Imunoglobulina A (IgA): O que é, Função e Importância

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A Imunoglobulina A (IgA) é um dos principais anticorpos do sistema imunológico humano. Desempenha papel essencial na defesa das mucosas, protegendo regiões como intestino, pulmões, trato urinário e boca contra vírus, bactérias, toxinas e outros agentes infecciosos. Por estar diretamente relacionada à imunidade de mucosa, a IgA é considerada um dos pilares da barreira imunológica que impede micro-organismos de atravessarem o epitélio e alcançarem a corrente sanguínea.

Alterações nos níveis de IgA podem estar associadas a diversas condições clínicas, como infecções recorrentes, doenças autoimunes, intolerância ao glúten, nefropatia por IgA e imunodeficiências. Entender como essa imunoglobulina funciona é fundamental para interpretar exames laboratoriais e compreender sintomas relacionados à imunidade.

O que é Imunoglobulina A (IgA)?

A Imunoglobulina A é um tipo de anticorpo produzido pelos plasmócitos presentes na lâmina própria de mucosas e tecidos linfoides, especialmente no sistema GALT (Gut-Associated Lymphoid Tissue) que traduzindo (GALT (Tecido Linfoide Associado ao Intestino). Representa cerca de 15% a 20% de todas as imunoglobulinas produzidas no organismo.

Existem duas formas principais de IgA:

IgA sérica

Presente no sangue e fluídos internos. Atua principalmente no reconhecimento de antígenos e na ativação de respostas imunes sistêmicas. Embora seja menos abundante que a IgG, exerce papel regulador importante em processos inflamatórios.

IgA secretora (sIgA)

A forma secretora é a mais abundante no organismo. Encontra-se nas mucosas do trato gastrointestinal, respiratório e geniturinário, além de saliva, leite materno e lágrimas. A sIgA é um dímero, formado por duas moléculas de IgA unidas e protegidas pelo Componente Secretor, que impede sua degradação por enzimas presentes nas mucosas.

Função da Imunoglobulina A no organismo

A IgA desempenha funções essenciais na imunidade de mucosa. É considerada a primeira linha de defesa contra patógenos invasores.

Neutralização de vírus, bactérias e toxinas

A sIgA impede que micro-organismos se fixem ao epitélio, bloqueando a entrada no organismo antes mesmo que uma infecção se estabeleça.

Manutenção da microbiota saudável

A IgA ajuda a modular e equilibrar a microbiota intestinal, evitando o crescimento excessivo de bactérias potencialmente patogênicas.

Redução de inflamação

Ao impedir a entrada de antígenos, a IgA reduz a ativação excessiva do sistema imunológico, prevenindo inflamações crônicas.

Proteção do intestino e do sistema GALT

O tecido linfoide associado ao intestino depende da IgA para manter a integridade da barreira mucosa. Sem IgA adequada, aumentam os riscos de disbiose, diarreias, infecções e doenças autoimunes.

Valores de Referência do Exame de IgA

Os níveis de IgA variam conforme a idade e o laboratório, mas seguem geralmente os intervalos:

Homens

Valores de Referência

0 a 1 ano1 a 91 mg/dL
2 a 10 anos17 a 318 mg/dL
11 a 60 anos57 a 543 mg/dL
Acima de 60 anos103 a 591 mg/dL

Mulheres

Valores de Referência
0 a 1 ano 1 a 91 mg/dL
2 a 10 anos 17 a 290 mg/dL
11 a 60 anos52 a 468 mg/dL
Acima de 60 anos90 a 532 mg/dL

Fonte: Plasma Proteins Clinical Utility and Interpretation, Craig, Y.W et al., Foundation for Blood Research.

A interpretação deve sempre considerar faixa etária, histórico clínico e exames complementares.

IgA Baixa: O que significa?

A IgA baixa pode indicar desde condições benignas até imunodeficiências importantes. A principal causa é a Deficiência Seletiva de IgA, a imunodeficiência primária mais comum no mundo.

Principais causas de IgA baixa

  • Deficiência seletiva de IgA

  • Infecções respiratórias e gastrointestinais de repetição

  • Doença celíaca

  • Doenças autoimunes (lúpus, artrite reumatoide, doença de Graves)

  • Uso prolongado de corticosteroides

  • Imunodeficiência comum variável (ICV)

Sintomas de IgA baixa

  • Infecções respiratórias frequentes

  • Sinusites e otites de repetição

  • Diarreias crônicas

  • Alergias e asma

  • Maior risco de doenças autoimunes

Crianças com IgA baixa podem apresentar atraso no desenvolvimento da imunidade de mucosa e episódios frequentes de gripes e gastroenterites.

IgA Alta: O que significa?

Quando os níveis de IgA estão elevados, geralmente há algum estímulo inflamatório ou doença sistêmica em curso. A IgA alta costuma indicar hiperativação da imunidade de mucosa.

Principais causas de IgA alta

  • Infecções crônicas

  • Doenças hepáticas (cirrose, hepatite alcoólica)

  • Artrite reumatoide

  • Doença inflamatória intestinal (Crohn e retocolite ulcerativa)

  • Vasculite por IgA (Púrpura de Henoch-Schönlein)

  • Nefropatia por IgA (Doença de Berger)

  • Hipergamaglobulinemia policlonal

Doenças relacionadas à Imunoglobulina A

Alterações significativas na produção da IgA podem estar associadas a diversas doenças clínicas.

Nefropatia por IgA

É a glomerulopatia primária mais comum no mundo. Ocorre quando a IgA forma complexos que se depositam nos glomérulos, causando inflamação renal e podendo evoluir para insuficiência renal crônica.

Vasculite por IgA (Púrpura de Henoch-Schönlein)

Caracteriza-se por inflamação dos pequenos vasos sanguíneos, principalmente em crianças. Causa púrpuras, dor abdominal e acometimento renal.

Doença Celíaca

Pessoas com doença celíaca podem ter IgA total baixa ou anticorpos IgA específicos elevados. A avaliação da IgA total é essencial antes de interpretar exames sorológicos.

Imunodeficiências

Indivíduos com deficiência seletiva de IgA são mais propensos a desenvolver alergias, sinusites e infecções respiratórias frequentes.

Exame de IgA: Como é feito e quando solicitar

A dosagem de IgA é realizada por meio de exame de sangue simples. Pode ser solicitada em diversos cenários clínicos.

Indicações do exame

  • Infecções recorrentes

  • Investigação de imunodeficiências

  • Avaliação de doenças autoimunes

  • Exames complementares para doença celíaca

  • Monitoramento de vasculites

  • Investigação de processos inflamatórios crônicos

Métodos laboratoriais

Entre os métodos mais utilizados estão:

  • Nephelometria

  • Turbidimetria

  • Eletroforese e imunofixação (para gamopatias)

A escolha depende da suspeita clínica e do laboratório responsável.

Como manter níveis saudáveis de IgA?

Embora a produção de IgA seja predominantemente genética, alguns fatores podem contribuir para o equilíbrio da imunidade de mucosa.

Alimentação equilibrada

Alimentos ricos em fibras e prebióticos ajudam na manutenção da microbiota intestinal e estimulam a produção adequada de IgA secretora.

Sono e controle do estresse

Privação de sono e estresse severo podem reduzir a produção de sIgA, favorecendo infecções respiratórias e gastrointestinais.

Atividade física moderada

Exercícios regulares podem aumentar a imunidade de mucosa, mas treinos extenuantes têm o efeito inverso.

Aleitamento materno

O leite materno é rico em IgA secretora, protegendo o sistema imunológico do bebê durante os primeiros meses de vida.

Conclusão

A Imunoglobulina A (IgA) é um dos elementos mais importantes do sistema imunológico, especialmente na proteção das mucosas que revestem o trato digestivo, respiratório e geniturinário. Sua atuação como primeira linha de defesa impede a entrada de vírus, bactérias e toxinas, preservando o equilíbrio da microbiota e reduzindo processos inflamatórios que podem comprometer a saúde.

Alterações nos níveis de IgA — tanto baixa quanto alta — podem sinalizar condições clínicas relevantes, como imunodeficiências, doença celíaca, vasculites e nefropatia por IgA. Por isso, compreender o papel dessa imunoglobulina e interpretar corretamente seus exames laboratoriais, são fundamentais para um diagnóstico preciso e um acompanhamento adequado.

Manter hábitos saudáveis, garantir uma alimentação equilibrada, dormir bem e controlar o estresse contribuem significativamente para o funcionamento adequado da imunidade de mucosa. Entretanto, qualquer alteração persistente nos níveis de IgA deve ser investigada por um profissional de saúde.

A IgA é, portanto, um marcador essencial para entender a imunidade individual e um dos recursos mais valiosos do organismo na manutenção da saúde e na prevenção de infecções e doenças autoimunes.

 

Perguntas Frequentes

Sim. O estresse físico ou emocional intenso reduz a produção de IgA secretora, enfraquecendo a imunidade de mucosa e aumentando o risco de infecções respiratórias e gastrointestinais.

Sim. A IgA total pode estar dentro da normalidade enquanto anticorpos específicos (como anti-transglutaminase) estão elevados. A interpretação deve ser feita em conjunto.

Não. A deficiência seletiva de IgA não possui tratamento curativo. O manejo inclui prevenção de infecções, vacinação adequada e acompanhamento médico especializado.

Nem sempre. Em alguns casos, a IgA pode estar discretamente elevada por estímulos inflamatórios leves. Contudo, aumentos persistentes devem ser investigados para descartar doenças hepáticas, autoimunes ou renais.

Não existem suplementos de IgA. Estratégias incluem fortalecer a imunidade intestinal, tratar infecções de repetição, regular o sono e reduzir o estresse.

Sim. Na nefropatia por IgA, complexos imunes se depositam nos glomérulos, causando inflamação e podendo levar à perda progressiva da função renal.

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