É comum os pais se assustarem ao perceber um caroço atrás da orelha da criança. Geralmente, esse achado é benigno e representa somente uma íngua (linfonodo aumentado), resultado de alguma infecção leve, como uma gripe, otite ou ferida no couro cabeludo.
No entanto, existem situações onde o nódulo merece atenção médica, especialmente quando é duro, cresce rapidamente ou vem acompanhado de febre.
Neste artigo, vou te explicar claramente, o que pode causar o caroço atrás da orelha, quais são os sinais de alerta, e quando procurar o pediatra.
O Que Causa o Caroço Atrás da Orelha em Crianças?
Existem diversas causas possíveis para o aparecimento de um nódulo retroauricular infantil. Algumas são comuns e benignas, enquanto outras requerem avaliação médica cuidadosa.
A seguir, veja as principais causas divididas por tipo.
1. A Causa Mais Comum: Linfonodos (Ínguas) Aumentados
Os linfonodos, popularmente conhecidos como ínguas, são pequenas estruturas do sistema linfático que atuam na defesa do organismo.
Em crianças, é normal que eles aumentem de tamanho durante infecções, pois o sistema imunológico ainda está em desenvolvimento.
Por que isso acontece:
Quando há uma infecção próxima — como uma otite, resfriado, faringite ou infecção no couro cabeludo — os linfonodos da região do pescoço e atrás das orelhas podem inchar.
Essa condição é chamada de linfonodo reacional em criança ou adenopatia cervical pediátrica.
Características comuns:
Pequeno (menos de 2 cm).
Móvel e indolor ao toque.
Aparece após uma infecção e regride em até 2 a 4 semanas.
Importante: se o caroço permanecer aumentado por mais de um mês, é recomendável procurar o pediatra para descartar outras causas.
2. Causas Cutâneas: Alterações da Pele
Nem todo caroço é linfonodo. Às vezes, o problema está na própria pele ou nos tecidos subcutâneos da região.
Cisto Sebáceo Atrás da Orelha
O cisto sebáceo é uma pequena bolsa de gordura e queratina que se forma sob a pele.
Costuma ser móvel, indolor e de crescimento lento.
Em alguns casos, pode inflamar, tornando-se vermelho e dolorido.
Lipoma (Acúmulo de Gordura)
O lipoma atrás da orelha infantil é um nódulo macio, maleável e móvel, composto por células de gordura.
Não representa risco à saúde, mas pode ser removido cirurgicamente se causar incômodo estético.
Acne ou Foliculite
Espinhas inflamadas ou foliculite (infecção nos folículos pilosos) também podem causar inchaço atrás da orelha, especialmente em bebês ou crianças com pele sensível.
3. Causas Menos Comuns e que Exigem Atenção
Embora raras, algumas condições merecem avaliação médica imediata, ao poderem indicar infecções graves ou lesões específicas.
Mastoidite
A mastoidite em criança é uma infecção do osso mastoide, localizado atrás da orelha.
Geralmente surge como complicação de uma otite média não tratada adequadamente.
Sintomas típicos:
Dor intensa atrás da orelha.
Febre alta e irritabilidade.
Vermelhidão e inchaço local.
A orelha pode ficar projetada para frente.
Esse quadro é considerado urgência médica e exige tratamento hospitalar com antibióticos intravenosos.
Queloide Pós-Piercing
Se a criança teve perfuração de orelha (brinco), pode surgir um caroço endurecido no local como reação cicatricial chamada queloide.
Geralmente é estético, mas pode aumentar progressivamente.
Tumores e Outras Lesões Raras
Em casos extremamente raros, o caroço pode estar relacionado a tumores benignos (osteomas) ou malignos.
Essas situações são incomuns, mas reforço a importância da avaliação médica quando o nódulo cresce rapidamente ou é duro e fixo.
Quando o Caroço Atrás da Orelha é Perigoso?
A maioria dos casos é benigna, mas há sinais de alerta que exigem atenção imediata.
Procure um médico se observar um ou mais dos sintomas abaixo:
Procure o pediatra imediatamente se:
O caroço é duro e fixo, não se move ao toque.
Está crescendo rapidamente ou mudando de forma.
Vem acompanhado de febre persistente, perda de peso ou suores noturnos.
Tem mais de 2 cm de diâmetro.
Apresenta dor intensa, vermelhidão ou saída de pus.
Esses sinais podem indicar desde uma infecção mais grave (mastoidite) até alterações hematológicas, e requerem avaliação pediátrica imediata.
Como é Feito o Diagnóstico
O diagnóstico do caroço atrás da orelha é feito inicialmente por meio de uma avaliação clínica detalhada.
O médico analisará:
Histórico da criança (infecções recentes, vacinas, feridas na cabeça).
Características do caroço (tamanho, mobilidade, dor, consistência).
Sinais associados (febre, perda de peso, irritabilidade).
Se houver dúvida, o pediatra pode solicitar exames complementares, como:
Ultrassonografia da região, para diferenciar linfonodo, cisto ou lipoma.
Hemograma completo e PCR, para avaliar infecções ou inflamações.
Em casos persistentes, pode ser indicado exame de imagem (tomografia) ou biópsia.
Tratamento do Caroço Atrás da Orelha em Crianças
O tratamento depende da causa identificada:
Linfonodo aumentado: geralmente não precisa de intervenção, apenas observar e tratar a infecção de origem (gripe, otite, etc.).
Cisto sebáceo: pode necessitar de drenagem ou remoção cirúrgica, se inflamar.
Lipoma: remoção cirúrgica eletiva, somente por estética.
Mastoidite: requer internação hospitalar e antibióticos intravenosos.
Queloide: pode ser tratado com injeções de corticoide ou cirurgia plástica.
Jamais tente espremer ou drenar o caroço em casa — isso pode causar infecção secundária.
Prevenção e Cuidados em Casa
Embora nem todos os casos possam ser evitados, alguns cuidados ajudam a reduzir o risco de infecções e inflamações na região:
Manter as vacinas em dia.
Higienizar corretamente o brinco da criança e a área da orelha.
Tratar infecções de garganta e ouvido precocemente.
Evitar o uso de produtos irritantes na pele.
Manter o couro cabeludo limpo e seco.
Essas medidas auxiliam o sistema imunológico da criança a reagir de forma equilibrada.
Conclusão
Na maioria das vezes, o caroço atrás da orelha de uma criança é somente uma resposta natural do organismo, relacionada a infecções leves.
Contudo, é fundamental observar o comportamento do nódulo e estar atento aos sinais de alerta.
Se o caroço não desaparecer em algumas semanas, crescer rapidamente ou vier acompanhado de outros sintomas, procure um pediatra ou otorrinolaringologista.
O diagnóstico precoce é sempre o melhor caminho para garantir a saúde e tranquilidade da criança.
Perguntas Frequentes
Sim. Alguns bebês podem apresentar ínguas reacionais próximas ao local da vacina BCG ou tríplice viral. Elas aparecem devido à resposta do sistema imunológico e geralmente desaparecem espontaneamente em algumas semanas.
Somente cistos inflamados podem drenar secreção espontaneamente. No entanto, nunca se deve apertar ou tentar estourar o caroço, pois isso pode causar infecção e piorar o quadro.
Sim. Quando há infecção bacteriana local, o nódulo pode acumular pus e evoluir para abscesso. Nesses casos, há dor intensa, calor e vermelhidão, exigindo drenagem médica e antibióticos.
Em alguns casos, sim. Durante a erupção dentária, o sistema linfático da criança pode reagir com aumento temporário dos linfonodos próximos, incluindo os atrás da orelha, sem representar doença grave.
Sim, especialmente quando há infecções recorrentes de ouvido, garganta ou pele. Linfonodos podem reagir novamente, mas cada episódio deve ser avaliado individualmente pelo pediatra.
Compressas mornas podem aliviar o desconforto em casos de inflamação leve, mas não substituem avaliação médica. Se houver dor intensa, febre ou aumento rápido do nódulo, suspenda o uso e procure atendimento.
Raramente. Reações alérgicas na pele podem causar inchaços, mas não formam nódulos persistentes. Se o caroço permanecer por dias, a causa geralmente é infecciosa ou inflamatória, não alérgica.
- PEARCE, J. M. S. Cervical lymphadenopathy in children: a clinical overview. Journal of Paediatrics and Child Health, v. 59, n. 3, p. 345–352, 2023. DOI: 10.1111/jpc.16012.
- BRADLEY, J. S.; STEINBERG, J. P. Acute mastoiditis in children: pathophysiology, clinical presentation, and management. New England Journal of Medicine, v. 387, n. 2, p. 120–132, 2022. DOI: 10.1056/NEJMra2201142.
- SMITH, K.; HARRISON, M.; NGUYEN, T. Reactive lymph nodes in pediatric patients: diagnostic approach and ultrasonographic patterns. Pediatric Radiology, v. 53, p. 1850–1862, 2024. DOI: 10.1007/s00247-024-05723-9.
- AHMED, A.; SHAH, S. A. Postauricular swellings in children: an updated differential diagnosis. International Journal of Pediatric Otorhinolaryngology, v. 169, p. 112977, 2023. DOI: 10.1016/j.ijporl.2023.112977.
- LEE, Y. H.; KIM, J. M. Pediatric cervical masses: imaging findings and clinical correlations. Radiographics, v. 43, n. 4, p. 1005–1024, 2023. DOI: 10.1148/rg.230105.
- HUNTER, C.; BROWN, L. Evaluation of persistent lymphadenopathy in children: when to worry. Pediatrics, v. 151, n. 6, p. e2022051712, 2023. DOI: 10.1542/peds.2022-051712.

Mariana Soares – biomédica patologista clínica, com uma carreira sólida e reconhecida no campo das análises laboratoriais e diagnóstico clínico. Formada em Biomedicina, é inscrita no Conselho Regional de Biomedicina (CRBM 60562/ES), atua com compromisso e ética profissional, buscando constantemente a excelência na qualidade dos serviços de saúde.

