’ disease management. Endocrine Reviews, v. 41, n. 5, p. 873–902, 2020. Disponível em: link.
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