O exame CPK-MB (creatina fosfoquinase fração MB), também conhecido como CK-MB é amplamente utilizado na medicina para investigar doenças cardíacas, especialmente o infarto agudo do miocárdio. Entender o que é esse exame, quando ele é solicitado e como interpretar seus valores pode ajudar pacientes e profissionais a tomarem decisões clínicas com mais segurança.
Neste artigo, vou te explicar, o que é o exame CPK-MB, para que ele serve, quando está indicado, quais são os valores de referência, o que pode significar quando os níveis estão altos, qual é o preço médio do exame em diferentes laboratórios e, por fim, vai encontrar respostas para as dúvidas mais frequentes sobre o tema.
Se você realizou esse exame recente ou somente quer se informar melhor, continue a leitura e tire todas as suas dúvidas de forma clara e objetiva.
O que é CPK-MB?
A CPK-MB (Creatina Fosfoquinase – fração MB) é uma enzima encontrada principalmente no músculo cardíaco. Quando há lesão no coração, como um infarto, essa enzima é liberada em grandes quantidades na corrente sanguínea.
A CPK total é dividida em três frações:
CPK-MM: presente nos músculos esqueléticos
CPK-BB: encontrada no cérebro
CPK-MB: específica do músculo cardíaco
Por isso, o exame CPK-MB é um marcador importante na avaliação de danos ao coração.
Para que serve o exame CPK-MB?
O exame serve para:
Diagnosticar infarto agudo do miocárdio (IAM)
Monitorar a gravidade da lesão cardíaca
Diferenciar dor torácica de origem cardíaca e não cardíaca
Avaliar pacientes com dor no peito
Acompanhar complicações pós-cirúrgicas cardíacas
Investigar elevação de CPK total
Como é feito o exame de sangue CPK-MB?
O exame é feito a partir de uma amostra de sangue venoso, coletada em laboratório. Não costuma exigir jejum, mas alguns laboratórios podem solicitar um jejum leve (2 a 4 horas).
É um exame simples, rápido e indolor, embora alguns pacientes relatem desconforto momentâneo na punção.
Quando o exame CPK-MB é solicitado?
O exame é solicitado principalmente em casos de:
Dor torácica súbita
Suspeita de infarto do miocárdio
Pacientes com histórico de doença coronariana
Monitoramento de pacientes em unidades de terapia intensiva (UTI)
Avaliação após procedimentos cardíacos invasivos ou cirurgias
CPK-MB: valores de referência
Os valores de referência podem variar conforme o método do laboratório, mas geralmente:
Homens: Inferior a 24 U/L
Mulheres: Inferior a 24 U/L
💡 Alguns laboratórios informam o resultado em U/L (unidades por litro) ou em ng/mL (nanogramas por mililitro). Sempre consulte os intervalos de referência no seu laudo.
O que significa CPK-MB alto?
A elevação da CPK-MB é um forte indicativo de lesão no músculo cardíaco, como em casos de:
Causas mais comuns de CPK-MB alto:
Infarto do miocárdio
Miocardite (inflamação do coração)
Cirurgias cardíacas
Traumas torácicos
Choque elétrico
Parada cardiorrespiratória
Sintomas associados à CPK-MB alta:
Dor no peito irradiando para o braço esquerdo ou mandíbula
Falta de ar
Palpitações
Náuseas e suor frio
Cansaço extremo
⚠️ A CPK-MB alta não confirma sozinha o diagnóstico de infarto. Ela deve ser interpretada junto com outros exames como troponina, ECG e avaliação clínica.
Falsos Positivos no Exame de CPK-MB:
O que é CPK-MB Macro?
Essa é uma questão importante que costumo sempre falar. Em alguns casos, o exame pode mostrar níveis elevados de CPK-MB mesmo sem a presença de infarto ou lesão cardíaca. Isso pode ocorrer devido à presença de uma variante anormal da enzima, conhecida como CPK-MB macro (ou macro-CK tipo 2).
Essa forma é resultado da formação de complexos da enzima CK-MB com outras proteínas do sangue, tornando-a maior e mais estável. Como consequência, o exame tradicional pode interpretar esses complexos como CK-MB normal, levando a falsos positivos.
Quando suspeitar de CPK-MB macro?
Níveis elevados de CK-MB persistentes
Troponina normal
Ausência de sintomas cardíacos
ECG e outros exames compatíveis com normalidade
Como confirmar?
A identificação do CPK-MB macro exige exames complementares como:
Eletroforese de isoenzimas
Técnicas de imunoinibição
Avaliação por um especialista em laboratório clínico.
A avaliação por um especialista em laboratório clínico é fundamental, considerando especialmente a importância do conhecimento técnico do biomédico na liberação de resultados suspeitos de CPK-MB macro.
Existem técnicas específicas, como a eletroforese e a imunoinibição, que podem identificar corretamente esse tipo de isoenzima, evitando interpretações equivocadas. A liberação adequada do exame depende de uma análise criteriosa e da capacitação do profissional responsável, assegurando um diagnóstico mais preciso e seguro para o paciente.
Importância clínica
Reconhecer essa condição é essencial para evitar diagnósticos errados de infarto, principalmente em pacientes assintomáticos. Quando confirmada, a presença de macro-CK tipo 2 não exige tratamento, somente monitoramento clínico.
💡 Caso seu exame tenha mostrado CPK-MB alto sem outros indícios de infarto, converse com seu médico sobre a possibilidade de macro-CK.
O que é o “CK index” (índice relativo CK‑MB/CK total)?
Outra forma que utilizo na prática clínica, para diferenciar se a elevação da CPK-MB é de origem cardíaca ou muscular, é por meio do cálculo do CK Index. Essa fórmula auxilia na distinção entre lesão cardíaca (como infarto) e lesão muscular esquelética, contribuindo para uma interpretação mais precisa do exame.
CK index = (CK‑MB / CK total) × 100.
Interpretação do CK Index (Índice CK-MB):
Inferior a 5%: Sugere baixa probabilidade de lesão cardíaca, indicando que a elevação da CK provavelmente tem origem muscular esquelética.
Entre 6% e 15%: Aponta para uma possível origem cardíaca, sendo compatível com lesão do miocárdio.
Acima de 25%: Sugere a presença de CK-MB macroenzimática (macro CK-MB), uma forma atípica da enzima que pode gerar falsos positivos, dificultando a interpretação clínica do resultado.
CPK-MB x Troponina: qual a diferença?
Embora ambos os exames detectem lesões cardíacas, a troponina é mais específica e sensível para diagnóstico precoce de infarto. No entanto, a CPK-MB ainda é usada para avaliar reinfarto ou monitorar a evolução do quadro.
CPK-MB baixa: tem importância?
A CPK-MB baixa ou normal geralmente indica não haver lesão significativa no coração. No entanto, em casos de infarto recente, a elevação pode ainda não ter ocorrido, especialmente nas primeiras 4 a 6 horas após os sintomas, veja o gráfico abaixo para melhor entendimento.
Grafico evolução dos marcadores cardiacos
Interpretação do Gráfico
Mioglobina (linha azul):
É o primeiro marcador a se elevar, geralmente dentro de 1 a 3 horas após o início da dor torácica. No entanto, sua especificidade para o tecido cardíaco é baixa, pois também é liberada em lesões musculares esqueléticas. Retorna aos níveis normais em 24 a 36 horas.CK-MB (linha laranja):
Aparece entre 4 a 6 horas após o infarto, atinge o pico por volta de 24 a 36 horas e retorna ao normal em 2 a 3 dias. É mais específica para o miocárdio do que a mioglobina, sendo útil especialmente para detectar reinfarto.Troponina (linha cinza):
É o marcador mais sensível e específico para lesão miocárdica. Eleva-se após 4 a 6 horas do evento, pico em 10 a 24 horas e pode permanecer elevado por até 10 dias e é o principal parâmetro utilizado atualmente para confirmar IAM.
Importância Clínica
A análise conjunta desses biomarcadores permite:
Confirmar ou excluir o diagnóstico de infarto.
Estimar o momento do evento isquêmico.
Monitorar possíveis reinfartos (com CK-MB).
Avaliar a extensão da lesão cardíaca (com troponina quantitativa).
Esse gráfico é uma ferramenta didática essencial para profissionais da saúde compreenderem o comportamento temporal dos marcadores cardíacos, contribuindo para diagnósticos mais precisos e intervenções terapêuticas eficazes.
Exame CPK-MB preço
O valor do exame pode variar bastante conforme a região e o laboratório. Veja uma estimativa média:
Local | Preço Médio (R$) |
---|---|
Laboratórios particulares | R$ 40 a R$ 100 |
Hospitais | R$ 60 a R$ 120 |
Convênios / SUS | Geralmente gratuito |
Dica: Alguns laboratórios oferecem testes de CPK-MB em pacotes cardíacos, o que pode reduzir o custo.
Como se preparar para o exame?
Informe o laboratório sobre uso de medicamentos (como estatinas e anticoagulantes)
Evite exercícios físicos intensos antes do exame (eles podem elevar a CPK total)
Siga as orientações específicas do laboratório, especialmente se fizer parte de um check-up cardíaco completo
Resultados alterados: o que fazer?
Se o exame indicar CPK-MB alterada, procure seu médico ou cardiologista. A interpretação depende do:
Tempo dos sintomas
Associação com outros exames (como troponina e ECG)
Condições clínicas do paciente
⚠️ Jamais se automedique ou tire conclusões sem orientação médica. O diagnóstico correto depende de uma avaliação completa.
Conclusão
O exame CPK-MB é uma ferramenta valiosa para a avaliação de lesões cardíacas, especialmente em casos suspeitos de infarto. Saber interpretar seus valores, entender as causas de alteração e agir com rapidez são passos fundamentais para garantir um diagnóstico precoce e eficaz.
Se o seu exame indicou CPK-MB alto ou alterado, procure imediatamente um médico para avaliação. A interpretação correta depende do contexto clínico e de exames complementares.
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Dúvidas Frequentes
Não, no entanto, sempre siga as orientações específicas fornecidas pelo seu médico ou laboratório.
Em casos de suspeita de infarto agudo, a CPK-MB pode ser repetida a cada 4 a 8 horas, até 3 vezes, para avaliar a curva de liberação da enzima. Isso ajuda a identificar a lesão miocárdica em evolução ou resolução.
Doenças como polimiosite, dermatomiosite, rabdomiólise, distrofias musculares, hipotireoidismo, e até crises convulsivas podem causar aumento da CPK-MB sem envolvimento cardíaco.
A CPK total mede a soma de todas as frações da creatina quinase (CK-MM, CK-MB e CK-BB). Já a CPK-MB mede especificamente a fração MB, mais associada ao músculo cardíaco. Portanto, a CPK-MB é mais útil na avaliação de lesão miocárdica, enquanto a CPK total pode refletir lesão muscular geral.
Lincoln Soledade, – Biomédico CRBM 41556/ES. Mestrando em Gestão em Saúde Pública. Especialista em Patologia Clínica e pós-graduado em Estética Avançada, atua desde 2018 na área de diagnóstico clínico hospitalar. Ao longo de sua trajetória, tem se dedicado à aplicação rigorosa do conhecimento científico para promover diagnósticos precisos, contribuindo significativamente para a qualidade do cuidado em saúde.